Na atualidade, com a tecnologia, é necessário ter cuidado para distinguir o que efetivamente aumenta as chances de gravidez do que apenas eleva o custo …
A fertilização in vitro (FIV) é uma das maiores conquistas da medicina moderna. Desde o nascimento do primeiro bebê de proveta, em 1978, a técnica já possibilitou a realização do sonho da maternidade a milhões de pessoas em todo o mundo.
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Contudo, em razão do desenvolvimento desse mercado e do surgimento contínuo de novas tecnologias associadas, também aumenta o risco de converter um tratamento fundamental em um procedimento custoso, repleto de promessas que nem sempre se baseiam na ciência.
Não há dúvidas de que a fertilização in vitro revolucionou o tratamento da infertilidade. Casais com obstrução tubária, baixa reserva ovariana, fator masculino grave ou causas inexplicadas de infertilidade encontram na técnica uma chance concreta de engravidar. Ao longo dos anos, os protocolos ficaram mais seguros, os laboratórios mais sofisticados e os embriões mais bem acompanhados. A evolução é inegável.
Entretanto, isso não implica que todas as tecnologias complementares agregadas ao processo aumentem, de fato, as chances de sucesso. Procedimentos como hatching assistido, “cola de embrião” e exames genéticos adicionais – muitas vezes oferecidos como diferenciais – precisam ser avaliados com cautela. Em alguns casos, podem ajudar. Em outros, apenas elevam o custo emocional e financeiro do tratamento, sem trazer benefícios para o resultado.
A Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) se manifestou de forma explícita sobre o assunto: é necessário ter atenção quanto ao uso excessivo de técnicas que não possuem comprovação científica sólida. A organização afirma que há um número crescente de métodos apresentados como “otimizadores de implantação” ou “impulsionadores da fertilidade”, porém que ainda não demonstraram, em estudos controlados, aumento consistente nas taxas de gravidez ou de nascimentos vivos.
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A utilização de materiais como a “cola de embrião”, substância aplicada no momento da transferência embrionária para facilitar a adesão ao útero, e de biópsias adicionais em embriões sem indicação médica clara, também suscita preocupações. Testes genéticos como o PGT-A, quando aplicados indiscriminadamente em mulheres jovens com embriões morfologicamente normais, também se enquadram nesse alerta, podendo encarecer o processo e, inclusive, diminuir as chances de gravidez se forem mal indicados.
Na reprodução, a abordagem mais segura reside no equilíbrio. É crucial que o tratamento seja planejado de maneira individualizada, levando em conta idade, histórico clínico, exames anteriores e, sobretudo, expectativas realistas. Não tudo que é tecnicamente viável é necessário — e, muito menos, garantido.
A relação entre paciente e equipe médica deve ser baseada na transparência, no diálogo e na decisão compartilhada. É do paciente o direito de compreender o que está sendo proposto, quais são os benefícios reais e quais procedimentos possuem respaldo científico. Questionar não é desconfiança — é participar ativamente de um processo profundamente pessoal e emocional.
O progresso da medicina reprodutiva é motivo de comemoração. Contudo, ele deve caminhar em conjunto com a ética, a informação e o respeito à individualidade de cada paciente. Em última análise, o que realmente importa é multiplicar as chances efetivas de constituir uma família – com ciência, confiança e responsabilidade.
O texto foi escrito pelo ginecologista Luiz Eduardo T. Albuquerque (CRM-SP 61351 / RQE nº 30799 — RQE nº 307991), especialista em Reprodução Assistida e diretor médico do Centro de Reprodução Humana Fertivitro.
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Fonte por: CNN Brasil
Autor(a):
Fluente em quatro idiomas e com experiência em coberturas internacionais, Ricardo Tavares explora o impacto global dos principais acontecimentos. Ele já reportou diretamente de zonas de conflito e acompanha as relações diplomáticas de perto.