Despedida a Mino
Essa gíria genovesa que a guerra nos legou é um dos mais marcantes brasileiros que eu conheci.

Mino foi um dos pilares de um Brasil contemporâneo e democrático – Celso Amorim. O prazer da vida, seja em abundância como na juventude, ou gradualmente, como na velhice, é sempre um deleite, principalmente porque, como alertou o perspicaz Barbosa Lima Sobrinho, a ausência de uma opção é indesejável. Contudo, existem encargos, e não se tratam apenas das dores do envelhecimento. O que mais me aflige é a partida dos amigos que partem inesperadamente, alguns sem avisos, outros que, exaustos, caminham mais devagar e, consequentemente, sofrem mais, e nós também. E quanto mais envelheço, e desejo envelhecer indefinidamente, mais Adeus digo, quando mais almejo tê-los ao meu lado, de forma egoísta, buscando suas lições de vida.
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A notícia do falecimento de Mino Carta. Prevista, esperada, contudo, impacta como um golpe.
Da sua trajetória profissional, quase tudo foi concluído, e muito ainda será registrado. Em setenta anos de atuação como jornalista, experimentou-se de tudo: focuês, repórter, redator, colunista, editor, correspondente internacional, explorador de novos campos, idealizador de jornais e revistas, transformador da imprensa brasileira, em cuja independência defendeu-se com firmeza, porém, amadurecido e sem fantasias.
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Foi mais: pintor e romancista. Sua última invenção, suspeito que a mais querida, é esta CartaCapital, que dirigiu e conseguiu manter em pé por 40 anos, e onde me encontrei, para que ela me tornasse amigo e seu admirador.
Esse jovem genovês, que a guerra lhe proporcionou, é um dos mais notáveis brasileiros que conheci. E isso me cativou.
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Manuela e seus companheiros da CartaCapital continuam com seu trabalho, sua luta. É necessário.
Fonte por: Carta Capital
Autor(a):
Júlia Mendes
Apaixonada por cinema, música e literatura, Júlia Mendes é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de São Paulo. Com uma década de experiência, ela já entrevistou artistas de renome e cobriu grandes festivais internacionais. Quando não está escrevendo, Júlia é vista em mostras de cinema ou explorando novas bandas independentes.