Assembleia Nacional destitui o segundo governo da França em nove meses
Com a proximidade das eleições de 2024, o país enfrenta uma grave instabilidade política, sem maiorias parlamentares sólidas.

A Assembleia Nacional da França rejeitou, na segunda-feira 8, seu segundo governo em nove meses, em um debate acalorado sobre o voto em eleições legislativas e com pedidos para que o presidente Emmanuel Macron renunciasse.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
A França tem vivenciado uma instabilidade política acentuada desde a perspectiva das eleições legislativas de 2024, com a ausência de maiorias parlamentares sólidas e em meio a um elevado endividamento público, atingindo quase 114% do PIB.
A recente crise culminou na queda do primeiro-ministro, François Bayroux, em sua tentativa de obter o apoio dos deputados ao seu plano orçamentário para 2026, que contemplava cortes de 44 bilhões de euros (51,6 bilhões de dólares, 279 bilhões de reais).
Leia também:

Presidente confirma deslocamento de 25 mil soldados em áreas da fronteira venezuelana

Governo da Espanha declara medidas para impedir o genocídio praticado por Israel em Gaza

Ações e valorização do peso caem após resultado eleitoral de Milei na Argentina
Bayrou, com 74 anos, optou por aceitar uma moção de confiança que foi derrotada. Foram 364 votos contrários, incluindo oposição de esquerda e extrema-direita, além de alguns parlamentares aliados ao governo; apenas 194 o apoiaram.
Você pode tentar derrubar o governo, mas não pode apagar a realidade”, afirmou inutilmente aos parlamentares, alertando-os, entre interrupções, sobre a situação de “emergência vital” enfrentada pela segunda maior economia da UE devido ao “superendividamento”.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
O 1ºMinistro Macron, desde 2022, deve formalizar sua renúncia na terça-feira, segundo informações de seu círculo próximo. Na noite de segunda-feira, deve reunir seu gabinete para uma reunião informal.
Próximas eleições?
O projeto de cortes, que compreendia a exclusão de dois feriados, intensificou o descontentamento social. Ontem, foram convocadas manifestações em frente às prefeituras para celebrar sua revogação.
Contudo, as autoridades monitoram um dia de manifestações na quarta-feira, motivado pelas redes sociais com o slogan “Vamos bloquear tudo”, e a greve “massiva” convocada para 18 de setembro pelos sindicatos.
Nesse cenário, a pressão recai sobre Macron, que possui diversas soluções possíveis, nenhuma delas isenta de riscos.
Marine Le Pen, líder de extrema-direita, opinou que Macron tem o dever moral de convocar eleições legislativas antecipadas.
Le Pen não poderia se candidatar às eleições devido a uma condenação com pena de inelegibilidade por desvio de fundos públicos europeus. Seu julgamento em segunda instância ocorrerá entre 13 de janeiro e 12 de fevereiro.
As pesquisas indicam que essas eleições resultariam em uma Assembleia dividida em três blocos — esquerda, centro-direita e extrema-direita — e sem maiorias estáveis, com ascensão do partido de Le Pen e queda do partido no poder.
Quem será o próximo primeiro-ministro?
Uma alternativa seria a designação de um novo chefe de governo, que enfrentaria o desafio notório de harmonizar as distintas exigências da oposição.
O presidente Macron defendeu, na semana passada, a busca por apoio à esquerda e a tentativa de atrair a oposição socialista ao governo atual, composto pela sua aliança centrista e pelo partido conservador Os Republicanos (LR).
“Estamos prontos, que venha nos buscar”, declarou nesta segunda-feira o deputado socialista Boris Vallaud, ressaltando, contudo, que agora cabe à “esquerda”, vencedora das eleições legislativas de 2024, formar o governo.
O ex-primeiro-ministro e deputado oficialista Gabriel Attal propôs, por sua vez, um “acordo de interesse comum” entre forças políticas durante os próximos 18 meses para superar o impasse até o final do mandato de Macron em 2027.
A possibilidade de renúncia do presidente francês, Emmanuel Macron.
Contudo, as diretrizes vermelhas e os vetores cruzados de cada grupo dificultam a garantia de uma maioria estável, considerando a pressão crescente nos mercados para que a França equilibre suas contas públicas.
A agência Fitch deve anunciar na próxima sexta-feira sua nova classificação da dívida soberana da França. Em março, alertou que rebaixaria a nota do país se o governo não conseguisse implementar um plano confiável para permitir a redução da dívida a médio prazo.
A instabilidade de um novo governo poderia resultar na renúncia de Macron, que já rejeitou a possibilidade, desejada por 64% dos franceses, conforme apurou uma pesquisa recente da Odoxa-Backbone, e que a esquerda radical defende.
Bayrou caiu (…); Macron agora está na linha de frente ao povo. Ele também deve ir embora, escreveu o líder esquerdista Jean-Luc Mélenchon na rede social X.
Fonte por: Carta Capital
Autor(a):
Pedro Santana
Ex-jogador de futebol profissional, Pedro Santana trocou os campos pela redação. Hoje, ele escreve análises detalhadas e bastidores de esportes, com um olhar único de quem já viveu o outro lado. Seus textos envolvem os leitores e criam discussões apaixonadas entre fãs.