Especialista da FGV afirma que grandes empresas de tecnologia operam no Brasil “fora das leis” e sem contribuir com impostos
O levantamento indica que o governo investiu R$ 23 bilhões em serviços de tecnologia no período de 2014 a 2025.

Empresas de tecnologia operam no Brasil com pouca incidência de impostos e fornecem serviços ao governo sem transferir conhecimento técnico para o país. A avaliação é do pesquisador Ergon Cluger, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo e do Grupo de Estudos em Tecnologia e Inovações na Gestão Pública (Getip) da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
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“Atualmente, as grandes empresas, de maneira bastante ampla, operam em nosso país quase sem pagar imposto, sem arcar com taxas. É um escritório aqui e outro ali, mas a maior parte das remessas de lucro que elas vão ter vai para fora e elas acabam movimentando, gerando emprego até fora do país”, aponta Cluger. “Elas acabam atuando, muitas vezes, à margem da lei”.
A avaliação fundamenta-se nos dados do estudo Contratos, Códigos e Controle: A Influência das Big Techs no Estado Brasileiro, conduzido por pesquisadores da USP e da Universidade de Brasília (UnB). Entre 2014 e 2025, o governo brasileiro firmou contratos no valor de pelo menos R$ 23 bilhões em licenças de software, serviços de nuvem, segurança digital e produtos de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), um montante superior ao orçamento de vários ministérios.
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Entre junho de 2024 e junho de 2025, os gastos com produtos tecnológicos internacionais totalizaram R$ 10,35 bilhões. O estudo aponta que essa quantia atenderia, por um ano, o pagamento de bolsas a todos os 350 mil mestrandos e doutorandos do país.
Para ele, a resistência das empresas à regulamentação fiscal é similar ao que já ocorreu em países como Austrália e Nova Zelândia. “Eles ameaçam sair, ficam lá um, dois, três meses fora e depois voltam aceitando, por exemplo, divulgar conteúdos jornalísticos no Facebook, que era o que os tinha derrubado. É claro que é um jogo, um embate.”
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Especialista defende soberania digital.
Na avaliação do pesquisador, a soberania digital depende de mais do que apenas tributar as empresas: é preciso desenvolver capacidade tecnológica nacional. “A condição que temos com as chamadas big techs é um eterno aluguel. Em vez da gente fazer ali um pé de meia, juntar um dinheirinho e dar uma entrada para uma casa própria, por exemplo, queremos construir a IA [inteligência artificial] brasileira, infelizmente seguimos pagando um aluguel para o resto da vida”, lamenta.
Cluger defende a iniciativa do governo federal de retomar o debate sobre a taxação das grandes empresas de tecnologia. A proposta ganhou força após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, mas enfrenta resistência no Congresso e forte lobby do setor.
O governo está correto ao propor essa agenda de regulamentação das plataformas, incluindo o debate sobre sua responsabilização e, ainda mais, a responsabilidade fiscal. Se as plataformas operam no Brasil e obtêm lucros no país, elas também precisam contribuir com a parcela destinada à sociedade brasileira.
Para audir e visualizar.
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.
Fonte por: Brasil de Fato
Autor(a):
Sofia Martins
Com uma carreira que começou como stylist, Sofia Martins traz uma perspectiva única para a cobertura de moda. Seus textos combinam análise de tendências, dicas práticas e reflexões sobre a relação entre estilo e sociedade contemporânea.