Gregório Bezerra: Um Revolucionário na História do Brasil
“Em 1935, eu tinha armas, mas não tinha uma massa organizada. Em 1964, eu tinha o povo organizado, pronto para revolução, mas não tinha as armas.” Essa frase é de Gregório Bezerra, um dos principais líderes do Partido Comunista do Brasil. Ele foi uma figura central na Intentona Comunista de 1935, um levante popular durante o governo de Getúlio Vargas. Gregório mobilizou camponeses, organizou operários e foi deputado federal, sendo preso e torturado logo após o golpe militar de 1964.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
No dia 21 de outubro, data que marca os 43 anos de sua morte, o Brasil de Fato relembra momentos significativos da vida de Gregório, que se entrelaçam com a história do país. Nascido em Panelas, Pernambuco, ele começou a trabalhar no campo aos 4 anos para ajudar seus pais. Fugiu para o Recife na infância, onde viveu nas ruas e, na juventude, trabalhou como pedreiro, carregador e carvoeiro. Foi nesse contexto de dificuldades que se aproximou das lutas sindicais e das ideias socialistas, influenciado pela Revolução Russa.
Início da Militância e Formação Política
“Em 1917 cheguei a ser ajudante de pedreiro, arrumador de armazéns e até carvoeiro. Nos serviços de construção civil foi que me demorei mais. Participei, então, das lutas sociais do operariado pernambucano. Em 1922 ingressei no Exército”, relata Gregório em seu livro de memórias. Após ser preso, ele se alistou e ingressou nas Forças Armadas, onde começou a se familiarizar com conceitos políticos importantes da época.
LEIA TAMBÉM!
O historiador Pablo Porfírio, da UFPE, destaca que “o Exército brasileiro, antes da Segunda Guerra Mundial, ainda tinha setores que dialogavam com as ideias de esquerda. Gregório é produto desse contexto.” Gregório descreve sua transformação: “Descobri a verdade, finalmente. Inspirado no exemplo e na luta heróica do povo soviético, achei o caminho que há muito procurava: – o caminho da libertação do Proletariado e das massas Camponesas.”
Levante Comunista e Intentona
Em 1935, a Aliança Nacional Libertadora (ANL) surgiu como uma frente política que unia tenentes, comunistas e outras lideranças insatisfeitas com Vargas. O movimento buscava proteger o Brasil do fascismo, propondo a suspensão da dívida externa e melhorias sociais. A ANL organizou a Intentona Comunista, o primeiro levante armado dos comunistas no país, que começou em Natal e se espalhou por Pernambuco, mas acabou fracassando.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
O levante resultou em 700 mortes, conforme relata Ruy Castro em “Trincheira Tropical”. Gregório, que foi gravemente ferido e preso, enfrentou torturas e recebeu a trágica notícia da morte de seu irmão, José Lourenço Bezerra, após 14 dias de tortura. “Fui julgado e condenado a 27 anos e meio de reclusão”, conta em suas memórias.
Carreira Política e Repressão
Com o fim do Estado Novo em 1945, Gregório foi eleito deputado constituinte pelo Partido Comunista do Brasil, tornando-se um dos mais votados de Pernambuco. O partido, com o retorno de Luiz Carlos Prestes, formou uma bancada expressiva de 15 parlamentares, refletindo a atmosfera política da época. Recife e outras capitais do Nordeste viviam um clima de crescente influência comunista.
Em 1948, após a criminalização do Partido Comunista pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, Gregório teve seu mandato cassado e passou a viver na clandestinidade. O Congresso Nacional, naquele ano, cassou os mandatos dos parlamentares comunistas, e ele se dedicou à organização sindical em outros estados.
O Golpe de 1964 e a Tortura
Com a chegada dos militares ao poder em 1964, Gregório estava organizando camponeses em Pernambuco. No dia seguinte ao golpe, foi preso e submetido a torturas públicas pelo Exército na Praça de Casa Forte. Ele foi espancado e teve os pés queimados com ácido, um episódio que se tornou um símbolo da brutalidade do regime militar.
Condenado a 19 anos, Gregório foi libertado em 1969, após a oposição armada exigir sua soltura em troca do embaixador americano Charles Elbrick. Após um período de exílio em Moscou, retornou ao Brasil com a anistia em 1979. Candidatou-se a deputado em 1982, mas não assumiu o cargo, permanecendo na suplência. Faleceu no ano seguinte, aos 83 anos, em São Paulo.
O historiador Pablo Porfírio reflete sobre a memória de Gregório e outros torturados: “As vítimas mais lembradas são as de 1968. As de 64, especialmente as ligadas à questão da terra, ainda precisam ser reconhecidas. Falar da terra no Brasil é mexer nas estruturas de poder mais profundas.”