Ex-policial militar denuncia que a estrutura policial mantém características da ditadura militar no Brasil

Para o pesquisador, a doutrina de “eliminar inimigos” permanece atualizada nos tempos presentes, e a impunidade sustenta essa prática.

16/07/2025 0:39

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Ex-policial militar denuncia que a estrutura policial mantém características da ditadura militar no Brasil
(Imagem de reprodução da internet).

A escalada recente da violência policial nos estados brasileiros evidencia a herança da estrutura da polícia da ditadura militar no país (1964-1985), segundo o tenente-coronel aposentado da Polícia Militar de São Paulo e pesquisador sobre letalidade policial, Adilson Paes de Souza. “A estrutura policial é a mesma da ditadura militar que assolou o Brasil”, afirma, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.

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Ele argumenta que, apesar da implementação de tecnologias como câmeras corporais, não houve uma transformação no padrão de atuação da PM. Pelo contrário. O modelo vigente, que concede aos próprios policiais a prerrogativa de ativar o equipamento, abriria brechas para a supressão de evidências. “O que estamos observando com o projeto das câmeras policiais, com o policial podendo acionar, é o Giggs contemporâneo”, diz, em referência ao personagem de A República, de Platão, que ao encontrar um anel mágico que o tornava invisível, passa a cometer crimes sem ser punido.

O pesquisador indica que o aumento da mortalidade está relacionado à aplicação da doutrina de segurança nacional, utilizada durante a ditadura para eliminar “inimigos internos”. Atualmente, ele recorda que esse inimigo possui etnia e condição social: pobres, pardos e negros.

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Denuncia, por sua vez, afirma que o país possui o tipo penal do suspeito e que ele pode ser morto com uma aplicação pseudo-judicial para informar a população que a polícia está atuante. Segundo ele, a Polícia Militar tem cometido um genocídio.

Em maio, São Paulo registrou o mês mais letal dos últimos cinco anos, com elevação de 61% nos óbitos causados por intervenções policiais. No caso mais recente, em Paraisópolis, o jovem Igor de Oliveira Moraes foi assassinado por militar mesmo após se entregar com os braços elevados. A ocorrência foi filmada por câmera corporativa acionada incorretamente. “Populismo significa matar pessoas. E há quem esteja ganhando votos com isso, de qualquer espectro político”, lamentou Souza.

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O ex-militar, segundo relatos, observa que tanto governos de direita quanto de esquerda adotam métodos violentos. Ele afirma: “Ambos compartilham a mesma prática, a mesma política, o mesmo discurso. Ambos são favoráveis à letalidade policial. A Bahia, um estado com governo estadual nas mãos do PT há muito tempo, atualmente é o estado brasileiro com maior número de mortes causadas pela polícia”.

O pesquisador também critica a atuação das instituições de controle, por serem, em muitos momentos, coniventes com a impunidade. “Infelizmente, o sistema de justiça criminal, que é para além da atuação da polícia, é um sistema que permite que a letalidade prevaleça e cresça no nosso país. Nós precisamos de um Ministério Público realmente independente e atuando no controle efetivo externo das corporações policiais. Isso nós efetivamente não temos”.

Souza é cético quanto à possibilidade de reformas significativas no atual modelo policial, que tem cada vez mais poder. “Eu entendo que é impossível, dadas as condições atuais. Com o advento do desastroso governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), as corporações policiais adquiriram peso político e interferem na vida institucional do Brasil mais do que efetuando policiamento”, observa.

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

Fonte por: Brasil de Fato

Autor(a):

Com uma carreira que começou como stylist, Sofia Martins traz uma perspectiva única para a cobertura de moda. Seus textos combinam análise de tendências, dicas práticas e reflexões sobre a relação entre estilo e sociedade contemporânea.