Da alegação de “nunca serei preso” ao julgamento, a longa sombra do 7 de setembro obscurece Bolsonaro

Com derrotas eleitorais, debilitado física e sob regime de prisão domiciliar, o ex-capitão busca manter capital político aguardando um perdão.

07/09/2025 9:19

2 min de leitura

Da alegação de “nunca serei preso” ao julgamento, a longa sombra do 7 de setembro obscurece Bolsonaro
(Imagem de reprodução da internet).

Em 2021, com o Brasil já ultrapassando 580 mil mortes pela Covid-19, Jair Bolsonaro transformava, pela primeira vez, o feriado do 7 de Setembro em laboratório de intimidação ao Supremo Tribunal Federal.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Na Avenida Paulista, perante dezenas de milhares de apoiadores, definiu um adversário: Alexandre de Moraes, ministro responsável pelas investigações sobre notícias falsas e milícias digitais. “Qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes este presidente não cumprirá”, afirmou, em um gesto de ruptura que, naquele momento, parecia impensável até mesmo para o ex-capitão. “Ele, para nós, não existe mais.”

Os momentos que precederam o pronunciamento foram direcionados a outro objetivo. Em Brasília, Bolsonaro instigou Luiz Fux, então presidente do Supremo: “Ou o chefe desse Poder processa o seu, ou esse Poder pode enfrentar o que nós não queremos”. Consistia em um confronto direto à autoridade do Judiciário.

Leia também:

Em São Paulo, a declaração retornou à sua habitual repercussão. Alegou sobre o sistema de votação eletrônica, afirmou que somente sairia da Presidência “preso, morto ou vitorioso” e acrescentou, em tom de desafio, que jamais seria preso. A bravata produziu um efeito imediato: no dia seguinte, o ex-presidente Michel Temer redigiu uma carta em nome de Bolsonaro, numa tentativa de amenizar a situação. Temer chegou a declarar que não havia risco de radicalização. Os anos seguintes demonstraram o contrário.

Jamais realizadas, as ameaças de ruptura soam hoje quixotescas. Contudo, expuseram com clareza a lógica central do golpismo bolsonarista que atualmente o Supremo Tribunal Federal julga.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A partir de 2 de setembro de 2025, o judiciário analisa o papel do denominado núcleo duro da trama golpista. Na audiência, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, não se limitou à semântica das alegações. Caracterizou o 7 de Setembro pelo que foi: o uso estratégico de uma data simbólica para promover desconfiança no sistema eleitoral e preparar o cenário para a rejeição do resultado das eleições. Em outras palavras, a preparação do plano golpista que se intensificaria no ano seguinte.

A defesa de Jair Bolsonaro tenta analisar cada incidente de forma independente. O Ministério Público, por outro lado, busca evidenciar uma progressão em direção ao dia 8 de janeiro.

Quatro anos após o episódio, o ex-senador confronta o cenário que buscou, a força que tentou evitar. Depreciado nas eleições e sob regime de prisão domiciliar, o que em si ele considerava impossível, depende de seus apoiadores no Congresso para tentar aprovar, de forma imediata e sem critérios, uma anistia que o livre da reclusão. O processo deve ser concluído em 12 de setembro, com uma pena máxima que pode atingir 43 anos. Permanece tentando ampliar sua influência o suficiente para indicar um substituto em 2026.

Fonte por: Carta Capital

Autor(a):

Ambientalista desde sempre, Bianca Lemos se dedica a reportagens que inspiram mudanças e conscientizam sobre as questões ambientais. Com uma abordagem sensível e dados bem fundamentados, seus textos chamam a atenção para a urgência do cuidado com o planeta.