EUA interrompem diálogos sobre cessar-fogo em Gaza e responsabilizam o Hamas

Israel está sob crescente pressão de organizações humanitárias que acusam de “morte por fome” em Gaza.

24/07/2025 23:21

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EUA interrompem diálogos sobre cessar-fogo em Gaza e responsabilizam o Hamas
(Imagem de reprodução da internet).

O Israel declarou nesta quinta-feira, 24, que prossegue na busca por um acordo de cessar-fogo em Gaza, mesmo com a convocação de seus negociadores para avaliação e a rejeição das negociações pelos Estados Unidos, que criticaram a postura “egoísta” do Hamas.

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À medida que a pressão sobre Israel cresce, o presidente da França, Emmanuel Macron, declarou nas redes sociais que a França reconhecerá o Estado palestino na Assembleia Geral da ONU, prevista para setembro em Nova York.

“Em consonância com o compromisso histórico com uma paz justa e duradoura no Oriente Médio, decidi que a França reconhecerá o Estado da Palestina. Anunciarei solenemente durante a Assembleia Geral da ONU no próximo mês de setembro”, escreveu Macron nas plataformas X e Instagram.

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Por sua vez, o vice-primeiro-ministro israelense, Yariv Levin, criticou o anúncio e afirmou que é “uma mancha negra na história francesa e uma ajuda direta ao terrorismo”.

Há mais de duas semanas, os negociadores de ambos os lados mantêm conversas indiretas no Catar, na tentativa de concordar com uma trégua que permita, em um primeiro momento, a libertação de dez reféns israelenses vivos, em troca de um número indeterminado de palestinos detidos em Israel.

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O governo de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, anunciou que, após receber a resposta do Hamas, optou pelo retorno da equipe de negociação para prosseguir com as consultas no país.

Netanyahu afirmou que está trabalhando para alcançar outro acordo para a libertação dos reféns.

Ele acrescentou que, se o Hamas interpreta nosso desejo de chegar a um acordo como uma vulnerabilidade, ou como uma chance de impor condições de submissão que pudessem ameaçar o Estado de Israel, eles estão profundamente equivocados.

O embaixador americano Steve Witkoff anunciou o retorno de seus negociadores que estavam no Catar “após a última resposta do Hamas, que demonstra claramente sua falta de vontade em alcançar um cessar-fogo em Gaza”.

Apesar dos esforços dos mediadores, o Hamas não demonstra estar coordenado ou agindo de boa-fé, declarou.

De acordo com uma fonte palestina envolvida nas negociações, a proposta contempla alterações nas condições de acesso à assistência humanitária, a inclusão de mapas das áreas que o Exército israelense deveria evacuar e assegurações sobre o encerramento permanente do conflito em curso desde outubro de 2023.

Israel está sob crescente pressão de organizações humanitárias que denunciam a “morte por fome em massa” que se espalha pela Faixa de Gaza, após quase dois anos de conflito.

A fome ameaça sua sobrevivência.

Os bombardeios e disparos de Israel prosseguem no terreno, e a Defesa Civil de Gaza informou sobre a morte de pelo menos 40 pessoas, entre elas crianças e indivíduos que esperavam receber assistência humanitária.

Após impor um cerco total em outubro de 2023, Israel impôs novamente um bloqueio ao território costeiro palestino no início de março, que aliviou parcialmente no final de maio.

Mais de dois milhões de habitantes de Gaza enfrentam grandes dificuldades para acessar alimentos, medicamentos e combustível.

As crianças caem ao caminhar por falta de alimento, disse Salma Al Qadumi, cinegrafista da AFP, ao relatar sobre seus três sobrinhos, com idades entre quatro e doze anos.

A Agência France-Presse (AFP), Associated Press (AP) e Reuters, juntamente com a emissora britânica BBC, solicitaram que Israel permita a entrada e saída de jornalistas de Gaza, expressando preocupação com o risco de fome para a população.

Bloqueio

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarou na quarta-feira que “uma grande parte” da população de Gaza enfrenta a fome.

Na terça-feira, um hospital de Gaza declarou que 21 crianças faleceram por causa da fome e desnutrição nas últimas 72 horas.

Enquanto o bloqueio do governo israelense causa fome na população de Gaza, trabalhadores humanitários se juntam às mesmas filas por alimentos, arriscando serem alvejados para alimentar suas famílias, indicaram na quarta-feira 111 organizações, incluindo Médicos Sem Fronteiras (MSF), Save the Children e Oxfam, em um comunicado conjunto.

O representante do governo israelense, David Mencer, declarou que “não existe uma fome causada por Israel. Trata-se de uma escassez provocada pelo Hamas, que governa Gaza e que, segundo ele, impede a distribuição da ajuda e a confisca parte dela.”

O Hamas sempre negou essas acusações.

As autoridades israelenses relataram nesta quinta-feira que aproximadamente 70 caminhões carregados de ajuda foram descarregados na noite anterior nos pontos de passagem e que mais de 150 itens já haviam sido recuperados pela ONU e organizações internacionais em Gaza.

As organizações humanitárias, por outro lado, sustentam que as permissões concedidas por Israel são restritas e a coordenação para o envio dos convoyes representa um desafio significativo em uma área de conflito.

O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 em Israel causou a morte de 1.219 pessoas, na sua maioria civis, conforme relatório da AFP com base em dados oficiais.

A operação militar israelense no território palestino resultou na morte de 59.587 palestinos, em sua maioria civis, conforme dados divulgados pelo Ministério da Saúde de Gaza, que são considerados confiáveis pela Organização das Nações Unidas.

Os militantes também capturaram, na mesma data, 251 indivíduos em território israelense, dos quais 49 permanecem em cativeiro em Gaza. De acordo com o Exército, 27 deles teriam falecido.

Fonte por: Carta Capital

Fluente em quatro idiomas e com experiência em coberturas internacionais, Ricardo Tavares explora o impacto global dos principais acontecimentos. Ele já reportou diretamente de zonas de conflito e acompanha as relações diplomáticas de perto.