Chefe indígena brasileiro se destaca na Conferência de Ciência Psicodélica

Biraci Nixiwaka defendeu o respeito da comunidade científica e a inclusão das populações originárias nos novos tratados da psicologia psicodélica.

18/06/2025 22:51

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Chefe indígena brasileiro se destaca na Conferência de Ciência Psicodélica
(Imagem de reprodução da internet).

Diretamente da Amazônia para Denver, nos EUA, o cacique Biraci Nixiwaka (que viajou ao país financiado pelo Indigenous Medicine Conservation Fund), da etnia yanomami, foi a principal oradora durante a cerimônia de abertura da 4ª edição da Psychedelic Science Conference. Ele discutiu a importância da incorporação dos conhecimentos tradicionais na ciência psicodélica.

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“Venho convidar a comunidade científica a acessar nosso trabalho, mas não pelas laterais, e sim pela principal entrada”, declarou no início de seu discurso. Gerou aplausos na plateia repleta. Ayahuasca, peiote, iboga e cogumelos contendo psilocibina são utilizados há séculos por povos originários em contextos sagrados, rituais e comunitários.

Na atualidade, com a abordagem da psicoterapia, essa herança é frequentemente negligenciada ou utilizada sem a devida consideração. “A ciência é muito importante para o futuro da humanidade, e eu concordo plenamente. E nós, povos indígenas, originários, podemos contribuir significativamente para a ciência em prol do bem comum da humanidade”, afirmou, ressaltando que, desde tempos ancestrais, os povos indígenas cuidam e possuem o conhecimento das plantas.

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A relação entre ciência e sabedoria ancestral resgatou força na 4ª edição do evento.

Em 2023, a organização recebeu críticas significativas, acompanhadas de protestos intensos e ouvidos. Pela primeira vez, o evento reservou um espaço permanente com a presença indígena, incluindo discursos de líderes e curadores tradicionais. A mudança é simbólica, porém inicial. De um total de mais de 500 palestras e painéis, menos de 5% são protagonizados por representantes de comunidades originárias.

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O foco principal do debate é a exploração espiritual. Substâncias como o peiote, utilizado no sudoeste dos EUA e do México, correm risco de desaparecer devido à coleta desordenada por indivíduos urbanos. A ayahuasca, cuja preparação e consumo são fundamentados em comunidades indígenas da Amazônia, é frequentemente importada para retiros terapêuticos no Norte Global sem consulta, compensação ou reconhecimento das tradições que a sustentam há milênios.

A tensão entre tradição e ciência também é epistemológica. Para diversas comunidades indígenas, a ação das plantas não pode ser dissociada de seu contexto espiritual e ecológico. Já para a ciência biomédica, a substância isolada deve ser testada em laboratório, padronizada e registrada como medicamento. Essa dicotomia afeta não apenas o uso, mas a maneira como essas experiências são compreendidas: uma visão centrada na cura relacional, outra na intervenção química.

O conceito de “terapia assistida por psicodélicos”, difundido nos Estados Unidos e na Europa, ignora o papel de líderes espirituais, religiosos e guias tradicionais. Os facilitadores urbanos seguem protocolos clínicos, enquanto os curadores indígenas utilizam linguagens e referenciais que ainda são desvalorizados, ou até mesmo criminalizados pelas autoridades competentes.

Biraci Nixiwaka concluiu seu discurso propondo colaboração, mas somente se for baseado no respeito: “Podemos contribuir com o mundo científico desde que vocês nos respeitemos e reconheçam que os povos originários são os guardiões dessas plantas”.

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Fonte por: Poder 360

Marcos Oliveira é um veterano na cobertura política, com mais de 15 anos de atuação em veículos renomados. Formado pela Universidade de Brasília, ele se especializou em análise política e jornalismo investigativo. Marcos é reconhecido por suas reportagens incisivas e comprometidas com a verdade.