Milhares protestam na Avenida Paulista contra ‘cláusula da impunidade’: “Dia histórico”
Propostas polêmicas no Congresso mobilizam forças progressistas enquanto manifestações em massa no Brasil marcam o retorno às ruas.
Protestos em Massa Contra Medidas Controvertidas no Congresso
A manifestação começou antes do previsto, com Paulista Avenue, o principal boulevard de São Paulo, já lotada no domingo (15). No início da tarde, multidões se reuniram nas ruas ao redor do Museu de Arte de São Paulo (MASP), carregando bandeiras, tambores e cantos contra duas medidas polêmicas em discussão no Congresso: uma emenda constitucional que protegeria parlamentares de investigações, conhecida como a “Emenda da Impunidade”, e um projeto de lei que poderia reduzir penas ou até mesmo anistiá-los envolvidos no ataque de 8 de janeiro de 2023.
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Mobilização em Massa
A chuva forte que caiu no meio da tarde não conseguiu dispersar os manifestantes. Organizadores estimaram que centenas de milhares de pessoas se reuniram em São Paulo, enquanto protestos eclodiram em pelo menos 19 capitais de estado em todo o país. Para muitos, foi a maior mobilização progressista desde o retorno da democracia nos anos 80.
“A primavera brasileira da luta”
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Líderes dos movimentos populares brasileiros consideraram o dia um ponto de inflexão. “Este é o começo da primavera da luta do povo brasileiro”, declarou Gilmar Mauro, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Ao final do dia, seremos capazes de dizer que milhões foram às ruas contra a anistia para golpistas, contra a Emenda da Impunidade e para trazer as demandas dos trabalhadores de volta ao debate nacional.”
O deputado federal Guilherme Boulos ecoou o sentimento: “Hoje é um dia histórico. A esquerda brasileira retomou as ruas. E agora as coisas estão claras: há dois projetos em disputa. Nosso diz que a política deve servir às pessoas, e não o contrário.”
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Diversidade e Expressão
O evento foi colorido e diverso. Ao lado de bandeiras de partidos e sindicatos, cartazes caseiros denunciaram a corrupção no Congresso, lembraram vítimas de leis de anistia da ditadura e criticaram o retrocesso ambiental.
“Vozes da multidão”
Na avenida, os participantes compartilharam sua raiva e frustração. “Lutamos tanto por uma Constituição que respeitasse os direitos das pessoas, e agora esses parlamentares só se importam em proteger a si mesmos”, disse a advogada Glaucia Avellar. “Os políticos temem as pessoas nas ruas. É por isso que eu vim.”
A trabalhadora do setor público Valéria Ferreira alertou sobre o risco de repetir a história: “A anistia é uma vergonha. O recente passado do Brasil mostra que não funciona. Sempre volta. Muitos dos que pedem anistia hoje apoiaram a ditadura décadas atrás.”
A indignação popular não se concentrou apenas na impunidade, mas também no legado da ditadura. A proposta de anistia reviveu memórias da Lei de Anistia de 1979, que perdoou torturadores e funcionários do regime, e, aos olhos de muitos, abriu caminho para a ascensão de Bolsonaro.
Mensagem para o Congresso
Os protestos enviaram um forte sinal para o Congresso. O deputado federal Sâmia Bomfim declarou: “Depois de hoje, a Emenda da Impunidade será enterrada”. No Senado, o relator Alessandro Vieira já prometeu recomendar a rejeição, chamando a proposta de uma ameaça à democracia brasileira.
A mesma mensagem se aplicou ao projeto de anistia. “Aqueles que atacaram nossa democracia não serão perdoados”, disse a deputada federal de esquerda Erika Hilton. “Pela primeira vez, o Brasil tem a chance de romper com sua história de dor e desigualdade, marcada pela impunidade para golpistas.”
Ela falou diretamente com o ex-presidente: “Bolsonaro, você vai para a cadeia. As pessoas que carregam este país nas costas não querem anistia, não querem impunidade. Eles querem comida, salários, descanso, igualdade.”
Música e Memória
À medida que Paulista Avenue começava a esvaziar, a música preencheu as ruas do Rio de Janeiro. Na Praia de Copacabana, Caetano Veloso liderou um protesto ao lado de Gilberto Gil, Chico Buarque, Djavan, e outros ícones da música brasileira. As performances evocaram o espírito da Marcha dos 100 Mil na luta contra a ditadura de 1968. “Já vivenciamos momentos como este antes”, disse Gil. “Este é um desses momentos novamente.”
Em Salvador, a cantora Daniela Mercury e o ator Wagner Moura dançaram em cima de uma lona sonora antes de uma multidão que preencheu a orla do Morro do Cristo. Moura disse aos manifestantes: “Sem anistia. Foi essa lei de anistia, em um país que insulta sua própria memória, que nos deu Bolsonaro. Isso não pode acontecer novamente.”
Ao final do dia, protestos foram registrados em pelo menos 19 capitais de estado. De São Paulo a Rio, de Salvador à Amazônia, a mensagem era a mesma: sem impunidade, sem anistia e sem retorno aos dias da ditadura.
Autor(a):
Marcos Oliveira
Marcos Oliveira é um veterano na cobertura política, com mais de 15 anos de atuação em veículos renomados. Formado pela Universidade de Brasília, ele se especializou em análise política e jornalismo investigativo. Marcos é reconhecido por suas reportagens incisivas e comprometidas com a verdade.












