Hermeto Pascoal, de forma singular e sem igual, expandiu os limites da música
O “bruxo” convertia em música os ruídos de qualquer objeto ou instrumento, sempre com talento e liberdade criativa.

Hermeto Pascoal possuía uma abordagem singular na criação, evitando o comum e valorizando a espontaneidade. Sua produção, caracterizada pela audácia e autenticidade, permanece incomparável.
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Faleceu no sábado, 13, aos 89 anos, no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro. A família não divulgou as causas da morte.
Ao longo de sua trajetória, investigou latas, panelas, garrafas, água e diversos materiais para a produção de sons, em experimentos cuidadosamente analisados. O propósito era sempre o mesmo: desafiar convenções e expandir os limites da música.
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Originário de Lagoa da Canoa, próximo a Arapiraca, em Alagoas, Hermeto era albino e iniciou sua trajetória musical na infância, com instrumentos como gaita, pandeiro e sanfona. O primeiro disco foi lançado em 1964, com o grupo Som 4, marcando sua estreia como pianista.
Autodidata, obteve destaque com o álbum de 1967, produzido pelo Quarteto Novo, ao lado de Airto Moreira, Heraldo do Monte e Theo de Barros, reconhecido como um marco da música instrumental brasileira.
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Em 1970, lançou seu álbum solo nos Estados Unidos. No ano seguinte, integrou o disco Live-Evil, de Miles Davis, com atuação no piano elétrico e bateria.
O trompetista incluiu três obras de Hermeto no álbum, elevando-o ao circuito internacional do jazz.
Narrativas peculiares nortearam sua exploração sonora. No Festival Internacional da Canção de 1972, planejava apresentar um coro de porcos para acompanhar “Serearei”, interpretada por Alaíde Costa. Os animais foram confiscados, porém a concepção se concretizou em estúdio: em 1977, no álbum Slaves Mass, Hermeto registrou os ruídos dos bichos. O disco, produzido nos Estados Unidos, é reconhecido como um dos ápices de sua produção, ao lado de Zabumbê-bum-á (1979).
Seu último trabalho, Pra Você, Ilza, lançado em 2024, foi dedicado à esposa, com quem esteve casado por quase cinco décadas, até o falecimento dela.
Hermeto Pascoal causou impacto em públicos e artistas globalmente, estabelecendo uma das trajetórias internacionais mais consistentes da música brasileira. Conforme cantou Caetano Veloso em Podres Poderes, os “hermetismos pascoais” – sonoridades, talentos e mil nuances geniais – representarão antídotos contra a escuridão.
Fonte por: Carta Capital
Autor(a):
Júlia Mendes
Apaixonada por cinema, música e literatura, Júlia Mendes é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de São Paulo. Com uma década de experiência, ela já entrevistou artistas de renome e cobriu grandes festivais internacionais. Quando não está escrevendo, Júlia é vista em mostras de cinema ou explorando novas bandas independentes.