Incidente da Air India provoca discussão sobre a instalação de câmeras na cabine de comando
Visa complementar os gravadores de voz e dados de voo da cabine já empregados por investigadores de acidentes.

A ocorrência do acidente com o avião da Air India no mês passado provocou um debate de décadas na indústria da aviação sobre a instalação de câmeras de vídeo monitorando as ações dos pilotos de companhias aéreas. O objetivo é complementar os gravadores de voz e dados de voo da cabine já utilizados pelos investigadores de acidentes.
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O presidente da Associação Internacional de Transporte Aéreo e ex-piloto, Willie Walsh, afirmou em Singapura na quarta-feira (16) que existia um forte argumento para a instalação de câmeras de vídeo nas cabines dos aviões para monitorar as ações dos pilotos, em adição aos gravadores de voz e dados de voo já utilizados pelos investigadores de acidentes.
Especialistas em aviação afirmaram que um relatório preliminar do Departamento de Investigação de Acidentes Aeronáuticos da Índia (AAIB) levantou dúvidas sobre se um dos pilotos do voo 171 da Air India cortou o combustível dos motores do Boeing 787, alguns segundos após a decolagem, resultando em uma situação irreversível.
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O acidente em Ahmedabad, Índia, ceifou a vida de 241 dos 242 passageiros a bordo, mais 19 indivíduos em solo.
Walsh afirmou que, considerando o conhecimento atual, uma gravação de vídeo, além da gravação de voz, poderia auxiliar significativamente na investigação sobre a questão da saúde mental.
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Aquele que defende a utilização de câmeras de vídeo de cabines afirma que as filmagens podem suprir lacunas deixadas pelos gravadores de áudio e dados, ao passo que seus opositores expressam preocupações com a privacidade e o uso indevido que consideram superiores aos benefícios marginais para as investigações.
As imagens de vídeo foram “inestimáveis” para os investigadores australianos de acidentes, que constataram o que causou a desintegração do helicóptero Robinson R66 em 2023, resultando na morte do piloto, a única ocupante a bordo, conforme o relatório final do ATSB (Departamento Australiano de Segurança de Transporte), publicado 18 dias após o acidente da Air India.
O vídeo demonstrou que “o piloto estava envolvido em atividades não relacionadas ao voo durante a maior parte do tempo, incluindo o uso de celular e o consumo de alimentos e bebidas”, afirmou o relatório.
A ATSB destacou o reconhecimento à Robinson Helicopters pelo fornecimento de câmeras pré-instaladas, afirmando que isso incentivou outros fabricantes e proprietários a avaliar os benefícios da segurança contínua de dispositivos similares.
Em 2000, o presidente do NTSB (Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos EUA), Jim Hall, solicitou à Administração Federal de Aviação que ordenasse a instalação de gravadores de imagens de cabine em aeronaves comerciais.
A recomendação de Hall surgiu após o acidente do voo 990 da Egyptair em 1999, quando o primeiro oficial deliberadamente abateu o Boeing 767, conforme determinado pela NTSB, resultando na morte de todas as 217 pessoas a bordo.
O especialista em segurança aérea e ex-piloto de linha aérea comercial John Nance afirmou: “No equilíbrio entre privacidade e segurança, a balança pende inequivocamente para a segurança. Proteger o público que voa é uma obrigação sagrada.”
O especialista em segurança da aviação, Anthony Brickhouse, afirmou que, como investigador de acidentes, ele apoia o vídeo da cabine, mas reconheceu que os pilotos comerciais têm preocupações reais.
Ele afirmou que o vídeo do voo 171 da Air India “teria respondido a muitas perguntas”.
A Air India não se manifestou. O AAIB da Índia, que deve publicar um relatório final em um ano após o acidente, conforme as normas internacionais, não respondeu às solicitações de comentários.
O sindicato de pilotos apresentou objeções.
As associações de pilotos dos EUA, incluindo a Air Line Pilots Association (ALPA) e a Allied Pilots Association (APA), afirmam que os gravadores de voz e dados já fornecem informações suficientes para identificar as causas de um acidente e que as câmeras representariam uma invasão de privacidade, podendo ser utilizadas de forma inadequada.
A solicitação de câmeras na cabine é uma reação compreensível ao “estresse de não saber o que aconteceu imediatamente após um acidente”, declarou o porta-voz da APA, Dennis Tajer, um piloto da American Airlines.
É possível compreender a reação inicial de que mais informações são melhores, mas os investigadores já possuem dados suficientes para determinar adequadamente a causa de um acidente, sem necessidade de câmeras, afirmou ele.
Para aumentar a segurança dos voos, os sistemas de segurança atuais devem ser aprimorados para registrar dados de maior qualidade, em vez de adicionar câmeras de vídeo, afirmou um porta-voz da ALPA.
Existem preocupações de que as filmagens possam ser utilizadas pelas companhias aéreas para ações disciplinares ou que o vídeo possa vazar ao público após um acidente, afirmou John Cox, especialista em segurança da aviação, piloto aposentado de linha aérea e ex-presidente executivo de segurança aérea da ALPA.
A notícia da morte de um piloto transmitida na televisão não é algo que a família do piloto deveria ter que enfrentar.
“Se a confidencialidade puder ser assegurada globalmente”, afirmou Cox, “vejo um argumento a favor da instalação de câmeras”.
As gravações de áudio da cabine costumam ser mantidas confidenciais pelos investigadores, sendo preferível que transcrições parciais ou completas sejam divulgadas nos relatórios finais.
Apesar disso, a Federação Internacional de Associações de Pilotos de Linha Aérea manifestou ceticismo em relação à viabilidade de assegurar a confidencialidade dos vídeos da cabine.
A IFALPA esclarece que, devido à grande procura por fotografias impactantes, não há dúvidas de que a proteção dos dados (do registrador de imagens aéreas), que podem conter imagens identificáveis de tripulantes de voo, também não seria assegurada.
A Boeing se negou a informar se os clientes podem adquirir gravadores de vídeo da cabine, e a Airbus não respondeu à solicitação de esclarecimentos.
Fonte por: CNN Brasil
Autor(a):
Lara Campos
Com formação em Jornalismo e especialização em Saúde Pública, Lara Campos é a voz por trás de matérias que descomplicam temas médicos e promovem o bem-estar. Ela colabora com especialistas para garantir informações confiáveis e práticas para os leitores.