A ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, que teve papel fundamental na negociação do Acordo de Paris, em 2015, defende a transição para uma economia circular de baixo carbono e acredita no potencial do Brasil.
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A ex-ministra considera que o Brasil é o país do mundo com os recursos naturais mais significativos. Assim, é necessário apresentar um discurso inovador em relação à sustentabilidade e soluções de baixo carbono.
Os assuntos de recursos e economia circular necessitam ser de maior destaque na COP 30? Em caso afirmativo, qual seria a forma de isso acontecer?
Sim, considero que já é uma prioridade. Não há como viabilizar a descarbonização e nem a eletrificação sem compreender a relação da economia com os recursos naturais. A eletrificação e a descarbonização são soluções associadas à questão da mudança climática, do enfrentamento da crise climática.
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A circularidade defende a otimização do emprego de recursos naturais com alto valor agregado na tecnologia, corrigindo os erros de uso de recursos naturais intensivos que observamos atualmente, marcados por alto grau de desperdício.
Os países desenvolvidos consomem dez vezes mais recursos naturais do que um país de baixa renda, o que agrava a desigualdade. Portanto, para efetivamente enfrentar a crise climática, onde o setor privado desempenha um papel estratégico, a circularidade e o uso eficiente de recursos naturais são cruciais.
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Não se trata de uma negociação entre países, é a visão do Brasil. Como o Brasil deseja que o mundo veja a circularidade como uma equação estratégica para a descarbonização, para a eletrificação e para a ambição climática, traduzida nas escolhas econômicas de cada país.
Quais são os principais desafios da transição para um futuro circular de baixo carbono?
Todas as composições de soluções dialogam com recursos naturais. Todas. Se você quer falar de descarbonização de uma cadeia produtiva, o recurso natural está no início e no final.
A utilização de energia renovável é um caso disso. Para instalar um painel solar, necessito de minerais, preciso de areia, esse é recurso natural.
Desperdiçamos excessivamente recursos, considerando a velocidade com que o planeta os esgota, em um cenário de bilhões de pessoas. Portanto, fica evidente a necessidade de se abordar a questão da circularidade. Isso acompanha as novas tecnologias, o novo uso de energia eficiente, a nova forma de produzir riqueza e a nova maneira de comercializar internacionalmente.
A forma de consumo está mudando?
É preciso iniciar a seleção e o consumo de produtos de forma mais consciente. Quanto menor for a intensidade em energia e materiais, mais sustentável e circular se torna.
O comércio eletrônico demanda grande consumo de energia e recursos naturais. Portanto, é preciso compreender as relações que geram esse impacto e fazer escolhas conscientes. Não se trata apenas de responsabilidade do governo ou do setor privado, também envolve a decisão individual.
Este é o desafio que se apresenta no mundo. E um país como o Brasil, o país mais poderoso do mundo em recursos naturais, precisa ter um discurso inovador, que provoque as conversas, as transformações das cadeias produtivas, inove em políticas públicas e tenha uma relação mais eficiente, por exemplo, com o setor privado e o setor financeiro.
O Brasil pode se tornar uma referência na descarbonização?
Sim, possuímos a capacidade de nos tornarmos uma economia eletrificada de baixo carbono. Contudo, devemos ser extremamente eficientes em nossa relação com o meio ambiente. Não devemos repetir os erros do passado.
Estamos caminhando para uma transformação da economia. Essa transformação demanda tempo. Não podemos ter retrocessos. Precisamos avançar passo a passo.
É inteligente observar este país que mais gera vida no planeta e reconhecer que temos o desafio de promover uma transição no uso da terra e da agricultura. Para alcançar um desenvolvimento mais justo e competitivo, com a consciência do brasileiro na hora de consumir.
A falta é uma ameaça concreta, o risco climático impõe vulnerabilidades e a escassez de água, por exemplo. O brasileiro é muito criativo, muito ousado, nós sabemos produzir soluções.
Fonte por: CNN Brasil