Matthieu Blazy revela visão inovadora para a icônica Chanel em desfile que finaliza Semana de Moda de Paris no Grand Palais.
Após um mês de apresentações de designers – mais de uma dúzia durante as semanas de moda em Londres, Milão e Nova York – coube ao novo diretor artístico da Chanel, Matthieu Blazy, apresentar sua visão para o futuro de uma das casas mais históricas da moda.
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Encerrando a Semana de Moda de Paris na noite de segunda-feira (6), a aguardada revelação da coleção foi realizada onde a Chanel frequentemente apresenta seus desfiles desde 2007: o histórico Grand Palais, que recentemente passou por uma restauração multimilionária de US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,7 bilhões).
O cenário não era apenas um novo mundo, mas um sistema solar inteiro. Enormes planetas luminosos pendiam do teto; outros foram instalados ao nível do solo, pontuando o reluzente piso preto do local. Estrelas como Margot Robbie, Penélope Cruz e Pedro Pascal ocupavam a primeira fila, assim como as recém-nomeadas embaixadoras da marca Ayo Edebiri e Nicole Kidman — um retorno para Kidman, que já foi o rosto do perfume Chanel Nº 5.
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O impressionante edifício com cúpula de vidro está localizado a menos de um quilômetro da primeira casa de alta-costura de Gabrielle “Coco” Chanel na Rue Cambon, um endereço histórico de Paris que a empresa ainda ocupa. Como tributo, a entrada principal do Grand Palais agora ostenta o nome da Chanel, esculpido em pedra — um gesto simbólico que sem dúvida fez parte do acordo quando a marca contribuiu com cerca de 25 milhões de euros (US$ 29 milhões) para o projeto de restauração.
É impossível saber o que Coco teria achado do desfile da noite passada. Mas é divertido especular. Será que ela teria apreciado as referências a algumas de suas primeiras marcas registradas — como uma clássica jaqueta de tweed preta ornamentada com camélias brancas, sua flor favorita — ou teria dito a Blazy para esquecer completamente o passado? Ela era uma vendedora astuta, notoriamente franca e frequentemente desdenhosa da nostalgia. “A moda deve morrer e morrer rapidamente, para que o comércio possa sobreviver”, ela disse certa vez. “Quanto mais transitória for a moda, mais perfeita ela é”.
“Não se pode proteger aquilo que já está morto.” Seguindo essa lógica, e com Chanel e seu famoso sucessor Karl Lagerfeld (que compartilhava um desdém similar pela nostalgia) já falecidos, Blazy tem liberdade criativa para levar a casa em uma direção totalmente nova, algo que sua antecessora imediata Virginie Viard não tentou durante seu mandato comparativamente curto.
Sua abordagem contrastava fortemente com a de Lagerfeld, cuja imagem se tornou possivelmente mais onipresente que o logotipo de duplo C entrelaçado da Chanel durante seus 36 anos de reinado. Ele foi amplamente creditado por despertar a Chanel de um período de sonolência após a morte de sua fundadora, transformando a marca na potência que é hoje.
O falecido estilista alemão também era um showman que se deleitava com a atenção que seu característico rabo de cavalo branco, gravata preta, luvas e óculos escuros atraíam. Em contraste, Blazy apresenta uma figura notavelmente menos reconhecível — embora seu estilo pessoal discreto de jeans e camiseta, e seu perfil público reservado, não devam ser subestimados.
Tendo ascendido na indústria da moda trabalhando para alguns de seus designers mais respeitados, incluindo Raf Simmons e Phoebe Philo, Blazy ocupou cargos nos estúdios de design da Maison Margiela, Celine e Calvin Klein. Em 2021, tornou-se diretor criativo da casa italiana Bottega Veneta, onde desfrutou de uma curta mas muito positiva passagem pela marca do grupo Kering.
Assumindo o comando criativo da Chanel como apenas o quarto diretor artístico a liderar a casa, Blazy foi incumbido de um dos maiores e mais cobiçados — embora talvez não o mais desafiador — trabalhos da moda. O designer franco-belga de 41 anos ingressou em uma das poucas casas de moda de luxo de propriedade privada da atualidade. Com aproximadamente US$ 20 bilhões (cerca de R$ 105 bilhões) em receita anual, a Chanel é uma das marcas de luxo mais poderosas do mundo.
Diferentemente das marcas que operam dentro de conglomerados como LVMH e Kering (que são obrigadas a divulgar resultados financeiros trimestrais), a empresa pode trabalhar em seu futuro com um pouco mais de privacidade.
Mas esta estreia estava longe de ser uma introdução suave. Na verdade, em uma entrevista exclusiva ao Business of Fashion, publicada na segunda-feira, Blazy disse que desenhou a nova coleção como se fosse sua última. O desfile Primavera-Verão 2026 abriu com um terno, o blazer cortado na cintura e as mangas dobradas. A descontração do terno foi um sutil precursor do que estava por vir — uma coleção repleta de movimento. Em determinado momento, o hino dos anos 90 “Rhythm is a Dancer” começou a tocar, a energizante faixa de dança dando vida às roupas enquanto elas serpenteavam, balançavam e saltitavam pela passarela. As bordas eram desfiadas e cruas, expressando suavidade ou, talvez, um descuido juvenil: até mesmo as bolsas estavam amassadas e meio abertas, como se seu conteúdo estivesse prestes a se espalhar pelo chão.
Referências aos códigos clássicos da Chanel foram vistas por toda parte, embora modernizadas — os casacos de tweed bouclê estavam mais leves, com silhuetas mais suaves. O conjunto final, uma saia volumosa e colorida que parecia ter sido feita com uma combinação de flores desfiadas e plumas, combinada com uma simples camiseta de seda, era alegre e frenético — assim como a plateia, que deu a Blazy uma ovação de pé quando ele saiu para seu primeiro agradecimento pela Chanel.
Blazy é um estilista frequentemente elogiado por colocar o artesanato no centro de sua prática de design, e o desfile desta noite foi mais uma demonstração disso. Apesar de todas as potenciais distrações e do alvoroço — o burburinho da estreia, o cenário dramático e a primeira fila repleta de celebridades — as roupas foram, sem dúvida, o ponto central do evento.
Autor(a):
Ana Carolina é engenheira de software e jornalista especializada em tecnologia. Ela traduz conceitos complexos em conteúdos acessíveis e instigantes. Ana também cobre tendências em startups, inteligência artificial e segurança cibernética, unindo seu amor pela escrita e pelo mundo digital.