Condenação efetivada e a medalha de honra a Jair Bolsonaro

Anteriormente, o presente funcionava para fortalecer laços. Atualmente, age como uma resistência simbólica, um fetiche por um poder em declínio.

08/09/2025 11:07

3 min de leitura

(Imagem de reprodução da internet).

Possuo uma obsessão particular: registrar os indivíduos que receberam a medalha 3i, condecoração metálica ligeiramente maior que uma moeda, com a inscrição “imorrível, imbrochável e incomível” e a imagem de Jair Bolsonaro apontando o dedo, acompanhada da legenda “Clube Bolsonaro”. No verso, encontra-se a fotografia de uma motociata.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Desde 2021, ele distribui essas medalhas em eventos oficiais e informais. Frequentemente, tira uma do bolso e oferece, estabelecendo um tipo de honraria paralela. Não há decreto nem regulamento.

Recentemente, observei a cena em Belo Horizonte, onde Bolsonaro concedeu uma condecoração ao vice-governador Mateus Simões. O embaraço fazia parte da apresentação. O auditório riu e aplaudiu. A imprensa documentou o evento.

Leia também:

Simões aceitou com expressão hesitante. Conhece a necessidade do parecer de Bolsonaro para concorrer ao governo de Minas Gerais, confrontando adversários de direita mais populares, como o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) e o deputado Nikolas Ferreira (PL).

Inicialmente, Bolsonaro afirmava que existiam apenas 150 unidades, buscando valorizar sua medalha com a estratégia de marketing da escassez. A lista que compilei já totaliza 68 nomes. Caso continue assim, pode ser uma homenagem não intencional a 1968, ano do AI-5, o ato mais violento da ditadura que ele tanto admira.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Algumas entregas geraram repercussão internacional. O jogador de futebol Neymar, o presidente argentino Javier Milei e o premiê húngaro Viktor Orbán receberam a insígnia.

Há, inclusive, um vídeo antológico da entrega a Orbán. Eduardo Bolsonaro explica em inglês o significado dos adjetivos. “Imorrível” é nunca morrer. “Imbrochável” é nunca falhar na cama. Orbán sorri amarelo. O que pretendia ser um gesto diplomático termina em vergonha alheia para quem assiste. E justamente por isso funciona: no universo bolsonarista, o excesso e o ridículo parecem ser uma demonstração de confiança.

Entre os agraciados está o deputado Éder Mauro (PL-PA). O vídeo da condecoração mostra dois homens engravatados, performando para um celular e se dizendo imbrocháveis: Bolsonaro no papel de tiozão inconveniente e o paraense quase saltitando com a areia de “quero ser como você”. Viajei a Belém há três anos para acompanhar Éder Mauro num 7 de setembro.

Testemunhei não só sua retórica violenta, já que ele se orgulha de ter matado em serviço quando era policial, como também uma estética bolsonarista muito bem construída: bandeiras, músicas, motos e gestos ensaiados. A versão à direita de uma “mística” que movimentos sociais cultivam há décadas. O impressionante é como o bolsonarismo construiu a sua em tempo recorde.

Bolsonaro já afirmou ter oferecido presentes a Vladimir Putin e Donald Trump, porém não existem evidências. No Brasil, a situação é extensa. Valdemar Costa Neto exibe a sua. Gilberto Kassab recebeu algo em junho. Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo, obteve um presente logo após Pablo Marçal se declarar “um dos poucos”. Jorginho Mello, governador de Santa Catarina, e Daniel Vilela, vice-governador de Goiás, também.

Além de Neymar, o ex-jogador Emerson Sheik também posou com a medalha. O jornalista Alexandre Garcia foi homenageado no aniversário. O colunista de celebridades Leo Dias recebeu o prêmio após uma entrevista. Também escrevi sobre o caso de Roberto Katsuda, empresário do setor de máquinas para garimpo na Amazônia, que recebeu a mesma honraria.

A previsão de que Jair Bolsonaro (PL) enfrentará condenação por tentativa de golpe de Estado é considerada alta por juristas, jornalistas e, em sua maioria, especialistas, com exceção dos apoiadores do ex-presidente.

Com a condenação se aproximando, a medalha ganha outro peso. Antes, servia para consolidar vínculos de poder. Agora, opera como resistência simbólica, um fetiche de um poder em declínio.

Bolsonaro pode ser condenado, porém não deixará de influenciar, mantendo suas ideias em circulação, ligando governadores, vereadores, empresários, celebridades e pessoas anônimas, muitos deles beneficiados com a medalha dos 3 Is. Esses símbolos asseguram a manutenção da posição, mesmo após o ex-capitão ser julgado.

Fonte por: Carta Capital

Autor(a):

Com formação em Jornalismo e especialização em Saúde Pública, Lara Campos é a voz por trás de matérias que descomplicam temas médicos e promovem o bem-estar. Ela colabora com especialistas para garantir informações confiáveis e práticas para os leitores.