Wagner Iglecias afirma que Trump busca reafirmar seu poder no hemisfério, enquanto o Brasil adota uma postura pragmática para equilibrar as relações.
Os Estados Unidos retomaram ações militares na América Latina, buscando uma “retomada da influência” na região, segundo o sociólogo e professor da Universidade de São Paulo (USP), Wagner Iglecias, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. Ele destaca que a ordem do presidente Donald Trump à CIA para autorizar operações terrestres na Venezuela é parte de uma “escalada” na disputa por hegemonia no continente.
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Iglecias afirma que essa movimentação representa uma tentativa de reafirmar a influência dos EUA em uma área estratégica da América Latina e do Caribe, como a Venezuela. O professor ressalta que o governo estadunidense busca consolidar a região como um espaço natural para a expansão de seus interesses econômicos, políticos, geopolíticos, militares e culturais.
O sociólogo observa que, desde o fim da Guerra Fria, a configuração global deixou de ser unipolar, e os EUA enfrentam a ascensão de potências como China, Rússia e Índia. Ele explica que o governo Trump representa uma tentativa de recuperar a influência histórica dos Estados Unidos no hemisfério americano.
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Iglecias analisa que o governo Lula (PT) se encontra em uma posição “delicada e sensível” diante da crise. Ele enfatiza que não é do interesse do Brasil que uma potência estrangeira, como os Estados Unidos, inicie uma guerra contra um país vizinho. Ao mesmo tempo, o Brasil busca uma reaproximação com os EUA, marcada por pragmatismo e interesses econômicos mútuos.
O sociólogo também destaca que a crise na Venezuela envolve diretamente a Rússia e a China. Ele menciona que a China possui interesses econômicos significativos na Venezuela, enquanto a Rússia mantém um acordo de cooperação militar com o país. Ambos os países não desejam a queda do governo de Nicolás Maduro ou uma transição de poder abrupta.
Iglecias alerta que uma intervenção militar teria consequências devastadoras, resultando em uma brutalidade contra a população venezuelana e na destruição da infraestrutura econômica do país.
As tensões também se estendem à Colômbia, especialmente após ataques de forças estadunidenses a embarcações no Pacífico. O presidente colombiano, Gustavo Petro, criticou essas ações, considerando-as absurdas e caracterizando-as como execuções em águas internacionais, onde muitas vezes não há direito à defesa.
O sociólogo ressalta que tanto a Venezuela quanto a Colômbia são governadas por forças de esquerda, tornando-as alvos de hostilidade por parte da Casa Branca. Ele conclui que há um fator ideológico, pois os Estados Unidos têm interesse em promover um padrão de governos de direita alinhados à sua política na região.
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Ex-jogador de futebol profissional, Pedro Santana trocou os campos pela redação. Hoje, ele escreve análises detalhadas e bastidores de esportes, com um olhar único de quem já viveu o outro lado. Seus textos envolvem os leitores e criam discussões apaixonadas entre fãs.