De acordo com a organização Repórteres Sem Fronteiras, mais de 200 jornalistas perderam a vida na região desde outubro de 2023.
Jornalistas da Agência France-Presse (AFP) na Faixa de Gaza relatam que a cobertura da guerra entre Israel e o Hamas tem se tornado cada vez mais difícil devido à grave escassez de alimentos, chegando a ponto de estarem sem forças “por causa da fome”.
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Jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas palestinos informam sobre a fome severa, a escassez de água potável e o aumento da fadiga física e mental, o que, por vezes, os leva a diminuir a amplitude da cobertura do conflito, iniciado em 7 de outubro de 2023 após o ataque do movimento islamista Hamas contra Israel.
“Não restam mais recursos devido à fome”, declara um deles.
Em junho, a ONU qualificou como uso de fome como arma de guerra a ação de Israel, considerando a prática um crime de guerra, após um número crescente de relatórios alarmantes de organizações não governamentais sobre a desnutrição no território palestino.
O Israel, que mantém Gaza isolada e autoriza a entrada de assistência em volumes restritos, alega que o Hamas instrumentaliza o sofrimento da população civil, desviando auxílio humanitário para vendê-lo a preços elevados ou disparando contra indivíduos que esperam por tal ajuda.
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Contudo, testemunhas e a Defesa Civil do território denunciaram repetidamente as forças israelenses por dispararem contra civis em situação de espera por assistência, e a ONU afirma que o exército matou mais de mil palestinos que buscavam alimentos desde o início de maio.
Bashar Talab, um dos quatro fotógrafos da AFP escolhidos em 2024 para o Prêmio Pulitzer, reside entre os escombros de sua residência em Jabaliya al Nazla, ao norte de Gaza.
O jornalista, de 35 anos, relata: “Tive que interromper diversas vezes meu trabalho para prover comida para minha família. Pela primeira vez, me sinto completamente desanimado.”
Seu colega Omar al Qattaa, também fotógrafo de 35 anos e indicado ao Pulitzer, relata estar exausto.
O Al Qattaa relata que necessita transportar equipamentos pesados e percorrer longas distâncias, já não consegue alcançar os locais a que deveria reportar, devido à falta de energia causada pela fome, dependendo de analgésicos para amenizar as dores nas costas, embora constate que medicamentos básicos não sejam mais encontrados nas farmácias.
Khadr al Zanoun, de 45 anos e residente em Gaza, relata ter perdido 30 quilos desde o início da guerra. O jornalista menciona desmaios, “fadiga extrema” e dificuldade para trabalhar. “Minha família também está no limite das forças.”
O repórter fotográfico Eyad Baba, com 47 anos, que se deslocou do sul de Gaza para Deir al-Balah, no centro do território, onde o Exército israelense lançou nesta semana uma operação terrestre, alugou um abrigo a um preço elevado, com o objetivo de proteger sua família, após deixar um acampamento de refugiados superlotado e insalubre.
“Não suporto mais esta fome, ela está prejudicando meus filhos.”
“Em nosso estudo, confrontamos todas as manifestações da morte. O medo e a sensação de morte iminente nos acompanham constantemente”, adiciona.
Baba afirma: “No entanto, a dor da fome é mais forte que o medo dos bombardeios”, explica Baba. “A fome impede de pensar.”
No Hospital Al Shifa, em Gaza, o diretor Mohammed Abu Salmiya informou que os índices preocupantes de mortalidade decorrentes da escassez de alimentos resultaram na morte de 21 crianças por desnutrição e fome em três dias.
A jornalista da AFP, Ahlam Afana, de 30 anos, ressalta outra dificuldade: uma crise de recursos financeiros intensa, decorrente das altas taxas cobradas pelos bancos e da inflação.
A retirada de dinheiro pode acarretar tarifas de até 45%, afirma Khadr al Zanoun, ao mesmo tempo em que o valor da gasolina sobe nos raros locais onde ainda está disponível, tornando inviável viagens de carro.
“Os preços são absurdos”, lamenta Ahlam Afana. “Um quilo de farinha custa entre 100 e 150 shekels israelenses [entre 166 e 249 reais], o que é mais do que conseguimos pagar, mesmo para comprar um quilo por dia.”
A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) anunciou, na terça-feira, que mais de 200 jornalistas faleceram em Gaza desde o ataque de 7 de outubro de 2023.
Youssef Hassouna, cinegrafista de 48 anos, declara que a perda de colegas, amigos e familiares o impactou “de todas as formas possíveis”.
Apesar de um vazio interior intenso, ele persiste em sua prática. “Cada imagem que registro pode ser o último resquício de uma vida soterrada sob os destroços”, afirma.
Zuheir Abu Atileh, de 60 anos, ex-colaborador do escritório da AFP em Gaza, compartilha a experiência dos colegas e descreve a situação como “catastrófica”.
“Prefiro o fim da vida a esta existência”, declarou. “Não possuímos mais energia, estamos exaustos, desmoronando. Chega.”
Fonte por: Carta Capital
Autor(a):
Ana Carolina é engenheira de software e jornalista especializada em tecnologia. Ela traduz conceitos complexos em conteúdos acessíveis e instigantes. Ana também cobre tendências em startups, inteligência artificial e segurança cibernética, unindo seu amor pela escrita e pelo mundo digital.