Governo dos EUA busca auxiliar família de Bolsonaro e grandes empresas de tecnologia.
A política tarifária de Trump representa uma ameaça aos empregos e contribui para o aumento do déficit com o Brasil. A probabilidade de o governo precisar implementar um plano de contingência considerando o pior cenário é a mais provável, alertou o coordenador técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Ricardo Franzoi, aos sindicalistas da CUT/RS, durante reunião ampliada da diretoria, na manhã desta terça, 22, que discutiu estratégias e posicionamento do movimento sindical diante da crise EUA-Brasil.
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Conforme Franzoi, a alegação de que a carta de Donald Trump condiciona a questão política da iminente prisão de Jair Bolsonaro é apenas uma parte da história, existindo outros interesses subjacentes. A presença da China na América Latina, a reunião dos BRICS como ameaça à hegemonia do dólar e o debate recente no Supremo Tribunal Federal (STF) para regulamentar as Big Techs são fatores relevantes. “A guerra é comercial, mas também há interesses político-ideológicos”, observa.
Apesar dos estados com maior dependência de exportações para os Estados Unidos serem São Paulo, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Espírito Santo, o Rio Grande do Sul também sofrerá consequências. Os setores mais afetados serão o de armas e munições – com 86% da produção voltada ao mercado estadunidense; seguido pelo de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (e suas partes), com 42% da produção; o segmento de madeira, carvão vegetal e obras de madeira, com 30%; e calçados e partes de calçados, com 24%. Os EUA são destino de 8,4% das exportações gaúchas, representando US$ 1,84 bilhão.
As exportações do setor de transformação gaúcho para os Estados Unidos atingiram 11,2% do total em 2024, com destaque para determinados segmentos.
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Os itens mais relevantes foram produtos de metal, representando 46% do total, destinados ao mercado norte-americano; minerais não metálicos, com 44,4%; máquinas e materiais elétricos, com 42,5%; e madeira, com 30,1%. Setores como couro e calçados (19,4%), móveis (16,8%) e veículos automotores (13,9%) também podem apresentar impactos indiretos, incluindo efeitos em estoques, logística e preços.
Os setores mais impactados incluem armas e munições, que representam 85,9% das exportações para os EUA; transformadores e indutores, com 79,3%; calçados de couro, que é o maior empregador com mais de 31 mil postos; serrarias e madeira, com 29,6%; e peças para veículos, com até 53% da produção destinada ao exterior. Em 2024, esses ramos geraram US$ 1,2 bilhão em exportações e sustentaram 145,4 mil empregos, o que corresponde a 21,2% do total da indústria de transformação no Rio Grande do Sul.
Franzoi também ressaltou que mais de 6.500 pequenas empresas nos EUA dependem de produtos importados do Brasil; 3.900 empresas americanas investem no país; que o Brasil é um dos dez principais mercados para as exportações dos EUA; além de ser o destino de quase US$ 60 bilhões em bens e serviços estadunidenses anualmente.
Ele aponta certos aspectos relevantes. Dentre eles, a valorização do dólar e possíveis ações adicionais do governo dos Estados Unidos, por exemplo, em relação ao PIX, geram movimentações de R$ 65 trilhões por semestre, sem que sejam consideradas as tarifas cobradas por cartões de crédito e sistemas de transação financeira das grandes empresas de tecnologia.
Apesar da existência de um plano de contingência do governo brasileiro, seria necessária a criação de um grupo de trabalho com a classe trabalhadora, empresários e governo para avaliação dos impactos das tarifas impostas pelos Estados Unidos na indústria brasileira, conclui o técnico do Dieese.
A CUT-RS integrou, na terça-feira (22) o Ato pela Soberania Nacional promovido em frente à sede da embaixada dos Estados Unidos, em Porto Alegre. A manifestação contou com a presença de movimentos sociais, partidos políticos, sindicatos e centrais sindicais, em oposição ao imperialismo norte-americano e às ameaças à soberania do Brasil.
A ação se passou após uma série de declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que anunciou a aplicação de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para o mercado norte-americano. A medida, que entrará em vigor em 1º de agosto, foi criticada por manifestantes.
Os trabalhadores dos Estados Unidos nos enviaram uma carta manifestando sua discordância com as ações do presidente Trump e os interesses que ele defende. Os trabalhadores demonstram solidariedade com os trabalhadores e com o povo brasileiro. Isso se deve à retirada de direitos por trás de tarifas e de ingerência, segundo o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci.
A presidente do PT-RS, Juçara Dutra, também se manifestou durante o ato. “Agora, estamos tratando da soberania brasileira e temos a responsabilidade de mobilizar para que a população entenda que está sendo atacada. Não só pelo imperialismo, mas por um país que pensa ser o dono do mundo. Nós não estamos falando do povo americano, estamos falando do governo deles.”
Amarildo ressaltou a urgência do governo brasileiro em implementar ações concretas. “É preciso reafirmar o direito à soberania e assegurar que o governo brasileiro – como tem feito – deve intensificar as políticas de proteção aos direitos dos trabalhadores e aos setores impactados por essa situação. Precisamos de política e, certamente, de um plano”, declarou.
A manifestação concentrou diversas pessoas em frente à embaixada dos Estados Unidos, em Porto Alegre.
Fonte por: Brasil de Fato
Autor(a):
Marcos Oliveira é um veterano na cobertura política, com mais de 15 anos de atuação em veículos renomados. Formado pela Universidade de Brasília, ele se especializou em análise política e jornalismo investigativo. Marcos é reconhecido por suas reportagens incisivas e comprometidas com a verdade.