Deputados rejeitam veto de Milei e manifestantes comemoram em Buenos Aires

O recente revés para o ultraliberal ainda necessita de aprovação do Senado.

17/09/2025 22:54

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(Imagem de reprodução da internet).

Em meio a manifestações de milhares de pessoas, houve a rejeição pela Câmara dos Deputados aos vetos propostos pelo presidente Javier Milei às leis de financiamento para universidades públicas e ao principal hospital pediátrico da Argentina, representando um novo obstáculo para o líder ultraliberal, que ainda necessita da aprovação do Senado.

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As medidas proibidas por Milei no início do mês previam ajustar o orçamento das universidades em função da inflação de 2023 e elevar os salários de professores e colaboradores administrativos. Além disso, estabeleciam um estado de emergência sanitária, com a alocação de recursos principalmente ao hospital Garrahan.

No Congresso, onde Milei não detém a maioria, os deputados votaram contra a derrubada dos vetos. A oposição agora requer que o Senado também rejeite as medidas por uma maioria de dois terços.

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Devemos defender os estudantes, os trabalhadores docentes e os não docentes que sofreram com a perda de mais de 30% do poder de compra de seus salários, decorrente da política econômica implementada pelo governo neste ano e oito meses.

Ao tomar conhecimento do resultado do voto na Câmara, um dos locais de maior concentração dos últimos meses, os manifestantes saltaram e se abraçaram, cantando com entusiasmo “a pátria não se vende”.

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Os ministérios da Saúde e Educação sofreram os impactos mais significativos do endurecimento implementado pelo presidente, que justifica os vetos argumentando que essas leis ameaçam a estabilidade financeira, pilar de seu governo.

“Entendemos que estamos propondo uma solução que será mais prejudicial do que o problema em si”, afirmou o deputado governista Santiago Santurio. “O dinheiro que entra por um lado irá para o outro com mais despesas, comprometendo os impostos, gerando endividamento”, complementou.

Já passou o pior.

Milhares de estudantes, professores, médicos e membros de sindicatos participaram do debate dos deputados, com cartazes como “não ao veto” e “salvemos o Garrahan”.

A educação e a saúde estão em risco, é fundamental que tenhamos acesso à educação de qualidade que a Argentina nos proporciona. Não podemos permitir que nos roubem o que conquistamos com tanta luta ao longo da história”, afirmou a AFP Zoe Gómez, de 23 anos e recém-formada em Psicopedagogia pela universidade estatal de San Martín.

Milei apresentou, na segunda-feira, um projeto de orçamento para 2026 que contempla incrementos nas destinações para a saúde e a educação.

Os reitores universitários avaliaram em nota conjunta que este programa “ratifica e intensifica o ajuste” por não contemplar a compensação das perdas de receita.

O chefe do executivo, que em seu pronunciamento garantiu que “o pior já passou”, segue implementando o plano orçamentário de 2023, considerando a redução da inflação, que atingiu 211% em 2023, 118% em 2024 e quase 20% até o presente momento.

Milei enfrenta sua pior situação política desde sua posse em dezembro de 2023, após o resultado negativo nas eleições legislativas na província de Buenos Aires, com uma derrota de 14 pontos para o peronismo de centro-esquerda.

O governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, que após a eleição provincial se apresenta para alguns como uma possível figura central da oposição em substituição à ex-presidente Cristina Kirchner, que cumpre pena em prisão domiciliar, celebrou o resultado.

O povo retornou em massa para manifestar ao Milei que as universidades não são vendidas, os hospitais não são desfinanciados e os direitos não são negociados, escreveu no X após a votação.

A Argentina realizará eleições legislativas nacionais em 26 de outubro.

Ademais, em setembro, o Congresso revogou um veto presidencial e manteve em vigor uma legislação que destinava mais recursos para pessoas com deficiência, uma temática sob questionamentos de corrupção envolvendo a irmã do presidente, Karina Milei.

Fonte por: Carta Capital

Marcos Oliveira é um veterano na cobertura política, com mais de 15 anos de atuação em veículos renomados. Formado pela Universidade de Brasília, ele se especializou em análise política e jornalismo investigativo. Marcos é reconhecido por suas reportagens incisivas e comprometidas com a verdade.