Miguel Díaz-Canel comentou sobre a crise econômica e os efeitos das medidas implementadas pelo governo.
A Assembleia Nacional do Poder Popular, órgão máximo e instância legislativa do país, concluiu na última sexta-feira (19) seu período de sessões ordinárias. Após cinco dias de intensos debates caracterizados pela crise econômica que afeta o Caribe, o presidente Miguel Díaz-Canel dedicou seu pronunciamento final a solicitar que a resistência seja acompanhada de ações transformadoras.
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O líder apresentou uma extensa análise da situação do país, recordando diversos momentos desafiadores da história cubana e reconhecendo o impacto de efeitos negativos de políticas econômicas implementadas pelo governo para combater a crise.
Há alguns anos, Cuba tem implementado transformações em seu sistema econômico e social que visam atualizar o modelo socialista por meio da incorporação de novos atores econômicos não estatais. Essas transformações ocorrem em um cenário de crise da produção nacional, em grande parte consequência dos efeitos prolongados do bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos contra a ilha.
Isso resultou em uma redução acumulada de 11% no Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos cinco anos.
Para Díaz-Canel, “não é a primeira vez, nem será a última que a Revolução Cubana enfrenta seu ‘momento mais difícil’”, embora sempre nos pareça que nada pode ser pior do que o que enfrentamos no instante em que o vivemos.
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Recordando um percurso histórico com diversas fases de dificuldade enfrentadas pela Revolução, destacou que, nos 66 anos desde a vitória de 1959, ocorreram “desafios do Terceiro Mundo, armadilhas hostis, erros e aprendizados próprios, todos resultado do esforço, nunca abandonado, de alcançar e manter a justiça social como aspiração máxima, em um cenário mundial totalmente desfavorável com o desaparecimento da União Soviética e do bloco socialista”.
Declarou que, da mesma forma que a Revolução passou por sérias dificuldades no passado, também construiu sua história e tradição enfrentando a adversidade. “Não somos um acidente da história. Somos a consequência lógica de uma trajetória de resistência e rebeldia contra o abuso e a injustiça, com razões muito profundas para acreditar em nossas próprias forças. […]. E também aprendemos que, do cerco, só se sai lutando.”
Estabilização e alternativas
Díaz-Canel, contudo, admitiu o impacto dos efeitos adversos das medidas de estabilização que o governo vem implementando para solucionar os efeitos da crise e do bloqueio e mencionou a necessidade de “buscar todas as alternativas possíveis”.
O chefe do executivo afirmou que não se podia executar as políticas que o governo desejava, mas sim aquelas que as circunstâncias exigiram.
Quanto à dolarização parcial da economia, por exemplo, uma medida que tem gerado opiniões conflitantes, ele admitiu que “estamos obrigados a aceitar […], o que, indiscutivelmente, favorece de alguma forma aqueles que possuem certos recursos de capital ou recebem remessas, e se traduz em um indesejado alargamento das brechas que marcam a desigualdade social”.
O mandatário reiterou que um dos principais desafios do governo é ampliar a eficácia da função social redutora da desigualdade com políticas públicas e fiscais que, sem restringir as soluções, combatam a concentração de riqueza nas mãos de poucos, o que agrava a desigualdade e a pobreza.
Díaz-Canel declarou que, com a certeza de que é possível, é preciso focar em outras áreas cruciais do desenvolvimento, como o incremento da captação de divisas, em um cenário extremamente desafiador, onde o governo dos Estados Unidos intensifica seus esforços para impedir a entrada de um único centavo no país.
“Retorno ao que observamos semanalmente nas visitas aos municípios: como alguns, nas mesmas condições de escassez, conseguem superar as dificuldades e apresentar resultados”, ressaltou.
Díaz-Canel anunciou, no plano externo, avanços no fortalecimento das relações estratégicas com China, Vietnã e Rússia, países considerados pilares fundamentais na busca por alternativas ao isolamento imposto por Washington.
Viajou como “uma grande oportunidade” a chance de Cuba se juntar a estruturas multilaterais como a União Econômica Euroasiática e o BRICS, ainda que tenha alertado que “mesmo que leve tempo consolidar essa adesão, deve ser uma prioridade estratégica”.
Reafirmou também o compromisso histórico com aliados regionais, ao declarar: “Permanecerá nosso apoio à Revolução Bolivariana [na Venezuela], à Revolução Sandinista [na Nicarágua] e sempre nação e povo do México”.
Diante da ameaça que, segundo ele, foi imposta por Donald Trump desde sua chegada à Casa Branca, afirmou que “ninguém está a salvo quando o império mais poderoso da história ignora todas as regras das relações internacionais para impor sua vontade hegemônica contra países que pretende subjugar — inclusive, como já vimos, até seus próprios aliados tradicionais”.
Díaz-Canel enfatizou, como elemento central na busca por soluções, a necessidade de revitalizar a participação cidadã, afastando-a dos formalismos. “É importante a participação do povo no controle e em todos os processos que impactam seu bem-estar, sempre a partir de uma perspectiva livre de formalismos, que conecte de fato com os interesses dos que participam”.
Ao concluir sua fala, o presidente mencionou um discurso de Fidel Castro proferido em 1991, no 4º Congresso do Partido Comunista, em um período de grande incerteza após o fim do bloco socialista: “Aqueles que afirmam que nossa luta não teria perspectiva na situação atual e diante da catástrofe ocorrida, precisam ouvir uma resposta inequívoca: o único cenário que jamais teria perspectiva seria a perda da pátria, da Revolução e do socialismo”.
Existem possibilidades, isso é o mais importante, existem possibilidades. Mas as possibilidades são para os povos que lutam, os povos firmes, os povos tenazes, os povos que combatem; as possibilidades existem para um povo como o nosso.
Fonte por: Brasil de Fato
Autor(a):
Com formação em Jornalismo e especialização em Saúde Pública, Lara Campos é a voz por trás de matérias que descomplicam temas médicos e promovem o bem-estar. Ela colabora com especialistas para garantir informações confiáveis e práticas para os leitores.