Matinas Suzuki Jr., aos 71 anos, lançou sua editora em junho de 2025, com a publicação de três títulos sobre jornalismo: “Vietnã do Norte”, de Antonio Callado, “Cale-se”, de Caio Túlio Costa, e “O jornalismo como gênero literário”, de Alceu Amoroso Lima.
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Os livros são lançados quando esgotados e fora de catádas editoras, disponibilizados ao leitor através do sistema POD (print on demand). O cliente realiza o pedido, a empresa produz uma única cópia e envia o livro para o endereço do comprador.
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A oferta inicial de livros concentra-se no jornalismo, porém os temas serão diversificados ao longo do tempo. “Além de assegurar a qualidade do nosso acervo, enfrentaremos o desafio da divulgação, uma vez que o POD é uma atividade nova”, afirma o fundador da casa matinas.
Suzuki Jr. comentou, por meio do jornal Folha de S.Paulo, do programa Roda Viva, da editora Abril, do portal IG e da Companhia das Letras, sobre a iniciativa, o panorama do mercado editorial brasileiro e os efeitos das plataformas digitais no setor.
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Poder360: Qual o motivo da seleção desses três títulos para o lançamento da editora?
A obra “Vietnã do Norte” de Antonio Callado retorna à publicação no cinquentenário do fim da Guerra do Vietnã, uma das grandes epopeias dos tempos modernos, em que um país pobre e pequeno derrotou o maior exército da história. Callado foi um dos poucos jornalistas do mundo que conseguiu entrar no Vietnã do Norte, que era altamente fechado.
“Cale-se” de Caio Túlio Costa é uma reportagem aprofundada de um momento crítico da história de São Paulo, em 1973, quando a repressão da ditadura militar se mostrou excessivamente violenta, resultando em sequestros e torturas de estudantes e na morte de um deles, Alexandre Vanucchi Leme; nesse período, Chico Buarque e Gilberto Gil criaram a canção “Cálice”, que seria apresentada em São Paulo, mas foi proibida de ser divulgada em seguida, e Gil a executou em um show notável para os alunos da Universidade de São Paulo.
O livro “O jornalismo como gênero literário”, de Alceu Amoroso Lima, lançado originalmente em 1958, é um dos trabalhos mais relevantes já publicados sobre o jornalismo literário.
O critério de seleção das obras foi unicamente: livros relevantes de jornalismo que se encontram esgotados e fora do catádas editoras.
Onde os livros são vendidos? Por quanto tempo permanecem no catáda editora?
Os livros estão disponíveis no site da Casa Matinas, sendo que as vendas e a entrega são realizadas pela UmLivro, nossa parceira. Os livros também podem ser encontrados em todos os sites de e-commerce de livros do Brasil.
Nossos livros são lançados em duas versões: brochura e capa dura. Essa opção diferenciada é possibilitada pelo sistema de Publicação sob Demanda.
Temos contratos com os autores de duração limitada, que, caso não estejam satisfeitos com o serviço da equipe noturna, poderão buscar o caminho mais adequado para eles.
Qual o valor dos livros disponíveis?
Atualmente, os preços em livrarias populares são mais competitivos, e o preço de capa dos livros da editora Matinas são bastante atrativos: “Vietnã do Norte”: R$ 54,99; “Cale-se”: R$ 67,99; “O jornalismo com gênero literário”: R$ 34,99.
Quais livros já estão previstos para o futuro?
Analisaremos também a obra de Antonio Callado – um escritor cuja trajetória cruza constantemente o jornalismo com a literatura, seja por meio de romances que têm inspiração em fatos jornalísticos, seja por reportagens escritas com linguagem simples de alta qualificação literária –, a série de reportagens que ele fez para o Correio da Manhã durante o primeiro e breve governo de Miguel Arraes (1963-64), o maior avanço em termos sociais que um Estado brasileiro já viveu –, incluindo o trabalho na educação de Paulo Freire. Também revisaremos o livro “Um tipógrafo na Colônia”, do jornalista Leão Serva, sobre a primeira tipografia privada do Brasil, que operava em Salvador e que editou o primeiro jornal privado no país, o “Idade D’Ouro do Brasil”. Curiosamente, o proprietário da tipografia, o português Leão Serva, é antepassado do autor.
Qual será o ritmo das publicações da editora?
Nosso projeto editará 4 títulos por mês.
Quanto tempo leva para a encomenda do livro ser entregue?
Após a compra, a UmLivro necessita de 48 horas para produzir o item. A partir desse momento, o prazo para a entrega do livro depende da logística. Considerando que a UmLivro opera em Cotia, cidade próxima a São Paulo, as entregas para os moradores da capital paulista são bastante rápidas.
Quanto da receita de capa é destinado ao autor?
Os contratos de publicação no regime de POD utilizam a modalidade de preço líquido, o que se distingue da maioria dos contratos do mercado editorial, que empregam o preço de capa.
A casa matinas visa operar com despesas operacionais e editoriais modestas, possibilitando uma porcentagem de participação maior para o autor.
Qual será o relacionamento com as editoras originais dos autores?
Não há remuneração para editoras de livros que já não estejam em contrato. Além disso, nossos livros são republicados.
Valorizamos o trabalho das editoras e respeitamos os contratos que elas possuem com os autores. Somente editaremos livros que não estejam no catádas editoras e que possuam autorização dos detentores dos direitos autorais.
As obras de domínio público terão seus valores de direitos autorais destinados a bibliotecas públicas ou instituições que promovam o incentivo à leitura.
Quais foram os seus principais motivos para lançar a editora de print on demand?
O POD oferece a chance de republicar essas obras jornalísticas que deixaram de ser comercializadas, e foi isso que me motivou a trabalhar com a impressão sob demanda. Nós denominamos essas obras de “livros indispensáveis”.
Outro fator relevante que me incentivou foi que o print on demand se mostra mais adequado à preservação ambiental, evitando o grande desperdício de papel e a emissão de gases na impressão, que é realizada com tinta à base de água, e na distribuição dos livros, que no Brasil é toda feita utilizando combustíveis fósseis.
Quais foram os principais obstáculos enfrentados pela casa matriz para lançar seus primeiros trabalhos?
Dada que a maioria dos autores com quem trabalharemos já faleceu, uma das maiores dificuldades em muitos casos é descobrir que são os detentores dos direitos autorais para autorização de reedições.
Quais são os desafios atualmente?
Ademais, enfrentaremos o desafio da divulgação, visto que o livro de publicações por ordem de impressão (POD) é uma atividade recente, pouco conhecida, e não há uma cultura de promover e divulgar sistematicamente os livros de catá.
Como se avalia o mercado editorial brasileiro atual? Quais aspectos positivos se destacam? E quais são os principais obstáculos?
O mercado brasileiro apresentou grande evolução em diversos aspectos, incluindo a qualidade dos autores, a edição dos livros, as traduções, a adequação dos conteúdos aos temas relevantes do momento, o design das capas e projetos gráficos, bem como a divulgação e comercialização das obras.
Atualmente, devido ao comércio eletrônico, é possível adquirir livros em qualquer parte do país — eu, que cresci em uma cidade sem livrarias nas décadas de 1950 e 1960, sei o quão relevante isso é. É notável também a quantidade de novas editoras e como elas já surgem com maturidade editorial, e o aumento de festivais literários e bienais de livros. Paralelamente, o público leitor também se tornou mais sofisticado, é mais exigente e bem diversificado.
O principal desafio para as editoras é o aumento crescente dos custos e a pressão sobre as margens decorrente de um alto custo de distribuição e comercialização dos livros.
Charles Cosac declarou, em entrevista ao Poder360, que venderia livros unicamente pela Amazon. Qual sua avaliação sobre o desempenho das grandes empresas de tecnologia no setor editorial?
Não posso responder pelo que outros editores pensam, mas, como em toda área tecnológica, existem aspectos relevantes e aspectos que suscitam preocupação. Atualmente, a promoção de livros depende significativamente do poder das redes sociais das grandes empresas de tecnologia.
Diante das dimensões do Brasil, com a limitada oferta de livrarias físicas e os elevados custos de logística, a chegada da Amazon representou um marco para atender um volume maior de clientes distribuídos pelo território, expandindo significativamente o mercado. Ademais, a Amazon introduziu uma variedade de ferramentas de inteligência de mercado que otimizam as vendas de livros, tanto para editoras quanto para livrarias concorrentes, que aprenderam muito com ela nos últimos anos.
No entanto, as empresas de tecnologia operam sob lógica monopolista e a concentração das vendas em um único fornecedor não é ideal.
Fonte por: Poder 360