Moradores do Complexo da Penha enfrentam tragédia
Na madrugada desta quarta-feira (29), moradores do Complexo da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, passaram horas em áreas de mata identificando e carregando corpos deixados após a violência da véspera. Os corpos foram levados para a Praça São Lucas, na Penha, para que as famílias pudessem reconhecê-los.
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Estudantes das escolas da região estão sem aulas, às vésperas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Enquanto isso, famílias buscam informações sobre seus parentes no Instituto Médico Legal (IML) e no prédio do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), onde ocorrem as identificações das vítimas.
Impacto da violência na comunidade
Carlos Nhanga, coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado, descreveu o cenário como “morte, terror e impacto mental”. Ele criticou a normalização da violência, questionando como crianças e adolescentes podem conviver com a visão de 60 corpos expostos em uma praça. “Isso é o retrato da política de segurança pública do Rio de Janeiro”, afirmou.
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Nhanga destacou que as forças policiais são um dos motores da violência armada no estado. Um terço dos tiroteios mapeados no Grande Rio envolve a atuação policial, e mais da metade das mortes por armas de fogo monitoradas ocorreram durante operações da polícia.
Ele criticou a lógica das operações, que priorizam mortes e apreensões em vez de atender às necessidades da população.
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Demandas por responsabilidade e mudança
O especialista classificou a ação como uma “chacina” e a maior mancha de sangue da história do Rio de Janeiro, exigindo explicações do governo estadual sobre as vítimas e os corpos que não receberam socorro. “As famílias estão no IML, na porta de hospitais e no Detran em busca de respostas”, ressaltou.
Nhanga lembrou que, historicamente, operações desse tipo não trazem resultados positivos, apenas perpetuam a violência. Ele citou que o Comando Vermelho (CV), alvo da operação, continua atuando nas mesmas áreas. O coordenador defendeu a necessidade de um modelo de segurança pública que priorize a vida das pessoas, enfatizando que isso requer vontade política.
Ele exemplificou que operações bem-sucedidas podem enfraquecer facções sem causar tragédias, ressaltando a urgência de repensar as abordagens de segurança no estado.
