É apenas morango, amor

Acontecem e se extinguem rapidamente, como um ‘morango do amor’ em uma mordida.

04/08/2025 12:50

3 min de leitura

É apenas morango, amor
(Imagem de reprodução da internet).

Uma nova tendência se espalhou pelo país. Após o bebê reborn, agora temos o morango reborn. Considerada fruta romântica desde meados do século passado, quando convidar alguém para beber champanhe com morango era o ápice da sedução, ela resurgiu como versão do desejo gastronômico. E desbancou momentaneamente a velha e boa maçã do amor. Fenômenos como este surgem e desaparecem em um instante.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A origem do pecado, assim como a maçã do amor, pode ser rastreada a Londres, por volta de 1890. Contudo, foram os americanos que se dedicaram a transformar a fruta em produto, conforme se informa, através de William W. Kolb. A partir daí, a maçã conquistou o mundo.

No Brasil, existem relatos incertos sobre o início da comercialização do produto em 1959, por uma família espanhola com o sobrenome Farré. A história é imprecisa e pouco clara. Acredita-se que surgiu como um doce romântico para o Dia dos Namorados. Isso justificaria a sua incorporação nas festas juninas, onde as barracas de maçã do amor se estabeleceram de forma permanente.

Leia também:

O Dia dos Namorados surgiu como uma criação comercial, e o dia 12 de junho foi selecionado por coincidir com a celebração do santo casamenteiro. Contudo, era mais vantajoso vendê-lo em grande quantidade do que individualmente. Essa mudança tornou o dia um costume obrigatório em todas as festas, até se propagar pelas ruas dos bairros mais distantes e alcançar as escolas primárias.

Uma confeiteira de Senador Amaral, Minas Gerais, Cláudia Maria Nicoleti, foi identificada como a responsável pelo movimento do morango do amor, produto que conquistou um prêmio no Festival de Inverno da cidade em junho deste ano. Anteriormente, uma confeiteira de Santa Catarina, originária de Itajaí, teria tido o sonho do doce em 2020, durante a pandemia de Covid-19. Contudo, ela desconsidera a alegação de ser a inventora, afirmando ser uma das primeiras a desenvolver a iguaria.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O elemento chave do morango do amor se chama redes sociais. Nada do caramelo, da casquinha crocante ou das variações já existentes. As redes sociais demonstram mais uma vez seu poder de influenciar o consumo, criar hábitos que desaparecem rapidamente, em semanas ou meses, principalmente aqueles sem uma base comercial e empresarial como suporte. O fenômeno diz mais sobre os consumidores do que sobre o produto.

Com a evolução dos sistemas de comunicação, o tempo passou a ser um fator central no comportamento de consumo. Anteriormente, as tendências demandavam meses – até anos – para se estabelecerem. Iniciaram-se com os denominados “usuários iniciais”, seguidas pelos “adotantes precoces” e somente então atingiram o público mais vasto. Nesse momento, os primeiros já haviam migrado em busca da mais recente novidade.

Com a internet, a demanda diminuiu. Surgem aguardos para adquirir lançamentos. Possuir antes tornou-se um diferencial de valor. O tempo é convertido em um fator diferenciador. O novo celular, o lançamento de uma nova edição de um livro, o modelo de tênis de uma marca famosa. Tudo provoca filas e relatos de pessoas se hospedando em frente a lojas. Filas geram fotos e essas fotos movimentam as redes. A internet passou a divulgar o produto e, em conjunto, o tempo de consumo.

Esse comportamento é o desejo de movimentação de empresas. Contudo, frequentemente surge como gatilho de ações espontâneas e desordenadas. Os morangos do amor são um exemplo de como o tempo molda o comportamento. Chaplin, em Tempos Modernos, foi engolido pela máquina e precisou adaptar seus gestos a uma nova velocidade de produção. As redes sociais redefinem nossa relação com o tempo, incentivando uma busca constante por algo novo — e que nos permita fazer uma selfie. E, naturalmente, estarmos entre os primeiros, integrados a uma vanguarda que alegremente come um morango com calda.

Fonte por: Carta Capital

Autor(a):

Com formação em Jornalismo e especialização em Saúde Pública, Lara Campos é a voz por trás de matérias que descomplicam temas médicos e promovem o bem-estar. Ela colabora com especialistas para garantir informações confiáveis e práticas para os leitores.