Felicia Keesing defende conservação da biodiversidade como chave para prevenir pandemias futuras

Felicia Keesing, do Bard College, destaca em São Paulo a importância da conservação da biodiversidade na prevenção de pandemias, como a Covid-19

12/11/2025 14:32

4 min de leitura

(Imagem de reprodução da internet).

Novas Abordagens para Prevenção de Pandemias

Pesquisas que tentaram prever pandemias frequentemente falharam, levando cientistas a buscar novas maneiras de antecipar o surgimento de patógenos globais. Uma abordagem que merece mais atenção é a conservação e restauração da biodiversidade, que pode ajudar a prevenir ou mitigar esses eventos.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Este foi o foco da apresentação de Felicia Keesing, professora do Bard College, nos Estados Unidos, durante a Escola Interdisciplinar Fapesp, que ocorre em São Paulo.

Com 75% das doenças infecciosas emergentes em humanos sendo zoonóticas, ou seja, transmitidas entre pessoas e animais, as ações de saúde pública têm se concentrado nesse aspecto. No entanto, Keesing argumenta que as estratégias atuais não têm sido eficazes para evitar pandemias como a de Covid-19.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Ela defende que é necessário ir além das recomendações da OMS, que incluem construção de resiliência e acesso a contramedidas.

A pesquisadora sugere que a busca por potenciais iniciadores de pandemias deve ser ampliada, considerando mais do que apenas alguns locais e tipos de vírus. Uma proposta simples é revisar previsões passadas para entender suas falhas e melhorar os modelos futuros.

Leia também:

Além disso, é essencial ampliar o foco para além dos coronavírus, pois novos surtos podem surgir de outros vírus ou bactérias.

Importância dos Animais Reservatórios

Keesing destaca que muitos microrganismos causadores de doenças não têm um único reservatório animal, mas sim vários. Portanto, é crucial avaliar a relevância de diferentes grupos de animais como reservatórios, pois alguns, como morcegos, podem ser superestimados, enquanto outros, como roedores, podem ser subestimados.

Ela também observa que patógenos zoonóticos podem ser transmitidos de humanos para animais.

Além disso, Keesing aponta que os animais menos ameaçados de extinção tendem a transmitir mais doenças aos humanos. Isso se deve a características biológicas que favorecem a disseminação de patógenos. Em seus estudos no Quênia, ela notou que a perda de grandes mamíferos levou ao aumento de roedores e serpentes venenosas, reforçando a importância da conservação da biodiversidade para prevenir novas pandemias.

Para Keesing, a conservação e restauração da biodiversidade são fundamentais para mitigar o surgimento de doenças zoonóticas. Ela também menciona a necessidade de desenvolver antivirais de amplo espectro, novos antibacterianos e vacinas, além de políticas públicas robustas e uma estrutura global de saúde eficaz.

Impacto da Matemática na Economia

Marcelo Viana, diretor do Impa, abordou a importância da formação em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) para a economia dos países. Ele apresentou estudos que mostram como a matemática impacta o PIB em países como Reino Unido, França, Austrália e Espanha.

Na França, por exemplo, 13% dos empregos estavam relacionados à matemática em 2022, representando 18% do PIB.

No Brasil, uma pesquisa realizada pelo Itaú Social, com apoio do Impa, revelou que as profissões ligadas à matemática correspondem a 4,6% do PIB, com salários 119% superiores à média. Viana destacou que aumentar essa proporção para 18% poderia adicionar R$ 1,5 trilhão ao PIB brasileiro.

Uma iniciativa importante foi a inauguração do Impa Tech em 2024, que oferece a primeira graduação do instituto voltada para a formação de profissionais qualificados em áreas que dependem da matemática. Os alunos são selecionados com base em resultados de olimpíadas de matemática, sem vestibular, e podem optar por áreas como matemática, ciência da computação, ciência de dados ou física.

Produção Científica em São Paulo

Na abertura do evento, Marco Antonio Zago, presidente da Fapesp, destacou a liderança de São Paulo na produção científica nacional, resultado de investimentos estáveis nas universidades estaduais e na própria Fapesp. Ele enfatizou a importância da estabilidade para financiar projetos de longo prazo.

Oswaldo Baffa Filho, organizador do evento, ressaltou a importância de construir pontes entre diferentes áreas do conhecimento e culturas. A Escola Interdisciplinar Fapesp, que chega à sua 5ª edição, reúne 60 pesquisadores em nível de pós-doutorado de várias partes do Brasil e do mundo, formando uma comunidade diversificada e unida pela curiosidade científica.

Autor(a):

Apaixonada por cinema, música e literatura, Júlia Mendes é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de São Paulo. Com uma década de experiência, ela já entrevistou artistas de renome e cobriu grandes festivais internacionais. Quando não está escrevendo, Júlia é vista em mostras de cinema ou explorando novas bandas independentes.