Atenção individualizada pode aumentar a qualidade de vida de idosos com câncer

Uma nova abordagem no cuidado de pacientes idosos com câncer metastático pode aumentar a compreensão e o manejo do prognóstico da doença, promovendo maior qualidade de vida durante o tratamento oncológico. Este resultado foi demonstrado em estudo brasileiro apresentado no domingo (1º) na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), maior evento científico da área que ocorreu em Chicago, nos Estados Unidos.

O estudo examinou dados de uma intervenção denominada GAIN-S (Intervenção de Cuidados de Apoio Orientada por Avaliação Geriátrica), sugerida pelas diretrizes da Asco, para pacientes com 65 anos ou mais em vários estados do Brasil. A iniciativa complementa o tratamento padrão, proporcionando cuidados individualizados conforme uma avaliação geriátrica.

A psico-oncologista Cristiane Bergerot, líder nacional da equipe multidisciplinar da Oncoclínicas e principal pesquisadora do estudo, analisou aspectos cruciais da saúde de pacientes idosos com câncer metastático, incluindo a capacidade física, a cognição, o humor, as comorbidades, a nutrição, a polifarmácia e o suporte social.

Com base nesses resultados, uma equipe especializada e multidisciplinar – composta por oncologista, psiquiatra, psicónutricionista e personal trainer – desenvolveu e executou intervenções individualizadas, visando aprimorar os resultados clínicos e a qualidade de vida dos pacientes.

A avaliação geriátrica possibilitou identificar vulnerabilidades que frequentemente não são percebidas em avaliações tradicionais. “Com isso, os profissionais puderam adaptar o tratamento oncológico de maneira mais personalizada, considerando as necessidades e limitações dos pacientes”, complementa.

A especialista observou que o estudo demonstrou uma melhora notável na compreensão do prognóstico por parte dos pacientes que receberam a intervenção, eles adquiriram uma noção mais precisa sobre o objetivo do tratamento e a progressão da doença.

Isto contribuiu para uma decisão mais coerente com seus valores e objetivos, promovendo um cuidado mais focado na pessoa, afirma Bergerot.

Com uma taxa de adesão de 93%, o estudo demonstra que é possível aplicar uma abordagem focada em adultos com 65 anos ou mais, mesmo em situações complexas. A intervenção empregou o questionário PAIS (Prognostic Awareness Impact Questionnaire), uma ferramenta validada e sensível a alterações emocionais e comportamentais, possibilitando avaliar com precisão como os pacientes se sentem e reagem às informações sobre seu estado clínico.

Idosos com câncer apresentam características e necessidades muito distintas dos pacientes mais jovens. Eles frequentemente apresentam múltiplas comorbidades, fragilidade, risco de toxicidades e preferências de tratamento diferentes, observa Bergerot. Uma abordagem como a do GAIN-S reconhece essa heterogeneidade e permite um cuidado mais personalizado, que não apenas melhora os desfechos clínicos (como função física e humor), mas também promove autonomia, segurança no tratamento e maior alinhamento com os valores dos pacientes, completa.

Conforme Cristiane Bergerot, os resultados apontam que existe espaço para modelos assistenciais mais atentos às necessidades emocionais e cognitivas dos pacientes idosos. “Quando disponibilizamos tempo, escuta e um cuidado estruturado, mesmo em situações clínicas complexas, o impacto pode ser surpreendente. E isso, mais do que uma descoberta científica, é um compromisso ético com quem enfrenta uma doença avançada”, conclui.

Fonte por: CNN Brasil