Crise na taxação de Trump afasta Tarcísio de Freitas da disputa eleitoral de 2026
A defesa arriscada de Bolsonaro e o confronto com Eduardo causam prejuízo político para o governador.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem enfrentado críticas tanto nos círculos da elite econômica quanto entre os bolsonaristas. Após a publicação da carta de Donald Trump ameaçando o Brasil com tarifas, o chefe do Executivo paulista adotou uma reação excessivamente rápida e necessitou alterar seu discurso rapidamente: inicialmente, defendeu Bolsonaro e atribuiu a responsabilidade pela tarifa a Lula; após críticas, decidiu recalcular a rota e passou a declarar que a anistia não deve ser mais importante do que a economia brasileira.
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Em 11 de julho, Tarcísio se reuniu com o chefe da Embaixada dos Estados Unidos e, no dia seguinte, exaltou a diplomacia brasileira, afirmando que questões políticas necessitam ser suspensas. “Precisamos estar de mãos dadas agora para resolver”, declarou.
O reposicionamento provocou o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se estabeleceu nos Estados Unidos em março para trabalhar com o governo Trump em busca da anistia do pai, e gerou um confronto com Tarcísio contra o bolsonarismo. Eduardo utilizou as falhas de Tarcísio para criticá-lo.
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Na segunda-feira (14), o filho de Jair Bolsonaro afirmou que o governador foi “desrespeitoso” por tentar articular conversas com representantes estadunidenses sem informá-lo previamente. “Tarcísio não tem nada a querer costurar por fora uma decisão. O Tarcísio tem que entender que o filho do presidente está nos Estados Unidos e tem acesso à Casa Branca. Qualquer tentativa de nos dar bypass [atravessar] será freada”. Na terça-feira (15), Eduardo ratificou as críticas e acusou Tarcísio de “subserviência servil às elites”.
Segundo o cientista social e professor da ESPM Paulo Niccoli Ramirez, a mudança de Tarcísio prejudica em dobro sua imagem: primeiramente, desagradando o mercado e a indústria ao defender Bolsonaro à frente da economia; em segundo lugar, irritando os bolsonaristas por abandonar o apoio do capitão.
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O professor recorda que Tarcísio sempre se posicionou próximo ao apoio ao bolsonarismo. Isso, por si só, já gerava certo incômodo da ala bolsonarista, sobretudo da família Bolsonaro, que nunca o considerou um nome de confiança para herdar o capital político de Jair.
A postura de Tarcísio permite que ele se distancie de discursos radicais e apresente-se como uma figura da direita moderada, mas também levanta questionamentos entre os apoiadores fiéis do bolsonarismo. A defesa [de Jair Bolsonaro e, portanto, da tarifa] causou um desconforto no empresariado de São Paulo, que apoia a candidatura de Tarciso à presidência, assim como seu governo no estado. Isso fez com que Tarcísio recalculasse a rota, adotando um discurso mais conciliador com o governo federal para tentar negociar as taxas.
Para Ramirez, o problema reside no fato de, ao tentar se aproximar, o governador perdeu os dois bondes. O espaço de diálogo e de credibilidade com o empresariado paulista, anteriormente mantido por Tarcísio, passa a ser exercido pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB-SP), que tem recebido elogios dos setores produtivos.
Segundo Ramirez, “questões econômicas são mais pragmáticas, independentemente do governo ser de esquerda ou de direita, e o que o empresariado esperava era que Tarcísio defendesse os interesses dos empresários do estado”.
Sua postura, ao mesmo tempo, reduz sua imagem e capacidade de união no campo bolsonarista. Para o professor, Tarcísio está se isolando politicamente e dificilmente terá o apoio dos bolsonaristas na corrida eleitoral de 2026, seja como um candidato à presidência ou até mesmo como governador.
Claudio André de Souza, cientista político, aponta para duas teses conflitantes para a candidatura de Tarcísio: uma que o defenda como fiel apoiador de Bolsonaro, e outra que exija um discurso que abranja a base bolsonarista, mas o posicione mais ao centro. “Essas estratégias entram em choque. Não há como ser uma figura ligada a Bolsonaro e desenvolver, neste momento, uma relação para representar os interesses das elites econômicas afetadas pela taxação.”
Souza aponta uma clara divisão na direita, e Bolsonaro pode estar buscando, dentro do próprio grupo familiar, afastar Tarcísio da disputa pela sucessão e construir uma alternativa em caso de sua inelegibilidade.
Diante de uma hipotética alteração da corrida eleitoral, Paulo Niccoli Ramirez acredita que Tarcísio deve fortalecer sua proximidade com empresários e indústrias com o objetivo de se manter minimamente competitivo. “Essa retração visa reduzir ao máximo o impacto negativo, fazendo com que Tarcísio se aproxime novamente do empresariado, visando as eleições do governo, caso não possa ser candidato à presidência. Eu duvido que seja, porque o estrago foi feito. Além de ter manchado a sua imagem, Tarcísio talvez não chegue a lugar nenhum”.
Fonte por: Brasil de Fato
Autor(a):
Sofia Martins
Com uma carreira que começou como stylist, Sofia Martins traz uma perspectiva única para a cobertura de moda. Seus textos combinam análise de tendências, dicas práticas e reflexões sobre a relação entre estilo e sociedade contemporânea.