Guarda Nacional é acionada para controlar manifestações em Los Angeles
Pela primeira vez desde 1965, um presidente dos EUA federaliza uma parte da força do Estado sem a autorização do governador. Leia no Poder360.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Partido Republicano), ordenou o envio de 2.000 soldados da Guarda Nacional para Los Angeles, na Califórnia. A medida foi implementada na noite de sábado (7.jun.2025), em resposta ao aumento dos protestos contra as operações de imigração, que perduraram dois dias consecutivos na cidade. Agentes policiais utilizaram gás lacrimogêneo em confrontos com os manifestantes.
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O governador da Califórnia, Gavin Newsom (Partido Democrata), qualificou a medida como “propositalmente inflamatória” e declarou que ela “apenas escalaria tensões” na região. A decisão de Trump foi formalizada por meio da assinatura de um memorando, que mobilizou parte das tropas da Guarda Nacional da Califórnia sob a autoridade do Título 10, norma federal que possibilita o emprego da Guarda Nacional em casos de “rebelião ou perigo de rebelião contra a autoridade do governo dos EUA”, transferindo o controle da guarda do Estado para o governo federal.
De acordo com o jornal norte-americano New York Times, é incomum que um presidente dos EUA utilize o instrumento que, na prática, sobrepõe-se à autoridade do governador do Estado.
É a primeira vez desde 1965 que um presidente aciona a Guarda Nacional de um Estado sem que haja um pedido do governador, segundo afirmou à Elizabeth Goitein, diretora sênior do Programa de Liberdade e Segurança Nacional do Brennan Center for Justice, uma organização independente de direito e políticas públicas. A última vez ocorreu quando o presidente Lyndon B. Johnson (Partido Democrata, 1963-1969) enviou tropas ao Alabama para proteger manifestantes em defesa dos direitos civis.
O governador Newsom afirmou em seu perfil no X (antigo Twitter) que o governo federal está assumindo o controle da Guarda Nacional da Califórnia e enviando 2.000 soldados para Los Angeles, “não por causa de falta de forças de segurança, mas porque querem um espetáculo”.
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O documento que autorizou o envio das tropas e a permanência de sua atividade por 60 dias, Trump afirma que as manifestações impediram a “execução das leis” e “constituem uma forma de rebelião contra a autoridade do governo dos Estados Unidos”. Leia o memorando na íntegra, em inglês (PDF – 93 kB).
O secretário de Defesa, Pete Hegseth, declarou que as tropas estavam sendo mobilizadas “imediatamente” e advertiu sobre o envio de “fuzileiros navais da ativa” se os protestos persistissem.
As tensões iniciaram na sexta-feira (6 de junho de 2025), quando manifestantes se envolveram em confrontos com agentes que estavam conduzindo operações de imigração em vários pontos do centro de Los Angeles.
No sábado (7 de jun), as ações do ICE (Departamento de Imigração e Alfândega dos EUA) se estenderam para Paramount, uma região majoritariamente latina ao sudoeste de Los Angeles. Lá, os agentes foram recebidos com mais manifestações em frente a um parque industrial.
Agentes da polícia de fronteira, munidos de equipamento anti-motim e máscaras de gás, estabeleceram vigilância em frente a uma área industrial. Eles dispersaram manifestantes com gás lacrimogêneo, conforme estes se concentravam nas proximidades.
O Departamento de Segurança Interna (DHS) comunicou que as ações recentes do ICE em Los Angeles resultaram na detenção de 118 imigrantes. Além disso, mais de 12 indivíduos foram presos e acusados de obstruir agentes de imigração, conforme informações do escritório do procurador dos Estados Unidos para o distrito central da Califórnia.
Forças militares foram enviadas durante manifestações em Los Angeles em 1992. Contudo, o governo federal respondia a um pedido do então governador da Califórnia, e se tratava de distúrbios em larga escala na cidade.
Em resposta à decisão de Trump, Newsom ordenou à Patrulha Rodoviária da Califórnia que enviasse policiais adicionais para garantir a segurança pública. “O governo federal está semeando o caos para ter uma desculpa para escalar. Essa não é a maneira como qualquer país civilizado se comporta”, afirmou o governador.
Trump criticou publicamente a condução dos protestos por Newsom e pela prefeita de Los Angeles, Karen Bass (Partido Democrata). Ele afirmou que o governo federal interviria e solucionaria o problema dos “tumultos e saqueadores” da forma adequada.
David Huerta, presidente da unidade californiana do Seiu (Sindicato Internacional de Empregados de Serviços), foi detido durante os protestos de 6 de junho. Do hospital, ele afirmou:
O que me ocorreu não se refere a mim. Trata-se de algo muito maior. Refere-se a como nós, como comunidade, nos unimos e resistimos à injustiça que está acontecendo. Pessoas trabalhadoras, membros de nossas famílias e de nossa comunidade, estão sendo tratados como criminosos. Todos coletivamente temos que nos opor a essa situação, pois não é justiça.
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Fonte por: Poder 360
Autor(a):
Marcos Oliveira
Marcos Oliveira é um veterano na cobertura política, com mais de 15 anos de atuação em veículos renomados. Formado pela Universidade de Brasília, ele se especializou em análise política e jornalismo investigativo. Marcos é reconhecido por suas reportagens incisivas e comprometidas com a verdade.