Assembleia Nacional destitui o segundo governo da França em nove meses

Com a proximidade das eleições de 2024, o país enfrenta uma grave instabilidade política, sem maiorias parlamentares sólidas.

08/09/2025 15:00

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Assembleia Nacional destitui o segundo governo da França em nove meses
(Imagem de reprodução da internet).

A Assembleia Nacional da França rejeitou, na segunda-feira 8, seu segundo governo em nove meses, em um debate acalorado sobre o voto em eleições legislativas e com pedidos para que o presidente Emmanuel Macron renunciasse.

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A França tem vivenciado uma instabilidade política acentuada desde a perspectiva das eleições legislativas de 2024, com a ausência de maiorias parlamentares sólidas e em meio a um elevado endividamento público, atingindo quase 114% do PIB.

A recente crise culminou na queda do primeiro-ministro, François Bayroux, em sua tentativa de obter o apoio dos deputados ao seu plano orçamentário para 2026, que contemplava cortes de 44 bilhões de euros (51,6 bilhões de dólares, 279 bilhões de reais).

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Bayrou, com 74 anos, optou por aceitar uma moção de confiança que foi derrotada. Foram 364 votos contrários, incluindo oposição de esquerda e extrema-direita, além de alguns parlamentares aliados ao governo; apenas 194 o apoiaram.

Você pode tentar derrubar o governo, mas não pode apagar a realidade”, afirmou inutilmente aos parlamentares, alertando-os, entre interrupções, sobre a situação de “emergência vital” enfrentada pela segunda maior economia da UE devido ao “superendividamento”.

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O 1ºMinistro Macron, desde 2022, deve formalizar sua renúncia na terça-feira, segundo informações de seu círculo próximo. Na noite de segunda-feira, deve reunir seu gabinete para uma reunião informal.

Próximas eleições?

O projeto de cortes, que compreendia a exclusão de dois feriados, intensificou o descontentamento social. Ontem, foram convocadas manifestações em frente às prefeituras para celebrar sua revogação.

Contudo, as autoridades monitoram um dia de manifestações na quarta-feira, motivado pelas redes sociais com o slogan “Vamos bloquear tudo”, e a greve “massiva” convocada para 18 de setembro pelos sindicatos.

Nesse cenário, a pressão recai sobre Macron, que possui diversas soluções possíveis, nenhuma delas isenta de riscos.

Marine Le Pen, líder de extrema-direita, opinou que Macron tem o dever moral de convocar eleições legislativas antecipadas.

Le Pen não poderia se candidatar às eleições devido a uma condenação com pena de inelegibilidade por desvio de fundos públicos europeus. Seu julgamento em segunda instância ocorrerá entre 13 de janeiro e 12 de fevereiro.

As pesquisas indicam que essas eleições resultariam em uma Assembleia dividida em três blocos — esquerda, centro-direita e extrema-direita — e sem maiorias estáveis, com ascensão do partido de Le Pen e queda do partido no poder.

Quem será o próximo primeiro-ministro?

Uma alternativa seria a designação de um novo chefe de governo, que enfrentaria o desafio notório de harmonizar as distintas exigências da oposição.

O presidente Macron defendeu, na semana passada, a busca por apoio à esquerda e a tentativa de atrair a oposição socialista ao governo atual, composto pela sua aliança centrista e pelo partido conservador Os Republicanos (LR).

“Estamos prontos, que venha nos buscar”, declarou nesta segunda-feira o deputado socialista Boris Vallaud, ressaltando, contudo, que agora cabe à “esquerda”, vencedora das eleições legislativas de 2024, formar o governo.

O ex-primeiro-ministro e deputado oficialista Gabriel Attal propôs, por sua vez, um “acordo de interesse comum” entre forças políticas durante os próximos 18 meses para superar o impasse até o final do mandato de Macron em 2027.

A possibilidade de renúncia do presidente francês, Emmanuel Macron.

Contudo, as diretrizes vermelhas e os vetores cruzados de cada grupo dificultam a garantia de uma maioria estável, considerando a pressão crescente nos mercados para que a França equilibre suas contas públicas.

A agência Fitch deve anunciar na próxima sexta-feira sua nova classificação da dívida soberana da França. Em março, alertou que rebaixaria a nota do país se o governo não conseguisse implementar um plano confiável para permitir a redução da dívida a médio prazo.

A instabilidade de um novo governo poderia resultar na renúncia de Macron, que já rejeitou a possibilidade, desejada por 64% dos franceses, conforme apurou uma pesquisa recente da Odoxa-Backbone, e que a esquerda radical defende.

Bayrou caiu (…); Macron agora está na linha de frente ao povo. Ele também deve ir embora, escreveu o líder esquerdista Jean-Luc Mélenchon na rede social X.

Fonte por: Carta Capital

Autor(a):

Ex-jogador de futebol profissional, Pedro Santana trocou os campos pela redação. Hoje, ele escreve análises detalhadas e bastidores de esportes, com um olhar único de quem já viveu o outro lado. Seus textos envolvem os leitores e criam discussões apaixonadas entre fãs.