Avenida ameaça direito de ir e vir da comunidade ribeirinha Nossa Senhora dos Navegantes no Pará
‘Tudo está comprometido, mas o pior ainda está por vir: um muro será construído’, afirma liderança comunitária.
Pará enfrenta contradições antes da COP30
Às vésperas da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), o Pará se encontra em uma situação contraditória. Enquanto se prepara para receber representantes globais para discutir o futuro do planeta, o governo estadual é acusado de prejudicar o meio ambiente e as comunidades locais. No centro dessa tensão está a avenida Liberdade, uma via expressa que promete beneficiar dois milhões de pessoas, criando um novo corredor entre Belém e o interior. Nas margens do rio Aurá, a comunidade ribeirinha Nossa Senhora dos Navegantes vê essa promessa de progresso como uma ameaça.
Danielson Costa, uma liderança comunitária, recorda o início do que considera uma “dificuldade de impacto ambiental”. Ele relata que há cerca de um ano e meio a comunidade enfrenta problemas sem que o governo tenha consultado os moradores sobre os impactos da obra. “Quando descobrimos, já estavam passando com as máquinas, degradando o meio ambiente”, afirma.
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Impactos na comunidade
Apesar de resistirem à ameaça, Danielson destaca que nenhuma compensação será capaz de restaurar o que a comunidade perdeu. “A fauna, a flora, o rio: tudo foi afetado. A maré grande leva a piçarra e destrói a floração. E o pior ainda está por vir”, lamenta, referindo-se à construção de uma mureta de contenção que dificultará o acesso ao terreno e à nova avenida.
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Camila Silva, outra liderança local, critica a falta de benefícios trazidos pela obra. “Até agora não trouxe nada de positivo pra gente. Só promessas. A única coisa em andamento é o posto de saúde e a quadra poliesportiva, que deveriam ter começado em julho”, comenta. Ela relata que sua família vive do extrativismo, mas os recursos estão escasseando devido à construção.
Reivindicações e respostas do governo
A Defensoria Pública visitou a comunidade para avaliar os danos, mas Camila afirma que a compensação proposta não é suficiente. “Entramos com uma ação pra receber o que é justo. Queremos voltar a viver, porque agora estamos apenas sobrevivendo”, desabafa.
Enquanto as escavadeiras continuam seu trabalho e o rio se retrai, a sensação de que o progresso escolheu um lado — e não o das comunidades tradicionais — se intensifica. Os moradores enfatizam que não são contra o progresso, mas desejam ter participado das discussões sobre a construção da avenida.
A Secretaria de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade (Semas) defende a obra, afirmando que possui licença ambiental e que o projeto foi debatido em audiências públicas. A nota destaca que 57 condicionantes foram estabelecidas e estão sendo monitoradas. Além disso, a secretaria menciona a implementação de soluções sustentáveis, como ciclovias e passagens de fauna, para preservar a biodiversidade local.
Autor(a):
Pedro Santana
Ex-jogador de futebol profissional, Pedro Santana trocou os campos pela redação. Hoje, ele escreve análises detalhadas e bastidores de esportes, com um olhar único de quem já viveu o outro lado. Seus textos envolvem os leitores e criam discussões apaixonadas entre fãs.