Comando, controle e regulação econômica para combater a criminalidade no Rio de Janeiro
Qual é a questão que todos os moradores do Rio de Janeiro se perguntam é: como reverter esse processo de degradação do arcabouço institucional do estado?

Quem reside no Rio de Janeiro já se familiarizou com o inusitado. Semelhante a uma trama de Mario Puzo, líderes da máfia frequentam academias de ginástica, restaurantes sofisticados, programas de televisão e colunas de celebridades, ao mesmo tempo em que seus capangas – ou capangas terceirizados do Escritório do Crime – cometem assassinatos, sequestros, tiroteios e explosões nas vias principais da cidade. Bicheiros da nova geração, como Rogério de Andrade, Vinicius Drummond e Bernardo Bello, ou da velha guarda, como Capitão Guimarães e Pirulito, juntamente com milicianos como Tandá e Zinho, e traficantes de quadrilhas como Comando Vermelho, Amigos dos Amigos e Terceiro Comando, compartilham o espaço urbano e geram insegurança e pânico, enquanto o governo demonstra negligência em certas ocasiões ou até mesmo cumplicidade.
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Essas organizações criminosas, que atuam na ausência de controle regulatório ou na falta de fiscalização do Estado, selecionam seus membros para o Legislativo, nomeiam secretários para o Executivo e até mesmo Conselheiros para o Tribunal de Contas, conforme evidenciado no caso do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco (Psol). A questão que se coloca para os moradores do Rio de Janeiro é: como solucionar esse processo de deterioração do arcabouço institucional do estado.
É necessário comando e controle, ou seja, é preciso o exercício da autoridade e da liderança sobre a questão da segurança pública, algo que o governo estadual, infelizmente, já demonstrou não ter capacidade de realizar. Basta recordarmos que, desde 2008, quatro ex-chefes da Polícia Civil do Rio de Janeiro já foram presos por suspeita de envolvimento em algum tipo de crime: Álvaro Lins, Ricardo Hallak, Allan Turnowski e Rivaldo Barbosa.
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A solução precisa partir de outra esfera externa, a Polícia Federal. Sob esse entendimento, é bem-vinda a PEC da Segurança Pública que foi aprovada ontem na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. Iniciativa do Ministério da Justiça, a PEC cria o Sistema Único de Segurança Pública, o que garante maior integração entre os estados e o governo federal.
Em segundo lugar, é necessária maior intervenção regulatória do Estado em setores econômicos explorados e dominados pelo crime. Para um único exemplo: a falta de regulação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) sobre o mercado de internet no Brasil tem possibilitado a atuação irregular de pequenos provedores ligados a atividades criminosas, como o tráfico de drogas. Até bem recentemente, a Anatel dispensava a outorga para pequenos provedores de até 5 mil acessos. Um mapeamento da Secretaria de Segurança Pública revelou que a consequência dessa desregulação foi que 80% das empresas de internet que atuam em comunidades no Rio de Janeiro estão associadas com traficantes ou com milicianos. A Anatel modificou essa norma e agora essas pequenas empresas terão que ser cadastradas e regularizadas, o que permitirá maior fiscalização do Poder Público. O que se aplica a provedores de internet também se aplica ao transporte alternativo, gás, jogos, questão fundiária, etc.
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Finalmente, tudo isso deve acontecer sob a vigilância da sociedade civil, amparado pelos direitos humanos e pelas boas práticas de letramento classista, racial, sexual e de gênero. Nesse sentido, é preciso valorizar o recente projeto de lei 4850/2025 de autoria da deputada estadual Dani Balbi (PCdoB) que institui o Programa Estadual de Capacitação em Letramento Racial e Cidadania, direcionado aos profissionais que atuam no sistema de segurança pública e de ordem pública no âmbito do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro.
A situação é complexa e a solução não será simples. A única certeza que temos é de que o caminho necessariamente passa pelo controle e pela intervenção econômica do Estado, em parceria com a sociedade civil.
Teófilo Rodrigues é professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Candido Mendes (UCAM).
Este é um artigo de opinião e não necessariamente reflete a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Fonte por: Brasil de Fato
Autor(a):
Júlia Mendes
Apaixonada por cinema, música e literatura, Júlia Mendes é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de São Paulo. Com uma década de experiência, ela já entrevistou artistas de renome e cobriu grandes festivais internacionais. Quando não está escrevendo, Júlia é vista em mostras de cinema ou explorando novas bandas independentes.