Estudo revela o que ocorre no cérebro quando experimentamos um “branco”

Você já se pegou em uma situação em que ficou imóvel, “observando o vazio”, com a mente em branco? Ou que de repente esqueceu o que estava fazendo? Para muitos, isso pode ser um mero devaneio ou um lapso de memória, mas pesquisadores denominam esse fenômeno de “branco mental” ou “mind blanking”, no termo em inglês, e indica que você não está processando nenhum pensamento.

Recentemente, um estudo publicado na edição de julho da revista científica Trends in Cognitive Sciences demonstrou o que ocorre com o cérebro quando o pensamento consciente deixa de acontecer.

Antigamente, o estado de “branco mental” era investigado por meio de estudos e experimentos focados na análise da dispersão mental. Contudo, os pesquisadores defendem que essa condição representa uma vivência distinta, que compreende uma sensação de “sonolência” até uma “ausência total de consciência”, mesmo durante o estado de vigília.

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Os pesquisadores, para uma melhor compreensão do tema, examinaram 80 artigos de pesquisa pertinentes, incluindo estudos conduzidos por sua equipe, nos quais foram monitoradas as atividades cerebrais dos participantes durante o relato de que não estavam “pensando em nada”.

Estudos revelaram que o indivíduo experimenta, em média, de 5 a 20% das vezes esse fenômeno. As experiências mais relatadas incluem distrações, dificuldades de memória e interrupções do pensamento interior, entre outros.

Adicionalmente, os “vazios mentais” frequentemente ocorrem ao término de atividades prolongadas, como exames, após privação de sono ou exercícios físicos intensos. Crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) relatam pensamentos em branco com maior frequência do que indivíduos neurotípicos.

O estado de “branco mental” apresenta características semelhantes às do sono.

Através de análises cerebrais, utilizando exames como ressonância magnética funcional (fMRI) e eletroencefalografia (EEG), os pesquisadores identificaram padrões neurais específicos nas redes frontal, temporal e visual do cérebro antes de um pensamento surgir.

Em momentos de ausência de pensamento, a frequência cardíaca e o tamanho das pupilas reduziram-se, e os cérebros dos participantes exibiram menor complexidade de sinal, um estado comumente observado em indivíduos inconscientes.

Adicionalmente, no estado de “mente vazia”, observaram-se interrupções no processamento sensorial e ondas mais lentas de EEG, características análogas ao sono. Os autores denominaram esse fenômeno como “episódios de sono local”.

O incremento da atividade neural nas áreas corticais posteriores do cérebro também pode resultar no apagamento da mente, tal como ocorre quando o pensamento rápido resulta em uma função cognitiva mais lenta.

Os pesquisadores consideram que o elemento em comum entre as diversas manifestações de “branco mental” pode estar associado a alterações nos níveis de excitação, resultando em disfunção de mecanismos cognitivos relevantes, como memória, linguagem ou atenção.

A equipe acredita que o reconhecimento do apagamento mental como um estado específico em estudos futuros contribuirá para uma compreensão mais aprofundada do fenômeno.

Acreditamos que a investigação do apagamento mental é perspicaz, importante e oportuna, afirma o autor principal, Thomas Andrillon, da Universidade de Liège, em comunicado à imprensa. Perspicaz porque questiona a noção usual de que a vigilância implica um fluxo contínuo de pensamentos. Importante porque o apagamento mental ressalta as diferenças interindividuais na experiência subjetiva. Coletivamente, enfatizamos que as experiências contínuas apresentam nuances, com diversos níveis de consciência e riqueza de conteúdo.

Fonte por: CNN Brasil