Mapeamentos de cursos d’água, realizados ao longo de três décadas, indicam transformações preocupantes
Pesquisadores identificaram mudanças alarmantes em um estudo realizado no ano anterior.
Uma nova análise abrangente revela que os quase 3 milhões de rios que atravessam o planeta estão mudando de forma de maneira mais rápida e desigual do que se previa, com sérias implicações para o fornecimento de água potável, ecossistemas, navegação e risco de inundações.
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Pesquisadores empregaram dados de satélite aliados à modelagem computacional para reconstruir o fluxo diário de água de todos os rios do planeta nos últimos 35 anos. O cenário global resultante foi alarmante.
Quase metade (44%) dos maiores rios em regiões de jusante está transportando menos água a cada ano, de acordo com um estudo publicado em dezembro de 2024 na revista Science.
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Conforme apontou Dongmei Feng, autora principal do estudo e professora de hidrologia na Universidade de Cincinnati, sistemas como o Congo (o segundo maior rio da África), o Yangtzé, na China, e a bacia do Rio da Prata, na América do Sul, registraram quedas significativas.
Os pequenos rios de nascente narram outro relato: em áreas predominantemente montanhosas, 17% exibiram elevação no fluxo.
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A pesquisa não investigou as origens dessas transformações, mas os autores indicam que os elementos centrais são a ação humana e a crise climática provocada pelos combustíveis fósseis, que estão modificando os regimes de precipitação e intensificando o degelo das geleiras.
Colin Gleason, coautor do estudo e professor de engenharia civil e ambiental na Universidade de Massachusetts Amherst, declarou que pesquisas anteriores se concentravam unicamente nos rios mais extensos, gerando resultados restritos a áreas e épocas determinadas.
As metodologias empregadas nesta pesquisa possibilitaram analisar “tudo em todos os lugares simultaneamente”, afirmou ele à CNN. Apesar disso ainda não proporcionar a precisão local de outros trabalhos, “acreditamos que este talvez seja o mapa mais preciso do fluxo dos rios já feito”, declarou.
A conclusão de Gleason: “Meu Deus, os rios do mundo são bem diferentes do que imaginávamos”. Alguns estão mudando 5% ou até 10% ao ano, apontou o relatório. “Essa é uma mudança muito, muito rápida”, acrescentou.
“Os rios são como os vasos sanguíneos da Terra” e alterações em seu fluxo têm efeitos profundos, afirmou Feng.
Quedas acentuadas no fluxo de rios em sua porção final diminuem a quantidade de água disponível nas áreas mais extensas de diversos rios do mundo, indica o estudo. Isso resulta em menor oferta de água doce para consumo humano, irrigação de plantações e criação de animais.
Diminuições na velocidade também diminuem a habilidade dos rios de transportar sedimentos – provenientes de terra e pequenas rochas. Isso acarreta consequências sérias, uma vez que esses sedimentos são cruciais para a formação de deltas, que proporcionam proteção natural contra a elevação do nível do mar.
Em rios pequenos, o aumento do derretimento de gelo e neve, consequência do aquecimento global, pode gerar fluxos mais rápidos que apresentam benefícios, tais como a oferta de nutrientes para os peixes e a facilitação de sua migração.
Existe um problema. O aumento da velocidade da água pode causar uma surpresa indesejada nos planos de hidrelétricas em regiões como o Himalaia, já que mais sedimento é transportado rio abaixo, podendo entupir a infraestrutura.
O aumento da velocidade também pode intensificar inundações. A pesquisa apontou um incremento de 42% em grandes enchentes nos rios de montanha durante os 35 anos estudados. Gleason mencionou Vermont, que experimentou inundações severas nas últimas estações quentes, devido a fatores como as mudanças climáticas – que estão elevando a intensidade das chuvas – e da intervenção humana no curso natural dos rios.
Hannah Cloke, professora de hidrologia na Universidade de Reading, que não participou do estudo, afirmou que o escopo amplo da pesquisa, incluindo os menores rios, é fundamental.
“Algumas das inundações mais mortais não ocorrem necessariamente nos grandes rios que você imaginaria”, disse ela à CNN. “Em vez disso, estão ligadas a rios pequenos ou mesmo a cursos d’água que costumam estar secos, mas que, de repente, se enchem e arrastam pessoas, carros e edifícios.”
O passo seguinte é compreender precisamente o motivo pelo qual esses fluxos estão mudando com tanta velocidade e como lidar com isso.
A atividade humana estabelece uma ligação direta com as transformações no ciclo da água – essencial para a vida”, declarou Cloke. Proteger os rios implica reduzir significativamente o consumo de combustíveis fósseis, adaptar-se às mudanças já em curso e enfrentar os impactos indiretos das ações humanas, como a modificação de leitos fluviais e a construção em áreas de várzea, complementou.
“Os rios são criaturas dinâmicas e belas”, afirmou Cloke, “e os seres humanos nunca deveriam subestimá-los ou desperdiçar os recursos que eles nos fornecem.”
Estudos indicam que as alterações climáticas impactam as espécies de peixes de água doce.
Fonte por: CNN Brasil
Autor(a):
Sofia Martins
Com uma carreira que começou como stylist, Sofia Martins traz uma perspectiva única para a cobertura de moda. Seus textos combinam análise de tendências, dicas práticas e reflexões sobre a relação entre estilo e sociedade contemporânea.












