Especialistas apontam que o novo telefone dos filhos de Trump apresenta semelhanças com aparelhos chineses

A Trump Organization anunciou, na segunda-feira (16), que seu novo serviço sem fio Trump Mobile, que seu próximo smartphone T1 será “orgulhosamente projetado e construído nos Estados Unidos”.

Especialistas afirmaram à CNN Internacional que são céticos de que um smartphone possa ser fabricado nos EUA com base nas especificações, preço e cronograma estabelecidos por Donald Trump Jr. e Eric Trump ao anunciar o telefone.

Especialistas identificaram semelhanças notáveis entre as especificações do T1 e as de um telefone já disponível, produzido na China .

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“A menos que a família Trump tenha secretamente construído uma operação de fabricação segura, em terra ou perto da costa, ao longo de anos de trabalho, sem que ninguém perceba, simplesmente não é possível entregar o que eles estão prometendo”, disse Todd Weaver, CEO da Purism, uma das únicas empresas conhecidas a realmente fabricar um telefone celular nos Estados Unidos.

A CNN Internacional contatou a Trump Organization para obter esclarecimentos.

Em janeiro, a empresa informou que o presidente Donald Trump não participa das operações diárias da Trump Organization, que são administradas pelos filhos mais velhos do presidente.

O anúncio se dá em um momento em que o presidente busca pressionar para que empregos sejam retomados na indústria dos Estados Unidos, notadamente no setor de tecnologia.

Ele incentivou a produção de smartphones por parte de empresas como Apple e Samsung nos Estados Unidos, afirmando que empresas que realizassem a fabricação em outros locais teriam que pagar uma taxa de pelo menos 25%.

A família Trump afirmou, por meio do site da Trump Mobile e em um anúncio oficial na Trump Tower na segunda-feira, que o telefone seria produzido nos Estados Unidos.

Posteriormente, em um trecho de uma entrevista com o influenciador da mídia conservadora Benny Johnson, Eric Trump afirmou que “eventualmente todos os telefones poderão ser produzidos nos Estados Unidos da América”. A CNN Internacional questionou a Trump Organization se o telefone T1 seria inicialmente fabricado nos EUA.

Weaver e Max Weinbach, analista da Creative Strategies, afirmaram, de forma independente à CNN Internacional, que o T1 se assemelha a uma versão do Revvl 7 Pro 5G, produzido pela Wingtech, empresa chinesa que oferece serviços de fabricação para smartphones e outros produtos. O aparelho é vendido por aproximadamente US$ 169 na Amazon.

Weinbach e Weaver fundamentam-se nas especificações apresentadas pela Trump Mobile, abrangendo o corpo do telefone, a bateria e a resolução da câmera. Não existem evidências diretas que relacionem o telefone de Trump ao Revvl 7 Pro 5G ou a qualquer outro aparelho fabricado fora dos Estados Unidos. A CNN Internacional contatou a Wingtech para obter esclarecimentos.

Weinbach afirmou: “Só existem, realisticamente, quatro ou cinco ODM [fabricantes originais de dispositivos] que seriam capazes de fabricar algo assim”, disse. “Todos eles estão sediados na China.”

O Revvl apresenta as mesmas dimensões de tela, autonomia de bateria e capacidade de armazenamento do modelo T1, conforme dados apresentados no site da Trump Mobile, e ambos os aparelhos contam com entrada para fones de ouvido – um recurso incomum em smartphones atuais. Contudo, a câmera do Revvl difere um pouco, e o telefone T1 oferece maior memória.

O dispositivo, denominado Vtex Smart Phone, listado no Made-in-China, apresenta especificações quase idênticas às do T1 – incluindo a mesma capacidade de bateria, configuração de câmera e versão de software suportada, embora não esteja claro se o dispositivo possui entrada para fones de ouvido, e há algumas diferenças na memória e na tela. A CNN Internacional contatou a Shenzhen Vitek Electronics Co., empresa por trás do Vtex Smart Phone, para obter comentários.

Weinbach afirma que é comum que empresas adaptem dispositivos produzidos por ODMs antes de vendê-los sob sua própria marca.

Ele afirmou: “Muitos deles compartilham os mesmos componentes, peças, placas e hardware de antena”. Disse ele: “Então, é possível trocar algumas coisas”.

A Trump Organization declarou, em nota à imprensa, que os produtos da Trump Mobile não são “projetados, desenvolvidos, fabricados, distribuídos ou vendidos” pela empresa ou suas afiliadas e diretores.

Realizar a fabricação de um telefone nos Estados Unidos seria um desafio, senão impossível, para um lançamento em setembro de 2025, em parte porque os EUA não dispõem atualmente das fábricas necessárias. Muitos dos componentes ainda viriam do exterior, afirmou Ryan Reith, vice-presidente do Grupo Worldwide Device Tracker da International Data Corporation.

Reith afirmou: “Qualquer telefone que seja vendido em setembro ou enviado para os EUA em setembro, a maior parte não será fabricada nos EUA. Isso é fato.”

Trump tem pressionado há meses para que a Apple produza seu principal produto, o iPhone, nos Estados Unidos. Contudo, isso implicaria uma mudança drástica na cadeia de suprimentos, afastando-se da China e da Índia. Essa alteração não se limitaria a uma mudança nos locais de produção – esses países também possuem mão de obra altamente especializada, da qual os EUA carecem. O resultado poderia significar aumentos de preço ou mudanças no design do iPhone, estimam alguns analistas.

O autor da Weaver informou à CNN Internacional que, em algum momento do ano passado, intermediários que atuavam com a Trump Organization estavam avaliando o telefone da Purism e discutindo com a empresa os requisitos para sua produção nos Estados Unidos.

A Purism produz o Liberty Phone por US$ 1.999, que se autodenomina um telefone seguro “Fabricado nos EUA”, ainda que precise importar algumas peças de outros países.

Ainda existem algumas áreas que exigem uma cadeia de suprimentos global. Por exemplo, um cristal utilizado em nossos chips GNSS ou GPS é produzido exclusivamente na China, afirmou Weaver.

Weaver ressaltou que a Comissão Federal de Comércio possui “diretrizes rígidas” sobre como declarar que um produto é “Fabricado nos EUA”.

“Acredito que haverá uma enorme quantidade de retrocessos”, declarou Weaver. “Fabricar um telefone nos EUA com os chipsets que você está recebendo, comprar e dar suporte à cadeia de suprimentos americana já é uma tarefa gigantesca, e é por isso que somos os únicos a fazer isso.”

Trump Tower será construída na Arábia Saudita.

Fonte por: CNN Brasil