A França retornou, na terça-feira (26), três crânios para Madagascar, mais de um século após a sua apreensão, incluindo um que se acredita ser de um rei de Madagascar do século XIX, decapitado por tropas francesas em 1897.

A devolução dos restos mortais para a nação sediada na costa sudeste da África representa o primeiro caso em que a França implementa uma legislação de 2023 que autoriza o retorno de corpos humanos a um país com finalidade funerária.

A França anexou os reinos do povo Sakalava, na região oeste de Madagascar, durante a década de 1890 e incorporou os Sakalava a uma colônia francesa recentemente estabelecida.

Dois crânios adicionais pertenciam a dois generais que combateram ao lado do rei, comunicou o Ministério das Comunicações e Cultura de Madagascar em um comunicado anunciando o retorno dos “heróis”.

Os restos cranianos foram mantidos em coleções do Museu Nacional de História Natural da França até serem formalmente entregues em uma cerimônia no Ministério da Cultura.

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“Cumprimento o retorno destes três ancestrais, incluindo o do Rei Toera para o povo Sakalava, uma linhagem comum a quase um terço da população de Madagascar”, declarou Fetra Rakotondrasoava, secretário permanente do Ministério da Cultura de Madagascar.

Os crânios possuem um significado profundo para o povo africano.

A ministra de Madagascar declarou que o ato representa o retorno da história e da memória do país. “Agora poderemos honrar esses restos mortais como eles merecem. Este momento é significativo para o povo malgaxe e para todas as nações engajadas na restituição de sua herança”, acrescentou.

A Ministra da Comunicação e Cultura de Madagascar, Volamiranty Donna Mara, declarou na cerimônia que os restos mortais, incluindo os do “nosso grande, na verdade, muito grande, Rei Toera”, não são meros objetos em uma coleção, mas o elo “invisível e indelével” que une nosso presente ao nosso passado.

Sua ausência, por mais de um século, 128 anos, representou uma ferida aberta no coração da Grande Ilha (Madagascar), e particularmente para a comunidade Sakalava de Menabe, conforme ela continuou.

O Ministério da Cultura de Madagascar comunicou que os crânios serão novamente sepultados em Menabe, região situada no oeste da ilha.

A ministra da Cultura francesa, Rachida Dati, afirmou em sua fala durante a cerimônia de entrega que o evento “marca um acontecimento histórico entre a França e Madagascar”.

Adicionalmente, destacou que o Comitê Científico conjunto, estabelecido em outubro para analisar o pedido de restituição de Madagascar, “uma vez mais nos possibilitou reconhecer a importância da figura do Rei Toera, tanto para os cidadãos em geral quanto para o povo Sakalava em particular: por sua identidade, sua dignidade, sua autoconsciência e o vínculo que almejam estabelecer entre o passado e o futuro”.

Em 2017, o presidente francês Emmanuel Macron declarou em um pronunciamento no país africano de Burkina Faso que “nos próximos cinco anos, almejo observar a criação das condições para a devolução temporária ou permanente do patrimônio cultural africano à África”.

Ele então solicitou um relatório publicado em 2018 que propunha a remoção de milhares de artefatos africanos confiscados durante o período colonial de museus franceses e sua devolução ao continente.

Um esforço similar está sendo realizado no Reino Unido, onde legisladores e ativistas divulgaram um relatório em março solicitando o encerramento da exibição de restos mortais em museus e da venda de partes de corpos humanos em leilões.

Fonte por: CNN Brasil