Ex-ministro da Casa Civil afirma que o tenente-coronel incorreu em engano durante o depoimento prestado à Polícia Federal; o militar está detido desde dezembro.
Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil, negou ter repassado dinheiro ao tenente-coronel Mauro Cid em uma sacola de vinho. O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro afirmou à Polícia Federal que recebeu o montante para financiar ações em apoio a uma tentativa de golpe de Estado.
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O general, que concorreu a vice na chapa com Bolsonaro em 2022, afirmou não ter contato com os supostos empresários do agronegócio que teriam fornecido o empréstimo. Ele acusou Cid de “faltar com a verdade”. Braga Netto foi ouvido por videoconferência como réu no processo penal por tentativa de golpe no STF.
O Cid chegou atrás de mim e perguntou se o PL poderia conseguir dinheiro. Era comum porque, quando entregamos esse recurso do presidente, outros políticos pediam uma quantia emprestada para quitar as despesas de campanha, conforme o planejado. Quando Cid veio até mim, pensei que se tratava de algo relacionado à campanha e falei para ele procurar o tesoureiro do partido. Mais tarde, o tesoureiro me informou que não havia respaldo para fornecer o dinheiro que Cid desejava, declarou o general.
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Cid afirmou que Braga Netto solicitou recursos financeiros a integrantes do setor agrícola. O repasse monetário não foi mencionado nas primeiras duas declarações do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. A informação veio à tona após Cid ser alertado de que, em caso de omissão, poderia ser preso novamente e o acordo de delação premiada seria revogado. Ele confirmou a informação durante o depoimento ao Supremo Tribunal Federal na segunda-feira (9.jun).
Segundo Braga Netto, ele não possuía contato com empresários do setor. “Isso não corresponde à realidade. Eu não tinha contato com empresários, então, não pedi dinheiro e não entreguei dinheiro para ninguém. Os empresários estavam mais interessados no Bolsonaro do que em mim”, declarou.
Em seu depoimento à PF, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro teria declarado que a entrega de dinheiro foi combinada em uma reunião na casa do então candidato a vice de Bolsonaro. Outros dois militares das Forças Especiais (os kids pretos) teriam participado.
O general, contudo, rejeitou essa versão. Afirmou que Mauro Cid compareceu à sua casa acompanhado por duas pessoas que buscavam uma breve reunião, sem que houvesse qualquer discussão sobre financiamento.
Braga Netto encontra-se detido preventivamente desde dezembro de 2024 sob suspeita de obstrução de justiça. Na decisão, um dos fundamentos apresentados pelo ministro Alexandre de Moraes para justificar a prisão do general foi o ato de entrega de dinheiro em uma sacola contendo vinho.
Braga Netto teria sido um dos financiadores do golpe e, por isso, estaria entre os líderes da organização criminosa.
O ex-ministro da Casa Civil, ao STF, também afirmou não ter ordenado que militares promovam ataques aos comandantes das Forças Armadas Freire Gomes (Exército) e Baptista Júnior (Aeronáutica) nas redes sociais por não aderirem ao golpe.
O procurador informou que houve mensagens enviadas pelo general que ordenavam a outro militar que dissesse: “Senta o pau no Batista Júnior”. O ex-comandante da Aeronáutica afirmou à corte que ainda é alvo desses ataques.
O ex-ministro também negou que tenha tentado obter informações sobre a delação de Cid com o pai do tenente-coronel, o general Lourena Cid. Segundo o ex-ministro, foi Lourena Cid quem o procurou para pedir que ele ajudasse o filho politicamente.
Recebi a informação de que tentei falar com o Cid, mas o pai do Cid me ligou, e o que ele solicitou era apoio político para o filho, ele reclamava que as pessoas só queriam saber sobre o dia 8 de janeiro, que ninguém falava com o filho dele. Eu nunca entrei em contato com o Cid e nem perguntei nada sobre a delegação premiada.
A busca por informações sobre as declarações de Cid também é um dos motivos que levaram ao encarceramento do general Braga Netto.
A Primeira Turma do STF iniciou na segunda-feira (9.jun) o interrogatório dos réus no núcleo central do processo penal por tentativa de golpe de Estado. De acordo com o Ministério Público, os integrantes desse grupo teriam sido responsáveis por liderar as ações da organização criminosa que visavam impedir a posse de Lula.
Pertencem ao grupo:
O primeiro a ser ouvido foi Mauro Cid, que formalizou um acordo de cooperação com o STF. Os demais réus foram interrogados em seguida, em ordem alfabética. Essa ordem foi estabelecida para que todos tivessem conhecimento do que o delator declarou e, assim, pudessem exercer o amplo direito de defesa.
Todos os réus do núcleo estão obrigados a comparecer nos interrogatórios, mas podem permanecer em silêncio e responder a algumas ou nenhuma pergunta. O relator, ministro Alexandre de Moraes, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, e os advogados podem fazer perguntas. Se outros ministros da 1ª Turma comparecerem, também podem questionar os réus.
Após as análises, os acusados não necessitam mais comparecer. A única pessoa do grupo que ainda não participou da sessão plenária da 1ª Turma foi o general Braga Netto, que permanece preso preventivamente no Rio de Janeiro desde dezembro. Ele participou por videoconferência.
Os interrogatórios são parte da fase instrutória do processo criminal – momento de coleta de provas. As testemunhas do lado da acusação e da defesa já prestaram depoimento e ainda podem ser produzidas provas documentais e periciais, caso sejam solicitadas pelas partes e autorizadas pelo relator, ministro Alexandre de Moraes.
Podem ser realizadas, eventualmente, investigações adicionais para esclarecer pontos relevantes durante a instrução. Só após essa fase a acusação e as defesas devem apresentar suas alegações finais e Moraes elaborará o relatório final para o julgamento.
Os depoimentos das testemunhas são divulgados no canal do STF no YouTube e na TV Justiça ao vivo. O Poder360 também realiza a transmissão no canal deste jornal digital no YouTube (inscreva-se e ative as notificações). No Brasil, o interrogatório de réus em ações penais é, por regra, um ato público. Embora a transmissão ao vivo não seja comum, o STF já permitiu acesso de jornalistas e do público em outros casos semelhantes.
Acompanhe os vídeos do depoimento dos réus perante o STF.
Leia reportagens sobre o depoimento de Bolsonaro:
Leia reportagens sobre o interrogatório de Mauro Cid:
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Fonte por: Poder 360
Autor(a):
Marcos Oliveira é um veterano na cobertura política, com mais de 15 anos de atuação em veículos renomados. Formado pela Universidade de Brasília, ele se especializou em análise política e jornalismo investigativo. Marcos é reconhecido por suas reportagens incisivas e comprometidas com a verdade.