China lança empresa de fusão nuclear com investimento de US$ 1,6 bilhões
Empresa busca desenvolver modelo inovador de energia limpa, ainda distante do início da produção em larga escala.

A China lançou oficialmente uma empresa nacional de energia de fusão na terça-feira (22.jul.2025). O lançamento é apoiado por investimentos de importantes empresas estatais de energia e energia nuclear – um movimento visto como um passo significativo em direção à comercialização da energia de fusão, há muito considerada o “Santo Graal” da energia limpa.
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A China Fusion Energy, que será uma subsidiária integral da CNCC (China National Nuclear Corporation), realizou sua cerimônia de inauguração em Xangai. O novo empreendimento tem como objetivo liderar o desenvolvimento da tecnologia de fusão nuclear controlada, como parte do plano estratégico de energia de longo prazo da China.
A China National Nuclear Power, empresa de capital aberto, anunciou que adquiriria uma participação acionária na nova empresa, justificando a decisão pelo alinhamento com o plano de desenvolvimento nuclear de “3 etapas” da China e sua estratégia industrial futura.
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A nova organização recebeu investimento de um consórcio de investidores importantes, que compreendeu a CNNC, China National Nuclear Power, a empresa de investimentos Kunlun Capital, da PetroChina, uma empresa estatal de energia resultante de uma fusão fundada pelo Shanghai Future Industries Fund, o Fundo de Desenvolvimento Verde, a Zhejiang Zheneng Electric Power e uma empresa de energia de fusão localizada em Sichuan.
A empresa investirá cerca de 11,5 bilhões de yuans (US$ 1,6 bilhão) a um valor de 1,0019 yuans por ação, aumentando o capital registrado para 15 bilhões de yuans (US$ 2,1 bilhões).
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Após o investimento, a CNNC manterá uma participação majoritária de 50,35%. A Kunlun Capital se torna a 2ª maior acionista, com uma participação de 20%, ao contribuir com mais de 3 bilhões de yuans. A China National Nuclear Power detém 6,65%, enquanto a Shanghai Fusion e o Fundo de Desenvolvimento Verde obtiveram conjuntamente 15%. A Zhejiang Zheneng Electric Power e a Sichuan Fusion possuem 5% e 3%, respectivamente.
A energia de fusão, que une isótopos de hidrogênio para replicar o processo energético do sol, é considerada a fonte de energia limpa definitiva devido ao seu suprimento de combustível praticamente ilimitado e à ausência de emissões de carbono. Diferentemente dos reatores de fissão existentes, a fusão combina núcleos atômicos leves para liberar energia, sem gerar resíduos radioativos de longa duração.
Nenhum país atingiu a energia da fusão comercial até o momento. Contudo, as metas climáticas duplas da China – anunciadas pelo presidente Xi Jinping em setembro de 2020 – impulsionaram significativamente o setor. Progressos recentes demonstram resultados promissores.
Em maio, o projeto chinês de “sol artificial”, China Circulation-3, obteve novos recordes nacionais ao alcançar 1 milhão de amperes de corrente de plasma e manter temperaturas de íons de 100 milhões de graus Celsius – parâmetros cruciais no denominado “produto triplo” indispensável para a fusão sustentável.
O produto triplo – uma multiplicação da temperatura do plasma, densidade e tempo de confinamento – deve exceder ~5 x 10^21 para alcançar uma fusão autossustentável. Continua sendo uma referência fundamental para engenheiros em todo o mundo que buscam construir reatores de fusão viáveis.
A única acionista que aportou capital e propriedade intelectual foi a CNNC. Outros parceiros realizaram investimentos unicamente em dinheiro.
Conforme documentos regulamentares, a China Fusion Energy é liderada por Liu Ye, que também atua como Secretário do Partido Comunista da China no Instituto de Física do Sudoeste da CNNC, uma das mais antigas e renomadas instituições de pesquisa em fusão da China, com sede em Chengdu. O instituto conduz o projeto do sol artificial.
A Zhejiang Zheneng Electric Power, empresa resultante de fusão, implementará um plano de desenvolvimento em três fases: transição de reatores experimentais para usinas de demonstração e, posteriormente, para usinas de fusão em escala comercial.
A empresa de serviços públicos sediada na província oriental da China declarou que seu envolvimento reflete a relevância estratégica da fusão para a segurança energética e os objetivos climáticos da China. A empresa também possui investimentos em projetos nucleares convencionais.
A PetroChina, mais um financiador, já investiu em projetos de fusão por meio da Kunlun Capital. Ela também detém uma participação na Fusion New Energy, uma empresa ligada ao Instituto de Física de Plasma da Academia Chinesa de Ciências, com foco na comercialização de tecnologias de fusão.
O governo chinês tem aumentado seu apoio à energia de fusão nos últimos anos. Em uma reunião nacional sobre energia, Zhang Xing, Diretor Adjunto do Gabinete Geral da Administração Nacional de Energia, declarou que a China aceleraria seu suporte à energia nuclear de 4ª geração, pequenos reatores modulares e pesquisa e desenvolvimento em fusão.
Apesar do investimento e do suporte político, especialistas do setor advertem que a fusão comercial ainda está a muitas décadas de distância. A China National Nuclear Power e a Zhejiang Zheneng Electric Power alertaram os investidores sobre as altas barreiras técnicas, os longos períodos de desenvolvimento e o risco considerável de falha na implementação da fusão em larga escala.
Esta reportagem foi originalmente publicada em inglês pela Caixin Global em 24 de julho de 2025. Foi traduzida e republicada pelo Poder360 em acordo mútuo de compartilhamento de conteúdo.
Fonte por: Poder 360
Autor(a):
Pedro Santana
Ex-jogador de futebol profissional, Pedro Santana trocou os campos pela redação. Hoje, ele escreve análises detalhadas e bastidores de esportes, com um olhar único de quem já viveu o outro lado. Seus textos envolvem os leitores e criam discussões apaixonadas entre fãs.