Redes sociais priorizam interações superficiais e competem pela atenção dos usuários por meio de vídeos de curta duração e sugestões programadas.
Em março de 2025, o Facebook lançou a aba Friends, um recurso que recupera a ideia de acompanhar apenas as publicações de amigos. Mark Zuckerberg definiu a novidade como “um retorno ao Facebook original”. A ação trouxe de volta o conceito que impulsionou a rede no início, embora tenha perdido importância ao longo do tempo.
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O lançamento ocorreu pouco antes do encerramento de um dos maiores processos antitruste contra grandes empresas de tecnologia nos Estados Unidos. A Comissão Federal de Comércio (FTC) acusava a Meta de monopólio nas redes pessoais em razão das aquisições do Instagram e do WhatsApp. A defesa, contudo, argumentou que o conceito de “rede social pessoal” perdeu relevância, uma vez que a maior parte do uso atual se concentra no consumo de conteúdos de contas não seguidas, denominados pela empresa como “conteúdo desconectado”.
Os dados internos da Meta confirmam a mudança. Apenas 7% do tempo no Instagram e 17% no Facebook se refere a interações com amigos. Testes indicaram que aumentar as publicações pessoais nos feeds diminuía o engajamento. Já os vídeos curtos e os conteúdos sugeridos estendiam a permanência dos usuários.
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Esse comportamento é ainda mais evidente entre os jovens da geração Z. Para conversas privadas, preferem aplicativos de mensagens. Para acompanhar conteúdos, recorrem a plataformas abertas.
A Meta investiu bilhões de dólares em algoritmos de recomendação e no Reels, em competição direta com o TikTok. As redes sociais se tornaram ambientes de consumo fragmentados, com a experiência moldada por inteligência artificial.
A utilização de chatbots e conteúdos gerados por inteligência artificial intensifica essa tendência, na qual o engajamento se traduz em tempo de visualização e frequência. O ponto crucial reside na retenção, cada vez mais disputada em frações de segundo de atenção.
Para Eduarda Camargo, Chief of Growth Officer da Port3 (P3), essa transição apresenta novos desafios. Observa-se a morte da rede social como espaço de amizade, com o social migrando para aplicativos de mensagens privadas e microcomunidades segmentadas. Nas plataformas abertas, o cenário é diferente: a disputa se concentra na atenção, que é volátil. O problema reside no fato de que a atenção superficial não gera impacto real. A próxima fronteira é transformar segundos dispersos em atenção qualificada, aquela que constrói recorrência, lembrança e confiança.
Camargo afirma que as empresas buscam investir em vídeos curtos devido à concentração do público ali. Contudo, se não souberem avaliar o valor além da simples visualização, incorrerão em um ciclo de inflação de conteúdo e cansaço do usuário. A inovação não reside em oferecer mais do que já existe, mas em desenvolver experiências que transformem o tempo gasto em valor reconhecido.
A fragmentação pode causar fadiga do usuário, permitindo o surgimento de novas comunidades digitais que agregam conteúdo, interação e experiências em um único ecossistema. Enquanto isso não ocorrer, as plataformas continuarão em mutação. As conexões pessoais se concentram em aplicativos de mensagens, e as redes sociais abertas se consolidam como arenas de algoritmos e disputa global por atenção.
Fonte por: Carta Capital
Autor(a):
Ambientalista desde sempre, Bianca Lemos se dedica a reportagens que inspiram mudanças e conscientizam sobre as questões ambientais. Com uma abordagem sensível e dados bem fundamentados, seus textos chamam a atenção para a urgência do cuidado com o planeta.