Câncer de mama e fertilidade: entenda como o tratamento pode impactar a capacidade de engravidar e as opções de preservação disponíveis para mulheres jovens.
O câncer de mama geralmente afeta mulheres com mais de 50 anos. Contudo, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 15% das pacientes diagnosticadas têm menos de 40 anos e estão em idade fértil. Isso levanta a questão: como o tratamento pode afetar a fertilidade feminina? É possível engravidar após o câncer?
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De acordo com Denis Schapira Wajman, ginecologista e obstetra do Einstein Hospital Israelita, a chance de engravidar naturalmente após o tratamento depende de fatores como o tipo de terapia, a idade da paciente e a reserva ovariana remanescente. “Muitas mulheres conseguem engravidar espontaneamente, especialmente quando não houve falência ovariana completa”, afirma Wajman.
O impacto do câncer na fertilidade está frequentemente ligado ao tratamento. Wajman destaca que a quimioterapia é a principal responsável, especialmente os agentes alquilantes, como a ciclofosfamida. “A quimioterapia reduz a fertilidade ao causar danos diretos aos folículos ovarianos, comprometendo a reserva ovariana”, explica.
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Além disso, o tratamento pode levar à menopausa precoce, especialmente em mulheres acima dos 35 anos ou com baixa reserva ovariana. “O risco aumenta conforme o esquema quimioterápico se torna mais agressivo”, afirma Wajman. As terapias hormonais podem causar amenorreia temporária, mas o impacto definitivo sobre a fertilidade é menos claro e, geralmente, reversível após o tratamento.
A preservação da fertilidade deve ser considerada antes do tratamento, sempre que possível. “As principais estratégias incluem o congelamento de óvulos e embriões, permitindo que a mulher mantenha a possibilidade de gestação no futuro”, diz Wajman.
No entanto, a falta de informação e o tempo são obstáculos, segundo Maurício Chehin, especialista em Reprodução Assistida do Grupo Huntington.
Chehin ressalta que existe uma janela curta entre o diagnóstico e o início da quimioterapia, normalmente de 10 a 14 dias. “Esse é o período necessário para estimular os ovários, coletar os óvulos e congelá-los antes do tratamento”, explica.
Avanços nos protocolos de ‘início rápido’ permitem iniciar a estimulação ovariana em qualquer fase do ciclo menstrual, sem atrasar a quimioterapia.
O congelamento de óvulos é uma opção importante, mas não garante uma gravidez futura. “O procedimento oferece a possibilidade real de tentar uma gestação após o tratamento, preservando o potencial reprodutivo que a quimioterapia poderia comprometer”, afirma Chehin.
Dados da American Society for Reproductive Medicine (ASRM) indicam que a taxa de nascimento vivo por óvulo congelado varia entre 2% e 12%, dependendo da idade da paciente.
Mulheres com menos de 35 anos que congelam 15 óvulos têm cerca de 70% de chance de ter um bebê no futuro. Esse potencial pode aumentar para aproximadamente 95% com cerca de 25 óvulos. “Essas são estimativas médias baseadas em estudos científicos, e cada caso é único”, ressalta Chehin.
Durante o tratamento do câncer de mama, mulheres que não estão grávidas devem usar métodos contraceptivos para evitar a gestação, pois isso pode trazer riscos significativos, como malformações fetais e complicações maternas. “O tamoxifeno, por exemplo, é contraindicado na gestação devido ao risco de malformações”, afirma Wajman.
Quando o câncer de mama é diagnosticado durante a gestação, o tratamento é individualizado. A cirurgia pode ser realizada em qualquer trimestre, enquanto a quimioterapia deve ser evitada no primeiro trimestre e pode ser considerada a partir do segundo.
Radioterapia e terapia hormonal geralmente são adiadas até o pós-parto, sempre priorizando a segurança materno-fetal.
Autor(a):
Ex-jogador de futebol profissional, Pedro Santana trocou os campos pela redação. Hoje, ele escreve análises detalhadas e bastidores de esportes, com um olhar único de quem já viveu o outro lado. Seus textos envolvem os leitores e criam discussões apaixonadas entre fãs.