Ex-presidente afastado do clube desmente irregularidades em acordo com a bet e acusa setores internos de trama.
Distanciado da presidência do Corinthians desde o dia 26 de maio pelo Conselho Deliberativo, Augusto Melo afirma ser alvo de um movimento orquestrado para sua destituição. Em entrevista ao Poder360 na quarta-feira (11.jul.2025), ele classificou como “ditadores” os grupos que conduzem seu impeachment e declarou que sua saída foi articulada por antigos aliados, como Romeu Tuma Júnior e André Sanchez.
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A oposição a Augusto Melo no Corinthians é composta por diversos grupos, como a Renovação e a Transparência, provenientes dos ex-presidentes Andrés Sanchez, Duílio Monteiro Alves e Mário Gobbi. O Movimento Corinthians Mais Forte, liderado por Osmar Stabile, também faz parte da oposição e assume o comando interino do clube. A votação dos sócios que poderá finalizar seu mandato está agendada para sábado (9.ago.2025).
O processo de impeachment se originou devido a suspeitas de irregularidades no contrato de patrocínio de R$ 360 milhões por três anos com a VaideBet, iniciado em janeiro de 2024. Uma parcela do valor – R$ 1 milhão – foi direcionada às contas da UJ Futebol, atuando como intermediária no acordo. A Polícia Civil investiga possíveis ligações da intermediária com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Melo foi indiciado sob suspeita de lavagem de dinheiro e furto qualificado. Ele nega ilegalidades e afirma que somente assinou documentos após checagens de diversos departamentos do clube. “Indiciamento não é condenação”, afirmou o dirigente, afastando. “Me mostre alguma coisa errada que eu deixei de fazer ou que eu fiz pelo Corinthians”, disse. “Ao contrário, eu só valorizei o Corinthians e coloquei a casa em ordem. Tudo que nós fizemos é pelo bem do Corinthians.”
Assista à entrevista com Augusto Melo (52m33s):
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Segundo Melo, Tuma Júnior realizava reuniões do Conselho Deliberativo de maneira autoritária – uma delas, em novembro de 2024, necessitou ser adiada devido à falta de segurança. “Eles estão ali como ditadores. Tanto que ele [Tuma] encheu de policiais no clube”, declarou o dirigente afastado.
Também afirmou ter tomado medidas para investigar as suspeitas em torno do contrato com a VaideBet. “O dinheiro que sai do Corinthians é um dinheiro limpo. Tudo documentado. Lavagem de dinheiro? Não tem dinheiro na conta de ninguém, pelo menos da diretoria do Corinthians.”
Melo admite que ocorreu um atraso no pagamento a uma empresa considerada suspeita, mas declara não ter conhecimento do problema. “Quem efetua isso é o setor financeiro. O financeiro pagou somente após três meses”, afirmou. “Para mim, nunca participei disso, que eu nem sabia. Para mim estava sendo pago.” E conclui: “Se o dinheiro está ali, para onde o dinheiro? A polícia tem que agora investigar.”
Ao longo da entrevista, Melo utilizou dados financeiros e de gestão para defender sua posição. Ele afirmou que o clube apresenta uma situação financeira estável. “Levantei R$ 1,8 bilhão, deixando mais um bilhão em patrocínios em negociação. São R$ 3 bilhões que eu trouxe para o Corinthians”, declarou. “Aumentei de R$ 70 milhões para R$ 200 milhões [em patrocínios]. Estou deixando o Corinthians com sete salários em dia, cinco antecipados, que não se fazia há mais de 15 anos.”
Ele declarou que não contraiu novas dívidas. Este ano o Corinthians é o único clube da Série A que não gastou um real. “Este ano a gente não gastou nada e já estamos no quarto mês de superávit”. Ainda segundo o presidente afastado, a receita anual do clube ultrapassou a de rivais. “Peguei o Corinthians com receita de R$ 900 milhões. Deixei com R$ 1,115 bilhão. O Corinthians hoje tem uma receita praticamente igual à do Flamengo.”
Ele afirma estar sendo punido por regular as finanças do clube. “Mostre algo errado que eu deixei de fazer ou que eu fiz pelo Corinthians”, desafiou. “Ao contrário, eu só valorizei o Corinthians e organizei a casa. Tudo que nós fizemos é bem do Corinthians”. E concluiu: “Peço para a torcida organizada: peça para abrir as contas. Vocês não queriam uma auditoria? Eu fiz a auditoria. Agora que eu entreguei a auditoria, ninguém fala em abertura das contas. Eu exijo, e a torcida tem que exigir, que se abra as contas”.
Quanto à vaquinha organizada pelos torcedores para auxiliar no pagamento da Arena Neo Química, ele reconheceu uma primeira hesitação, porém acabou se engajando. “Inicialmente, eu era contra da seguinte maneira: uma instituição como o Corinthians, do tamanho que ela é, é um absurdo que você ainda dependa do torcedor para custear a sua arena. Entretanto, participei de tudo. Assinei, autorizei. Inclusive, realizei meu depósito.”
Melo admite falhas no começo do governo. “Errei. O primeiro semestre errei muito”, afirmou. “Quem montou o elenco foi um diretor incompetente.” Segundo ele, a tentativa de atender interesses políticos o comprometeu. “Confiar em pessoas que não deveria ter confiado me atrapalhou muito.”
O comprometimento pessoal, indica, passou a influenciar negociações empresariais. “Quando iniciou a narrativa de crime organizado, de impeachment, perdi um importante cliente. O Mercado Livre, com todas as suas adversidades, encontrava-se em uma discussão bastante complexa.”
Fonte por: Poder 360
Autor(a):
Gabriel é economista e jornalista, trazendo análises claras sobre mercados financeiros, empreendedorismo e políticas econômicas. Sua habilidade de prever tendências e explicar dados complexos o torna referência para quem busca entender o mundo dos negócios.