Impacto da Paralisação Governamental nos EUA no Mercado Financeiro

A interrupção das atividades dos órgãos governamentais nos Estados Unidos está gerando incertezas no mercado financeiro, especialmente em relação à divulgação dos números oficiais do mercado de trabalho americano, conhecidos como “payroll”. Essa estatística, que ganhou relevância crescente, é crucial para o Federal Reserve (Fed), responsável pela política monetária do país, que utiliza esses dados para determinar se deve ou não reduzir as taxas de juros.

A próxima reunião de política monetária do Fed está agendada para os dias 28 e 29 de outubro, e a ausência dos dados do mercado de trabalho americano pode aumentar a incerteza sobre a decisão a ser tomada. “Claro que cria um pouco mais de incerteza. Mas, como a reunião é só no final do mês, não vejo ninguém precificando ausência de dados até lá”, afirma Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

Diferenças na Acompanhamento Econômico

Ao contrário do Brasil, onde o Banco Central depende fortemente dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Fed possui agências regionais nos Estados Unidos, que realizam acompanhamento constante da economia em suas áreas de atuação. Esses diagnósticos são divulgados mensalmente no chamado “Livro Bege”, fornecendo informações detalhadas sobre a economia americana.

“Não é como se os dirigentes do Fed estivessem cegos”, diz Cruz, que mantém a expectativa de um novo corte de juros no final do mês. Apesar da incerteza, a percepção é que o Fed continuará a reduzir as taxas de juros, impulsionada pela desaceleração do mercado de trabalho americano.

Reação do Mercado e Expectativas

O dado divulgado ontem pela pesquisa ADP, que apontou para um corte de 32 mil empregos no setor privado americano em setembro, muito inferior ao esperado (o consenso do mercado previa a criação de 50 mil postos), corrobora a hipótese de desaceleração do mercado de trabalho americano e aumenta a probabilidade de continuidade do afrouxamento monetário nos Estados Unidos.

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Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, ressalta que a paralisação não altera a percepção de que os juros nos EUA vão cair e o apetite por renda variável. “Mesmo durante a nebulosidade, as decisões de investimento não vão ser afetadas, porque o mercado continua enxergando ainda o ciclo de queda de juros e isso é um gatilho de apetite por bolsa”.

Impacto Econômico e Perspectivas

Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe da G5 Partners, afirma que o mercado “se virando” com as estatísticas disponíveis, como a pesquisa ADP. Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo, lembra que, em outras paralisações, cada semana de “shutdown” pode reduzir o PIB dos EUA em 0,1% — mas esse impacto econômico geralmente se reverte quando as atividades são retomadas. “O efeito mais importante é a suspensão da divulgação de dados econômicos, como números de emprego e inflação, o que pode aumentar a incerteza”.

Apesar da incerteza, a expectativa é que o Fed possa tomar uma decisão de corte de juros, mesmo sem os dados mais recentes. “Isso não deve alterar a decisão de cortar em 0,25 ponto percentual, mas é extremamente desconfortável pilotar economia americana em voo cego”, afirma Mathias.