De 1º a 7 de agosto é celebrada a Semana Mundial da Amamentação, parte das ações do Agosto Dourado, mês dedicado à promoção do aleitamento materno. A amamentação é essencial para o desenvolvimento saudável do bebê, mas, em alguns casos, alterações anatômicas podem comprometer esse processo logo nos primeiros dias de vida. Uma das mais discutidas é a anquiloglossia, conhecida popularmente como língua presa.
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A pediatra Renata Castro, especialista em neonatologia, explica que a anquiloglossia ocorre quando o frênulo lingual, aquela membrana que fica sob a língua, é mais curto, espesso ou tensionado do que o habitual, dificultando os movimentos da língua. “Isso pode interferir na pega correta durante a amamentação, gerar dor para a mãe, prejudicar a sucção e até comprometer a transferência eficiente do leite”.
Diagnóstico da Anquiloglossia
A anquiloglossia pode afetar de 4% a 11% dos recém-nascidos, porém o número de diagnósticos e cirurgias aumentou consideravelmente nos últimos anos, gerando preocupações sobre possíveis excessos. “Nem toda frenulação visível é um problema, e nem toda dificuldade na amamentação tem a ver com língua presa”, alerta a pediatra.
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O diagnóstico deve ser realizado com base em critérios clínicos e funcionais, de maneira atenta e personalizada. Além do exame físico, é essencial observar o comportamento da mamada, o padrão de sucção e os sinais relatados pela mãe, como dor, estalos, engasgos ou perda de peso do bebê. “Mais do que analisar a anatomia da língua, é preciso avaliar como o bebê mama, como ele se organiza para sugar e engolir, e como essa interação está afetando o vínculo mãe e bebê”, explica Renata Castro.
Tratamento para a Anquiloglossia
Em casos necessários, o manejo da anquiloglossia pode envolver o acompanhamento com fonoaudiólogos ou a realização de um procedimento breve denominado frenotomia, que consiste no corte do frenulo lingual. Estudos científicos indicam que, quando apropriadamente indicada, a frenotomia pode amenizar a dor da mãe e otimizar a amamentação, ainda que os efeitos diretos para o bebê permaneçam sendo investigados em maior detalhe.
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Avaliação Profissional Integrada
Para Renata Castro, o principal risco atual não é a ausência de acesso ao diagnóstico, mas a rapidez em indicar procedimentos sem uma análise integrada. “Observamos um cenário de diagnósticos em excesso, em que a disseminação do tema, frequentemente impulsionada por redes sociais e comportamentos não fundamentados em evidências, resulta em intervenções precoces e, por vezes, desnecessárias”, ressalta.
A médica pediatra ressalta que a avaliação deve ser sempre conduzida por uma equipe multidisciplinar, compreendendo pediatras, fonoaudiólogos e, quando necessário, profissionais da odontologia com experiência em aleitamento materno. “Cada bebê é único. Nem toda fralda curta precisa de corte, mas todo bebê com dificuldade de mamar merece uma escuta atenta e uma avaliação responsável”, conclui.
Por Sarah Monteiro
Fonte por: Carta Capital