Memórias de Ivo Herzog sobre a Morte do Pai
Desde a infância, Ivo Herzog percebeu que a morte de seu pai, o jornalista e cineasta Vladimir Herzog, ia além de uma tragédia familiar. “O velório cheio, o enterro conturbado, o choro da minha mãe. Aquilo não era uma morte comum”, recorda.
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Vlado, como era conhecido, compareceu ao Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) em São Paulo, no dia 25 de outubro de 1975, para prestar depoimento sobre sua relação com o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Após esse dia, ele nunca mais foi visto. Investigações posteriores revelaram que Vlado foi mais uma vítima da ditadura militar.
A Violência da Ditadura
Vladimir Herzog foi torturado e assassinado por agentes do regime militar, que ainda tentaram encobrir o crime forjando um suicídio. Essa manipulação foi confirmada por investigações e depoimentos, incluindo o do fotógrafo Silvaldo Leung Vieira, que registrou a cena do enforcamento. Até hoje, nenhum dos responsáveis foi punido.
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Ivo Herzog, atual presidente do Instituto Vladimir Herzog (IVH), criado em 2009, lamenta que “o Brasil nunca enfrentou de fato seu passado”, optando pela conciliação sem examinar a história. Ele acredita que o assassinato de seu pai é um crime político que afeta todo o país.
Busca por Justiça e Memória
Amelinha Teles, jornalista e ativista, denuncia a hostilidade das instituições em relação às reivindicações dos familiares das vítimas da ditadura. Ela, que também foi presa e torturada, menciona os esforços dos familiares em diversas áreas, como a cultura e a justiça, para buscar reparação.
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O filme “Ainda Estou Aqui” é um exemplo de como a cultura pode abordar a história da repressão. Teles critica a falta de vontade política do Estado, já que as evidências dos crimes são claras e documentadas.
Reconhecimento e Reparação
Por anos, a certidão de óbito de Vlado indicou suicídio, sendo alterada apenas em 2013 para reconhecer lesões e maus-tratos sofridos durante o interrogatório. Em fevereiro de 2025, a família conquistou uma pensão vitalícia para a viúva, Clarice Herzog.
Ivo destaca a importância dessa decisão, que reconhece oficialmente que Vladimir foi vítima de um crime de Estado e representa um gesto de reparação simbólica à sua mãe, que lutou pela verdade.
Impacto na Sociedade
Todos os anos, no aniversário da morte de Vladimir Herzog, Ivo recebe pedidos de entrevistas, o que o levou a fundar o IVH em 2008. Ele acredita que recontar a história é essencial para lidar com as feridas que marcam não apenas sua família, mas toda a sociedade.
Amelinha Teles ressalta que o luto pela ditadura é compartilhado por toda a população, mesmo que muitos não tenham consciência dos fatos. “Nós somos uma sociedade que tem sofrido os efeitos da ditadura até os dias de hoje”, afirma.
Desdobramentos Legais
Em março de 2020, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou seis pessoas envolvidas no assassinato de Herzog, incluindo médicos legistas que atestaram o suicídio. Contudo, em março de 2024, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) arquivou a denúncia, alegando a Lei da Anistia.
A psicóloga social Jereuda Duarte Guerra considera a anistia ampla uma ferida para a sociedade, pois apagou a responsabilidade sobre os crimes cometidos. Em julho de 2018, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Brasil pela falta de investigação e punição dos responsáveis pela morte de Herzog.
Reconhecimento do Estado
Em março de 2025, o Ministério dos Direitos Humanos reconheceu Vladimir Herzog como anistiado político post mortem. Em junho, a família assinou um acordo com o governo federal que reconhece a responsabilidade do Estado pelo crime, prevendo indenização e reparação contínua à viúva.
Em abril de 2024, a Comissão de Anistia pediu desculpas em nome do Estado brasileiro a Clarice pela perseguição sofrida ao longo dos anos.
