Estados Unidos pretende lançar mosquitos do ar para combater praga carnívora

Governo planeja estabelecer “fábrica” para replicar o inseto e combater a praga que afeta a atividade do setor pecuário.

09/07/2025 14:57

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Estados Unidos pretende lançar mosquitos do ar para combater praga carnívora
(Imagem de reprodução da internet).

Centenas de milhões de moscas caindo do céu pode parecer um pesadelo terrível, mas especialistas afirmam que essa enxurrada pode ser a melhor defesa contra uma ameaça devoradora de carne prestes a invadir a fronteira sudoeste dos Estados Unidos.

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A proliferação de moscas-varejeiras do Novo Mundo – a forma larval de um tipo de mosca que se instalam em feridas de animais de sangue quente e os devoram vivos lentamente – tem se disseminado pela América Central desde o início de 2023, com infestações registradas no Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, Guatemala, Belize e El Salvador. A maioria desses países não observava um surto há 20 anos.

A mosca chegou ao sul do México em novembro de 2024, causando preocupação entre autoridades da indústria agrícola dos Estados Unidos e resultando no fechamento de diversos postos comerciais de gado, cavalos e bois próximos à fronteira.

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Já não seria a primeira vez que os Estados Unidos lidam com esses insetos invasores. O país praticamente eliminou as populações dessas moscas nas décadas de 1960 e 1970 através da produção de machos esterilizados e sua liberação aérea para se reproduzirem com fêmeas selvagens.

A estratégia — que consiste em combater moscas com moscas — diminuiu progressivamente a população dos insetos ao impedir a reprodução. Atualmente, com a praga se expandindo para o norte, as autoridades acreditam que a abordagem poderá ser eficaz novamente.

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Atualmente, apenas uma instalação no Panamá produz essas moscas esterilizadas para dispersão, sendo necessárias centenas de milhões adicionais para controlar o surto, conforme carta assinada por 80 parlamentares dos EUA em 17 de junho.

No dia seguinte, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) anunciou planos de instalar uma “fábrica de moscas” em uma cidade ainda não definida, próxima à fronteira do Texas com o México. Contudo, o processo de eliminação da praga pode não ser rápido – nem econômico.

A mosca-varejeira representa um risco significativo à saúde humana, sendo vetor de diversas doenças graves.

A mosca-varejeira do Novo Mundo é a larva parasitária de uma mosca metálica azul, da espécie Cochliomyia hominivorax. Diferente das outras varejeiras nativas do Hemisfério Ocidental, ela se alimenta de carne viva, e não de matéria morta, segundo o entomologista Phillip Kaufman, da Universidade Texas A&M.

As larvas infectam a maioria dos animais de sangue quente, como bois, vacas e cavalos. Já foram identificados casos de infecção em animais domésticos e, ocasionalmente, em humanos.

Após o acasalamento, a mosca fêmea encontra um hospedeiro vivo, pousa em sua ferida e deposita entre 200 e 300 ovos. De 12 a 24 horas depois, os ovos eclodem e as larvas começam a escavar e se alimentar do tecido vivo, causando feridas muito grandes.

Após alguns dias se alimentando com suas mandíbulas afiadas, as larvas caem do corpo do animal, enterram-se no solo e emergem como moscas adultas, explica Thomas Lansford, da Comissão de Saúde Animal do Texas.

Desde o início do surto em 2023, mais de 35 mil infestações já foram registradas, conforme a Copeg (Comissão Panameuropaína para Erradicação e Prevenção da Infestação por Moscas Varejeiras). Aproximadamente 83% dos casos impactam bovinos.

A intervenção em bovinos compreende a limpeza, a aplicação de antisséptico e a proteção das lesões. Sem tratamento, o animal pode falecer em até duas semanas, além de contaminar outros animais, colocando em risco a atividade pecuária.

“É um esforço diário inspecionar nosso rebanho para garantir que não haja infestações”, diz Stephen Diebel, pecuarista e vice-presidente da Associação de Criadores de Gado do Texas e Sudoeste. “Sabemos o impacto econômico enorme que uma infestação causaria.”

Não existem vacinas nem repelentes eficazes contra essa mosca, de acordo com Diebel. A sugestão é evitar procedimentos como marcação e castração nos meses mais quentes, para não gerar feridas que funcionem como pontos de acesso.

Utilizar moscas para combater moscas.

Kaufman explica que, assim como a lagarta se transforma em borboleta, a mosca-varejeira atravessa uma fase de pupa, parecida com uma cápsula escura, antes de se tornar adulta.

Em uma instalação desse tipo, as primeiras gerações são submetidas à radiação gama, o que causa danos aos cromossomos sexuais dos machos. Consequentemente, surgem moscas-estrangeiras que produzem ovos não fertilizados ao se acasolare com fêmeas selvagens.

A radiação não representa risco para humanos ou animais, conforme declarado pelo USDA. As fêmeas acasalam apenas uma vez, durante seus curtos 20 dias de vida, e a introdução de machos estéreis causa o colapso da população em meses ou anos.

As moscas adultas são normalmente introduzidas em ambientes controlados de temperatura e liberadas por aeronaves em áreas rurais, afastadas de centros urbanos.

Uma luta dispendiosa.

A instalação da Copeg atualmente produz 100 milhões de moscas estéreis por semana, liberadas nas áreas afetadas.

O novo centro de dispersão nos EUA estará localizado na base aérea de Moore, no condado de Hidalgo, Texas, e terá um custo de US$ 8,5 milhões (aproximadamente R$ 46,4 milhões). A “fábrica de moscas” ainda não teve seu custo divulgado, mas estimativas parlamentares apontam para cerca de US$ 300 milhões.

Adicionalmente, o USDA investirá 21 milhões de dólares (114,7 milhões de reais) na reforma de uma antiga fábrica no México até o final de 2025.

Apesar dos elevados custos, os investimentos são vistos como cruciais para salvaguardar o setor pecuário, que gera volumes significativos de dinheiro.

Quando se compara US$ 300 milhões (R$ 1,6 bilhão) com os US$ 10 bilhões (R$ 54,6 bilhões) de impacto econômico que essas moscas poderiam causar, é uma troca fácil de entender, diz Diebel. Ter uma fábrica aqui é crucial para controlar melhor a dispersão.

Após o anúncio de 18 de junho, o USDA também informará que iniciará a reabertura de postos comerciais de gado no Arizona, Texas e Novo México, devido aos avanços no monitoramento e controle por meio das moscas estreitas.

A Copeg ainda não respondeu às solicitações por mais informações sobre o progresso das iniciativas de dispersão nos Estados Unidos.

Moscas originárias dos Estados Unidos têm potencial para se disseminar globalmente, aponta pesquisa.

Fonte por: CNN Brasil

Autor(a):

Com uma carreira que começou como stylist, Sofia Martins traz uma perspectiva única para a cobertura de moda. Seus textos combinam análise de tendências, dicas práticas e reflexões sobre a relação entre estilo e sociedade contemporânea.