A população do distrito de Águas Claras, em Viamão, na região Metropolitana de Porto Alegre, está organizada contra a instalação de poços artesianos pela empresa Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), atualmente sob administração da Aegea. A principal preocupação da comunidade se refere à possibilidade de captação em larga escala da água subterrânea local para o fornecimento a outros municípios da região, como Canoas, Alvorada e a capital Porto Alegre.

A iniciativa é organizada pela Associação de Moradores de Águas Claras e conta com o apoio de organizações ambientais e moradores da região. Sob o nome “Pela Manutenção Sustentável da Água em Águas Claras”, a mobilização prepara uma manifestação para o dia 19 de julho, às margens da BR-040, principal rodovia de acesso ao distrito. O evento foi anunciado como pacífico e incluirá faixas, cartazes, caminhadas e sistema de som.

Projeto prevê a remoção de milhões de litros por dia.

De acordo com informações fornecidas por vizinhos, a proposta da empresa implica a remoção de entre 47,5 e 77,7 milhões de litros de água por dia, o que representa até 25 vezes o consumo diário do distrito, estimado em cerca de 3 milhões de litros para uma população de aproximadamente 20 mil habitantes.

O presidente da Associação de Moradores de Águas Claras, Omar Fraga, teme que a medida comprometa o abastecimento local. “Costumamos perfurar nossos próprios poços, utilizando nossos próprios recursos. A água aqui é nossa e sempre foi cuidada pela comunidade”, declara.

Ameaças ambientais são destacadas.

A população e ativistas ambientais também alertam sobre os possíveis impactos em ecossistemas da região, incluindo os manguezais de Pacheco, Chico Lomão, Gravataí e Lombadas. Esses ambientes são considerados frágeis e cruciais para a conservação da biodiversidade local.

Leia também:

A força da organização nas favelas: Heliópolis luta por políticas públicas e direitos sociais

Carolina Panis critica operação letal no Rio e defende políticas de inteligência para segurança

Nível do Cantareira em 23,4% é alarmante e pior que antes da seca histórica de 2014 em SP

O vereador Marco Antônio Borrega (PDT) reforça a necessidade de cautela: “O aquífero não é infinito. Se a retirada for em volume elevado, haverá impacto nas nascentes, nos poços existentes e na fauna dos banhados. Isso precisa ser debatido com dados técnicos e participação da população”.

A concessão à iniciativa privada gera críticas.

A outra fonte de insatisfação entre os moradores é o modelo de concessão por meio da iniciativa privada. Atualmente, diversas famílias utilizam água de poços próprios e não arcam com o serviço. A possível transição para um sistema tarifado causa resistência.

Se isso acontecer, além de perdermos a água, também poderemos ter que arcar com custos que sempre foram de uso livre da comunidade, afirma Fraga, ressaltando que os moradores não foram consultados.

A ambientalista Iliete Citadin, residente da região e uma das organizadoras do protesto, também se manifesta contrária à iniciativa. “Estão propondo a retirada de água perto de áreas sensíveis como a Colônia das Lambas. A população é contra e irá se manifestar. Essa água é nossa e precisamos defendê-la.”

Mobilização propõe alternativas e participação popular.

A comunidade pretende entrar em contato com o Ministério Público e obter suporte de universidades, organizações da sociedade civil e membros do Legislativo. O objetivo é que o assunto seja discutido de forma técnica e com respeito ao direito da população de decidir sobre os recursos naturais da região.

As Águas Claras já no nome: aqui, a água é um bem precioso, reforça Fraga. Não podemos permitir que seja explorada sem pensar nas futuras gerações.

O Brasil de Fato contatou a empresa Corsan acerca das denúncias e, até o encerramento da matéria, não houve resposta. O espaço permanece aberto para manifestações.

Fonte por: Brasil de Fato