Lula afirma não ter conversado com Trump e que não pretendia compartilhar piadas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que não conversou com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Partido Republicano), e que não tem intenção de telefonar para discutir a taxa de 50% aplicada pelo republicano a produtos brasileiros.

O petista afirmou ao “Jornal Nacional”, da TV Globo, que só entrará em contato “quando houver necessidade” e criticou como Trump comunicou a medida “por meio de publicação na rede social Truth Social”. Segundo Lula, “dois presidentes não ficam ligando para contar piadas”.

Leia abaixo a íntegra da pergunta e da resposta de Lula.

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Jornalista: Qual o motivo pelo qual o seu governo não realizou nenhum movimento para estabelecer contato direto e mais próximo com o governo do nosso segundo maior parceiro comercial?

Lula: Inicialmente, enviei uma carta oferecendo meus parabéns pela vitória do Trump. Não preciso conversar com o Trump até o momento, não existe justificativa. Imaginei encontrar com o Trump no G7, mas ao chegarmos, ele já havia partido. Quando houver necessidade de conversar com Trump, não tenho problema de ligar para ele, como já liguei para Bill Clinton, George W. Bush, Barack Obama e Joe Biden. Atualmente, dois presidentes não ficam ligando para contar piadas. Ele poderia ter ligado para o Brasil para avisar da medida que iria tomar, mas não enviou carta alguma, publicou no site, um total desrespeito. Eu não sou obrigado a aceitar esse tipo de comportamento. Educação é bom e a gente gosta de receber e dar. E o Brasil quer ser bem tratado. Quando eu tiver um assunto sério para tratar com os Estados Unidos, eu não terei nenhum problema de pegar o telefone e ligar para a Casa Branca pedindo para conversar com o presidente Trump. Por enquanto, eu não tenho.

Lula é um dos poucos líderes globais que nunca teve contato direto com Trump. Por exemplo, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, que também é de esquerda, manteve contato com o republicano para negociar uma solução para as tarifas impostas ao país.

Ademais, em abril de 2025, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, declarou em comissão na Câmara que não conversara com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, desde a posse de Trump, em 2025.

Na quinta-feira (10.jul), Lula classificou a carta de Trump como uma “desaforada” e criticizou o que ele considera ser uma interferência do norte-americano na soberania e na Justiça do Brasil.

Considero um desrespeito grave que um cidadão, presidente de um país importante como os Estados Unidos, envie uma carta para mim, divulgada na internet, acusando-me de caça às bruxas contra um ex-presidente [Jair Bolsonaro, PL] que teria tentado dar um golpe neste país. Ele não tentou dar um golpe, ele tentou preparar a minha morte. Se ele tiver razão, será absolvido; se não, será condenado, e se condenado, será preso.

Lula considerou ineficaz a justificativa do aumento tarifário. Ele reiterou que os Estados Unidos apresentam superávit na relação bilateral e assegurou utilizar a Lei da Reciprocidade Econômica a partir de 1º de agosto, caso as tarifas permaneçam elevadas.

O petista afirmou que o país deseja “comércio mais livre”, citando o BRICS. Segundo ele, o bloco não quer precisar do dólar, já que “não temos a máquina de rodar dólar, só os Estados Unidos que têm”.

A entrevista na Record.

Lula reiterou para a TV Globo todas as declarações já feitas à Record. A emissora de Edir Macedo exibiu a entrevista no “Jornal da Record”, que inicia às 19h55, antecedendo o “Jornal Nacional” (às 20h30).

O petista declarou que não está obrigado a adquirir dólar para transações com outros países do Brics e reiterou o interesse do bloco na criação de uma moeda alternativa fora dos Estados Unidos para o comércio internacional.

Lula recordou na Record que Trump ameaçou taxar os países do bloco em 10% e ironizou o fato de o norte-americano estar preocupado com a reunião do Brics, sugerindo que poderia convidá-lo para participar do bloco.

Provavelmente, Trump se sentiu apreensivo em relação à reunião do BRICS. É curioso, pois ele não estava presente na reunião do G7, onde apenas Índia, Brasil e África do Sul representaram nossos países, além do México e da Coreia. No G20, os BRICS contam com 10 países que também participam do G20.

Fonte por: Poder 360