Kubuqi: Deserto Chinês se torna polo de energia solar e turismo sustentável

Energia solar impulsiona turismo, mas cientistas preveem riscos climáticos e necessidade de reduzir o uso do carvão.

25/09/2025 10:26

3 min de leitura

(Imagem de reprodução da internet).

Mar de Painéis Solares no Deserto Chinês

Em um deserto no norte da China, um mar de painéis solares azuis cobre a areia e se adapta ao relevo das dunas, como se fossem ondas. A paisagem é resultado de uma rápida transição energética impulsionada pelo governo chinês.

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Aceleração da Transição Energética

Aproximadamente 700 quilômetros de Pequim, centenas de milhares de painéis solares representam a acelerada transição energética da China, o maior emissor mundial de gases de efeito estufa. O presidente chinês, Xi Jinping, comprometeu-se a reduzir as emissões globais do país entre 7% e 10% até 2035 em relação ao ano de maiores emissões, que se estima será 2025.

Instalações Solares e Capacidade Produtiva

Entre 2022 e 2030, as instalações solares nos desertos e áreas áridas terão produzido o triplo da capacidade elétrica de um país como a França, segundo um documento de planejamento. A expansão da energia fotovoltaica nos grandes desertos chineses tem sido notável nos últimos dez anos, conforme confirmado por imagens de satélite analisadas pela AFP.

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Desafios e Adaptações

Em Ordos, no deserto de Kubuqi, visitado por uma equipe da AFP, mais de 100 km² de areia foram cobertos com painéis solares, o que equivale à superfície de cidades como Lisboa ou Paris. No entanto, essa opção apresenta desafios, como tempestades de areia que podem danificar as instalações e temperaturas altas que reduzem sua eficácia. O acúmulo de areia exige uma quantidade considerável de água para limpeza, em uma região já seca.

Para mitigar essas dificuldades, os painéis utilizados em Kubuqi são equipados com ventiladores que se limpam automaticamente e usam uma tecnologia de dupla face que permite captar a luz refletida na areia.

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Turismo e Impactos

A distância entre os desertos e os centros de consumo é outro obstáculo. As centrais solares de Kubuqi têm como objetivo abastecer as longínquas regiões de Pequim, Tianjin ou Hebei. Existe um risco de “congestionamento nas linhas de transmissão”, indica David Fishman, sócio da consultoria Lantau Group. Por isso, várias províncias agora “restringem a aprovação de novos projetos”.

Além disso, o aumento do turismo, impulsionado por vídeos virais de expedições em quadriciclos ou passeios de camelo, tem gerado novas oportunidades de renda para moradores locais, como Chang Yongfei, que antes trabalhava na mineração de carvão e agora oferece hospedagem em chalés com vistas para as dunas.

Controvérsias e Preocupações

Apesar do investimento em energia solar, a China continua a lançar novas capacidades de produção de eletricidade a partir de carvão, conforme relatam o Centro de Pesquisa sobre Energia e Ar Limpo (CREA) e o Global Energy Monitor (GEM). Caminhões manchados pela fuligem e trens carregados de carvão testemunham essa indústria. Alguns pesquisadores, como Zhengyao Lu da Universidade de Lund, expressam preocupações sobre o impacto ambiental, alertando que a absorção de calor por grandes superfícies escuras pode alterar os fluxos atmosféricos e reduzir as chuvas em outras regiões.

Lu defende um “desenvolvimento mais inteligente, localizado e organizado” em vez de simplesmente cobrir a maior área possível com painéis solares, argumentando que os riscos da energia solar são menores do que os perigos das emissões de gases de efeito estufa.

Autor(a):

Ex-jogador de futebol profissional, Pedro Santana trocou os campos pela redação. Hoje, ele escreve análises detalhadas e bastidores de esportes, com um olhar único de quem já viveu o outro lado. Seus textos envolvem os leitores e criam discussões apaixonadas entre fãs.