“Nós confiamos em Fux”. A mensagem, acompanhada de uma imagem gerada por inteligência artificial, mostra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) em postura altiva, com olhar para o horizonte, cercado de “patriotas” em segundo plano. Foi publicada às 11h desta quarta-feira 10, cerca de duas horas após o início do voto de Fux no STF pelo ex-procurador da Operação Lava Jato e deputado federal cassado Deltan Dallagnol (Novo-PR).
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A declaração recupera uma mensagem enviada por Deltan, em 2016, em troca de mensagens com o então juiz Sergio Moro. O diálogo, divulgado três anos depois, no episódio conhecido como “Vaza Jato”, relatava uma conversa entre Deltan e Fux. Segundo o então procurador, o ministro do Supremo teria afirmado que Moro “foi ótimo” ao responder à fala do ministro do STF Teori Zavascki (falecido em acidente aéreo em 2017). “Excelente. In Fux we trust”, respondeu Moro.
Ao retomar a questão, Deltan demonstra que a ultradireita e o bolsonarismo estão satisfeitos com a atuação de Fux – cujas divergências explícitas no julgamento de Jair Bolsonaro podem, no futuro, favorecer o ex-capitão.
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Após uma extensa trajetória como ministro, incluindo passagem pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), Luiz Fux foi indicado ao STF pela presidente Dilma Rousseff em 2011. Já havia tentado outras três vezes, afirmou, em entrevista à Folha de S. Paulo. Sua “epopeia”, contudo, não envolve exatamente heroísmo e sim uma intensa articulação política. Fux buscou apoio de diversas figuras de destaque para viabilizar sua indicação, inclusive adaptando posicionamentos e decisões para agradar a diferentes grupos e facilitar sua candidatura.
Atualmente Deltan utiliza o lema “In Fux we Trust” com satisfação, no período do vazamento não ocorreu da mesma maneira. Ele e Moro buscaram, por meio de várias estratégias, descreditar a divulgação das mensagens, que inicialmente foi feita pelo Intercept Brasil.
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Fux manifestou apoio à dupla Deltan e Moro, em um momento posterior ao vazamento de gravações que envolveram a presidente Dilma, obtidas após um grampeamento telefônico. O material foi encaminhado para o Jornal Nacional. Anteriormente, já havia afirmado que as decisões de um juiz devem considerar o interesse da sociedade.
Em 2020, com nove anos de experiência, Luiz Fux assumiu a presidência do Supremo. Ao ocupar a cadeira, chegou a elogiar a Operação Lava Jato, mesmo diante dos vazamentos. “Eventuais erros da operação devem ser tratados como questões pontuais e analisados no foro adequado. Mas não há dúvida do êxito da Lava Jato no combate aos crimes de colarinho branco”, declarou, em entrevista à revista IstoÉ.
Dois anos depois, ao sair do cargo às vésperas das eleições de 2022, mencionou “ataques em tons e atitudes extremamente enérgicos” ao Supremo Tribunal Federal. “Não houve um dia sequer em que a legitimidade de nossas decisões não tenha sido questionada, seja por palavras hostis, seja por atos antidemocráticos”, prosseguiu. Grande parte desses ataques veio diretamente de Jair Bolsonaro e de seus aliados mais próximos.
Recentemente, contudo, algumas divergências pareceram ser revertidas. Fux tornou-se uma espécie de “última esperança” do bolsonarismo na Primeira Turma do Supremo. Foi quem apresentou mais discordâncias nos votos a pessoas condenadas pelos ataques de 8 de Janeiro. Os advogados de Bolsonaro fizeram diversas menções a decisões do ministro em suas alegações finais no processo do golpe. Não utilizaram a expressão em inglês, mas deixaram claro que, em Fux, confiavam.
Marianna não é filha única. Fux possui mais um filho, Rodrigo, que também é advogado. Reportagem publicada em 2019 pela CartaCapital revelou que Rodrigo tinha, em sua lista de clientes, o Conselho Nacional de Praticagem (Conapra), que defende os práticos (profissionais que atuam nos portos para auxiliar os navios no processo de atracamento). A Conapra foi financiadora da campanha de Flávio Bolsonaro (hoje no PL) ao Senado pelo Rio de Janeiro. Flávio foi eleito em 2018 e está no cargo.
Fonte por: Carta Capital