Hamas aceita plano de Trump e debate administração de Gaza

Israel mantém dúvidas sobre aceitação do plano; grupo anuncia estratégia para gestão de Gaza.

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(Imagem de reprodução da internet).

Acordo Parcial do Hamas no Conflito Israelo-Palestino

O anúncio de um acordo parcial, divulgado nesta sexta-feira (3), proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para o fim do conflito entre Israel e o grupo Hamas na Faixa de Gaza, foi visto como uma decisão pragmática do Hamas. Analistas ouvidos pelo Brasil de Fato ressaltaram que o grupo palestino tinha poucas opções e não aceitou todos os pontos da proposta.

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“O Hamas queria há muito tempo chegar a um acordo para o fim do ciclo da violência e alcançar uma decisão política. O problema estava em parte do governo de Israel que não queria de forma um entendimento”, disse Mohamed Nadir, analista político da Universidade Federal do ABC. “A decisão do Hamas foi pragmática”, acrescentou.

O doutor em relações internacionais e pesquisador da questão palestina Arturo Hartmann considerou que “a posição do Hamas estava enfraquecendo, se deteriorando, perceberam que a máquina de extermínio israelense não iria parar, nem os Estados Unidos”.

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“Eles não tinham saída. O plano é uma oferta de rendição, uma iniciativa dos EUA, mas com a posição israelense de: ‘Ou você aceita ou te exterminamos’”, afirmou. Em suma, o conflito é usado como uma moeda de barganha.

Já o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), Ualid Rabah, ressalta que “o Hamas aceitou o mínimo do mínimo”. “Agradeceu e reconheceu esforços de várias partes, dos países árabes e islâmicos, de Trump, embora ele participe do genocídio. Aceitou a troca de prisioneiros israelenses por palestinos, mesmo sendo uma oferta tímida: ele oferece a libertação de 1.950 palestinos quando estão aprisionados ao menos 18,2 mil palestinos por Israel, 6 mil em Gaza e mais de 12 mil na Cisjordânia.”

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O Hamas concordou em libertar os reféns israelenses, vivos e mortos, mas solicitou esclarecimentos em alguns pontos. Eles elogiaram os esforços de Trump e concordaram em entregar a gestão de Gaza a um órgão independente de tecnocratas palestinos, com apoio árabe e islâmico.

“O movimento anuncia sua aprovação para a libertação de todos os reféns – vivos e restos mortais – segundo a fórmula de intercâmbio incluída na proposta do presidente Trump”, assinalou o movimento islamista palestino em um comunicado, e acrescentou que está pronto para iniciar negociações “para discutir os detalhes”.

A principal reticência é sobre a administração internacional de Gaza, defendendo que o futuro da região seja decidido por consenso palestino. Washington ameaçou o Hamas com “consequências graves” caso não aceitassem o acordo.

“Se este ACORDO FINAL não for alcançado, o INFERNO TOTAL, como ninguém jamais viu antes, será desencadeado contra o Hamas”, escreveu o magnata estadunidense em sua plataforma Truth Social. Mas após a resposta do grupo palestino, Trump pediu para Israel parar os ataques em Gaza.

Um alto dirigente do Hamas disse logo em seguida que o plano de Trump é “impreciso” e que são necessárias negociações. No comunicado, o grupo não mencionou uma das exigências dos EUA e de Israel, o desarmamento total. Uma fonte palestina próxima à cúpula do Hamas disse à AFP, na quarta-feira, que o grupo “quer emendar algumas das cláusulas como o desarmamento e a expulsão de qualquer palestino de Gaza”. Os líderes do grupo também querem “garantias internacionais de uma retirada completa de Israel da Faixa de Gaza” e que não haverá tentativas de assassinato contra eles dentro ou fora do território, acrescentou essa fonte. Outra fonte próxima às negociações explicou à AFP que “existem duas opiniões dentro do Hamas”: uma que apoia a aprovação da proposta e que dá “prioridade” a um cessar-fogo; e outra que “tem reservas importantes sobre algumas cláusulas-chave, rejeita o desarmamento e a expulsão de qualquer palestino de Gaza”.

O plano esboçado por Trump contempla um cessar-fogo, a libertação dos reféns israelenses em 72 horas, o desarmamento do Hamas e a retirada gradual do Exército de Israel de Gaza após quase dois anos de guerra. Em seguida, seria estabelecida uma autoridade de transição, liderada pelo próprio Trump.

Futuro Os analistas ouvidos ressaltam que o Hamas escolheu as palavras do comunicado cuidadosamente para prosseguir sendo um ator político relevante, apesar da rejeição enfática de Israel, “um aceite para deixar as portas abertas”.

“O ponto mais importante do comunicado é o final, que menciona uma coordenação com as demais forças palestinas para um consenso. Isso quer dizer que persiste a ideia geral do acordo alcançado em Pequim de reconciliação de todas as forças palestinas, bem como a construção de um governo de unidade. E eles citam também um plano para a administração de Gaza futuro, em que a unidade palestina prevalecerá”, diz Ualid Rabah.

Para Mohamed Nadir, o Hamas “não deve ter papel decisivo na próxima administração da faixa de Gaza. Mas não sabemos se o Hamas irá desaparecer do campo político, por ser um elemento forte dentro da sociedade palestina. Esse componente não desaparecerá, vai continuar existindo de uma forma ou de outra”.

“Mas, nesse momento, o acordo é uma forma muito sensata de fechar esse ciclo de violência e abrir caminho para a reconstrução de Gaza”, completa ele.

Autor(a):

Com formação em Jornalismo e especialização em Saúde Pública, Lara Campos é a voz por trás de matérias que descomplicam temas médicos e promovem o bem-estar. Ela colabora com especialistas para garantir informações confiáveis e práticas para os leitores.

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