‘Daniela Mercury fala sobre perdas e seu novo álbum ‘Cirandaia’ em entrevista ao BdF’
Em entrevista ao BdF, a cantora fala sobre seu novo álbum ‘Cirandaia’, o papel político da arte e a importância da democracia.
Daniela Mercury Lança o Álbum ‘Cirandaia‘ e Aborda Temas Sociais
Após mais de quatro décadas de carreira, Daniela Mercury apresenta seu 26º álbum, ‘Cirandaia’. A nova obra mistura ritmos afro-brasileiros, vozes indígenas e colaborações com artistas como Davi Kopenawa, Ehuana Yaira, Dona Onete, Geraldo Azevedo, Chico César e Alcione. O disco explora temas como justiça climática, liberdade feminina e amor como força política, reafirmando seu compromisso com a arte como forma de engajamento.
Em entrevista à Radio BdF, Mercury defende que toda arte é, por natureza, política, mesmo que não se manifeste de forma explícita. “Somos seres políticos, e a arte inevitavelmente reflete isso. Não precisa ser propaganda, mas deve ter qualidade para transmitir significado através da poesia”, afirma. “A arte exige coragem, é nossa rebelião contra a violência”, acrescenta, citando sua canção ‘Galope’.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Reflexões sobre Redes Sociais e Cultura
A cantora também reflete sobre o impacto das redes sociais, o legado dos blocos afro na Bahia e o desafio de manter uma voz crítica em tempos de ódio e intolerância. “Sim, perco oportunidades e patrocínios. Mas aprendi que não vivemos sozinhos, e aceito esse preço com tranquilidade”, diz. “Precisamos de alegria, fé em nós mesmos e a crença de que podemos mudar o mundo.”
Leia também:

Daniela Mercury comemora 60 anos com festa surpresa incluindo blocos afro da Bahia

Daniela Mercury declara-se “despedaçada” após o falecimento da amiga Preta Gil

Pepita anuncia a adoção de nova filha e o lançamento do próximo álbum: “Hora Certa”
Na conversa, Mercury aborda como a música pode ser uma forma de discutir questões urgentes, alcançando até aqueles que evitam a política. “A arte é política por natureza, mas deve ser também bela e significativa. Minha canção com Davi Kopenawa e Ehuana Yaira é um trabalho coletivo que honra a visão de mundo yanomami e sua luta pela defesa da floresta”, explica.
Celebrando a Música e a Cultura Brasileira
A primeira faixa, “Axé Salvador”, destaca os blocos afro da Bahia. “O 40º aniversário da Axé Music me inspirou a celebrar suas raízes. A canção reúne ritmos de Ilê Aiyê, Olodum e Cortejo Afro, misturando samba-reggae e percussão afro-baiana”, conta. Esses grupos revolucionaram a música brasileira com suas melodias de chamada e resposta.
Mercury ressalta que a Axé Music é mais do que um gênero; é um manifesto que trouxe artistas negros para o centro das atenções. “Axé nasceu das ruas e continua ligado ao Carnaval e à vida cotidiana em Salvador. Hoje, é mais diverso do que nunca, absorvendo influências globais enquanto se mantém fiel às suas raízes locais”, afirma.
O Papel do Artista e a Luta por Direitos
Sobre sua visão de artista, Mercury menciona que se considera como “extraterrestres”, vivendo entre mundos e guiados pela sensibilidade. “Minha canção ‘Estranhos Terrestres’ fala sobre artistas como sonhadores que fazem beleza a partir do caos”, diz. Ela recorda seu show em 1992 no MASP, que foi um marco em sua carreira. “Foi surreal, cheguei de Bahia sem dinheiro e, quando milhares de pessoas apareceram, foi avassalador”, relembra.
Mercury também fala sobre seu ativismo em defesa dos direitos LGBT+. “Perdi patrocinadores e espaços, não apenas por ser LGBT, mas por me manifestar. Muitos ainda têm dificuldade em aceitar a diversidade. No entanto, a internet ajudou a expor a intolerância e conectar as pessoas”, comenta.
Compromisso com a Cultura e a Democracia
Recentemente, ela se uniu a artistas como Caetano Veloso e Chico Buarque em protestos contra o “Projeto de Lei da Impunidade”. “A democracia precisa de vozes. Quando Caetano chamou, todos nos unimos, como fizemos no Ato pela Terra em Brasília. Esses artistas me ensinaram que arte e ativismo andam juntos”, afirma.
Mercury acredita que o Brasil está lentamente reconstruindo suas políticas culturais após anos de descaso. “O Ministério da Cultura foi desmantelado, mas os artistas resistiram. Leis como Aldir Blanc e Paulo Gustavo restauraram recursos e dignidade”, destaca.
A Liberdade e o Futuro da Arte
Por fim, ela reflete sobre o que significa ser livre em 2025. “Significa criar ‘Cirandaia’ da maneira que quero, celebrando meu casamento de 13 anos com Malu e reafirmando o amor apesar do preconceito. Minha liberdade é viver da arte, escolher alegria, humanidade e paz”, conclui, citando Paulo Freire: “Beleza e alegria são o que precisamos para continuar lutando, pois a vida em si é a luta.”
Autor(a):
Bianca Lemos
Ambientalista desde sempre, Bianca Lemos se dedica a reportagens que inspiram mudanças e conscientizam sobre as questões ambientais. Com uma abordagem sensível e dados bem fundamentados, seus textos chamam a atenção para a urgência do cuidado com o planeta.