A Faixa de Gaza lamenta a perda de seus civis, a crise da fome no enclave, e também a eliminação dos poucos jornalistas que relatam para o mundo os horrores de um conflito que já dura 22 meses.
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No domingo 10, o Exército israelense atingiu deliberadamente uma barraca onde trabalhava um grupo de profissionais, incluindo Anas al Sharif, renomado correspondente da emissora Al Jazeera.
Israel confirmou que o repórter foi o principal alvo do ataque, afirmando que Al Sharif era um “terrorista” que “se passava por jornalista”. A tragédia provocou uma grande indignação, levando a ONU e a União Europeia a questionar as acusações. Para a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), o correspondente da Al Jazeera era “a voz do sofrimento imposto por Israel aos palestinos de Gaza”.
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Contudo, para Rami Abou Jamous, essas denúncias, mesmo que sejam positivas, têm pouco efeito na prática. “Preciso parar a guerra, proteger os civis e a imprensa em Gaza. Mais de 200 jornalistas foram mortos durante esta guerra e, infelizmente, reina uma impunidade total”, afirma.
Segundo a RSF, pelo menos 45 jornalistas estavam desempenhando suas atividades quando foram assassinados na Faixa de Gaza – uma situação que não surpreende Jamous. “Somos todos terroristas aos olhos dos israelenses e, sobretudo, do exército de ocupação”, afirma.
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O fundador do serviço Gaza Press, que oferece apoio e traduções a jornalistas ocidentais, Jamous se emociona ao mencionar seus colegas falecidos e questiona a suposta ligação de Al Sharif com o grupo Hamas. “Anas al Sharif estava em operação 24 horas por dia na frente das câmeras da Al Jazeera, realizando transmissões ao vivo e reportagens. Como ele teria tempo para lançar foguetes ou qualquer outra atividade?”, questiona.
Ao ser questionado sobre fotos do governo israelense de Anas al Sharif com membros do Hamas, Jamous retrucou: “Possuo fotos de diversos jornalistas franceses que tiraram selfies com as mesmas pessoas que estavam com Anas al-Sharif”. “No entanto, nunca o observei portando um fuzil, nenhuma arma de fogo, nem um míssil”, argumenta.
Jamous também aponta uma “inversão de papéis”. “Existem jornalistas que fazem selfies com [Benjamin] Netanyahu, e ele é um criminoso de guerra. Há um mandado de prisão contra ele no Tribunal Penal Internacional”, ressalta.
Jornais atingem o público-alvo.
O idealizador da Gaza Press ainda adverte sobre os perigos dos profissionais da mídia que continuam cobrindo a guerra na faixa de Gaza. Para ele, todos os jornalistas estão no alvo das operações israelenses. “Esse exército de ocupação quer cometer seus crimes sem testemunhas. E a prova disso: não quer que jornalistas estrangeiros entrem em Gaza. Quanto aos jornalistas que já estão em Gaza, querem enterrá-los – porque com o enterro deles, enterra-se também a verdade, a realidade, a imagem, a voz, a escrita.”
Realmente, com o bloqueio israelense da Faixa de Gaza, diversos meios de comunicação globais dependem da cobertura do conflito fornecida por jornalistas palestinos. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciou recentemente sua intenção de autorizar repórteres estrangeiros a trabalhar em Gaza, acompanhados por militares, sem estabelecer prazos.
Consciente dos perigos que ele e seus companheiros enfrentam, Jamous enfatiza a necessidade de manter a cobertura em Gaza. “Reconhecemos muito bem que somos um alvo, que podemos perder nossas vidas. Sabemos muito bem que cada um de nós pode ser morto, em algum momento, e não sabemos como: por bombardeio, queimaduras ou sepultamento vivo. Contudo, é imprescindível prosseguir com o trabalho, para que o mundo compreenda o que vivenciamos na Palestina, e sobretudo em Gaza.”
Fonte por: Carta Capital