Possível Indicação de Jorge Messias ao STF e Relação com Evangélicos
A possível nomeação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF) pode sinalizar uma nova fase na interação entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o segmento evangélico. Essa análise é feita pela jornalista e pesquisadora Magali do Nascimento Cunha, doutora em Ciências da Comunicação pela USP e membro do Instituto de Estudos da Religião (ISER).
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“Messias não é um evangélico apenas nominal; ele possui um engajamento real e uma identidade forte, refletindo sua participação na igreja e na fé”, comentou em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. “Jorge Messias representa uma nova direção”, acrescentou, destacando que, ao contrário do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que utilizou a religião para pautas ideológicas, o atual governo busca estabelecer um diálogo com diversas vertentes e teologias.
Papel de Jorge Messias na Defesa da Democracia
Jorge Messias desempenhou um papel crucial na defesa da democracia e do Estado de Direito como advogado-geral da União, especialmente durante o julgamento que resultou na condenação de Bolsonaro e outros envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023. Para Cunha, essa trajetória acentua o contraste com a agenda da extrema direita e aumenta o simbolismo político de sua possível nomeação.
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“Ele [Jorge Messias] está no governo não apenas por sua religião; sua presença se justifica por ser um quadro do partido e por sua contribuição no campo do direito”, explicou. “O direito e a justiça nunca tiveram tanta relevância como nas últimas décadas, tornando-se elementos-chave nas estratégias ultraconservadoras para bloquear políticas públicas e impor determinadas agendas”, completou.
Estratégia de Diálogo com Evangélicos
A declaração de Cunha surge após o encontro do presidente Lula com o bispo Samuel Ferreira e o deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), na quinta-feira (16). Para a pesquisadora, essa reunião faz parte de uma estratégia de aproximação que começou na campanha de 2022 e se intensificou neste ano, incluindo setores progressistas entre os evangélicos.
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“Há uma busca por um diálogo mais amplo e uma aproximação maior com os grupos evangélicos”, afirmou. Segundo ela, o governo reconheceu a necessidade de ampliar o diálogo após a propagação de desinformação e boatos religiosos no primeiro semestre.
Reconhecimento da Diversidade Evangélica
A pesquisadora enfatiza que o governo deve lidar com a diversidade interna do campo evangélico, que vai além das grandes lideranças e da bancada parlamentar. “Um governo de Estado laico deve estar aberto ao diálogo com todos os grupos religiosos”, disse. “A bancada evangélica não representa todos os evangélicos. É fundamental ter um contato mais amplo, priorizando igrejas médias e pequenas, em vez de apenas grandes corporações”, defendeu.
Cunha também destaca que a maioria das fiéis evangélicas são mulheres negras de periferia, e que esse público deve ser central nas políticas públicas e no diálogo institucional. Ela menciona as reuniões com a primeira-dama Janja Lula da Silva e a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, com grupos de mulheres evangélicas como um exemplo desse movimento.
Programação do Conexão BdF
O programa Conexão BdF é transmitido em duas edições de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea pelo YouTube do Brasil de Fato.